Cerco fechado às guloseimas

Decreto proíbe venda de doces dentro e fora das escolas públicas e particulares em Minas

Carlos Castro Jr. // Manoel Freitas
18/12/2018 às 07:20.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:37
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

A venda de doces nas portas das escolas está com os dias contados. Um decreto publicado pelo Estado na semana passada proíbe a venda de alimentos calóricos e ricos em açúcar tanto dentro quanto no entorno das instituições de ensino públicas e privadas. E o fim desta prática deve acontecer em até seis meses.

A medida chega para regulamentar uma lei de 2004 que prevê a promoção da educação alimentar no ambiente escolar. O motivo principal, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), é o “aumento expressivo nos casos de excesso de peso em todas as faixas etárias”.

Em Minas, o percentual de crianças de 5 a 10 anos que estão obesas saltou de 6,3%, em 2008, para 9,6% em 2015. Especialistas alertam para os riscos de doenças graves, uma vez que a maior parte dos hábitos alimentares é formada na infância e na adolescência.

Hoje, dentro das unidades de ensino públicas, a merenda é produzida de acordo com orientações nutricionais. No entanto, o comércio no entorno não é regulado.

Segundo Eryka Jovâ-nia, coordenadora do curso de Nutrição da Funorte, leis contra a venda de guloseimas em ambiente escolar aparecem com objetivo de proteger as crianças na fase mais importante do desenvolvimento.

“As guloseimas possuem excesso de açúcar e deixam as crianças propensas a obesidade infantil, diabetes, além de criar intolerância ao corante. Tudo isso na fase em que a criança mais precisa de vitaminas saudáveis, que vão favorecer o crescimento”, afirmou Eryka Jovânia.
 
FECHANDO
As famosas “lojinhas de balas” próximas das escolas já estão fechando gradualmente há alguns anos. Ambulantes, no entanto, vão todos os dias para as portas das escolas. A convivência diária com os alunos produz diversos sentimentos. Com o tempo, tornam-se amigos das crianças, dos pais e da escola. Em alguns casos, eles são convidados para eventos nas instituições.

José de Jesus Santos, de 59 anos, percorre há 33 as ruas da cidade para vender pipoca e outros doces. A ideia é sempre ficar em locais estratégicos para comercializar as guloseimas – e a porta das escolas é um dos locais de maior venda. Ele conta que ainda não sabe o que vai fazer caso seja impedido de trabalhar.

“A gente acaba fazendo amizade com o pessoal da escola, com os pais. É meu ganha-pão e isso me pegou de surpresa”, disse.

Já Valdeci Duarte, de 50 anos, vende algodão-doce. Ele trabalha com o comércio de guloseimas há pelo menos 20 anos. “Se determinar, a gente tem que obedecer. Mas proibido pra mim é roubar. A gente tá é trabalhando”.

O pai de Benício Calheiros, de 7 anos, Willian Calheiros, saiu em defesa dos ambulantes. “Eles não podem parar de trabalhar. É para a sobrevivência deles. E as crianças também gostam. Meu filho já sai e quer vir aqui”.

Para substituir as guloseimas nas lancheiras e lanchonetes das escolas, bolos caseiros, saladas de frutas, vitaminas, iogurte, frutas e sucos naturais. Segundo a responsável técnica pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar em Minas, Tatiane Guimarães, um regulamento que lista todos os alimentos permitidos e restritos será publicado nas próximas semanas.
 
INCENTIVO
Ainda de acordo com a nutricionista Eryka Jovânia, o colégio Ímpar, de Montes Claros, em parceria com os acadêmicos do curso de nutrição da Funorte, realizam na instituição o Dia da Fruta.

O alimento saudável é utilizado em diversas atividades pedagógicas, que explicam todos os benefícios, mas em um dia da semana, os alunos levam frutas para consumo.

Já a Escola Estadual Dom João Antônio Pimenta desenvolve, há dois anos, o projeto “Lancheira Saudável”. As escolas públicas não podem comercializar alimentos, mas a instituição trabalha fiscalizando o lanche que os alunos levam para a escola.

De acordo com a diretora Lea Lopes, inicialmente os pais são alertados em uma reunião. Os lanches são monitorados e sempre que um estudante leva algum alimento considerado não saudável, um comunicado é enviado aos pais alertando sobre o projeto e solicitando a colaboração.

“Nós fazemos esse trabalho pela conscientização, para contribuir com esse processo de formação da criança. Então, nós chamamos os pais e explicamos a intenção. É muito prático mandar um refrigerante, por exemplo. Então nós mostramos o que isso pode causar na saúde da criança”. Mensalmente a escola envia um cardápio com os lanches do dia.
(Com Raul Mariano e Malú Damázio)

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