Igreja Anglicana abre as portas para a união homoafetiva

Casamento de Diego e Jhonata será o primeiro do Estado realizado pela instituição

Manoel Freitas
28/12/2018 às 06:28.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:46
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Quatro meses depois que a Defensoria Pública de Minas Gerais promoveu em Cataguases um casamento comunitário com 86 casais, dentre os quais dois homoafetivos, em culto ecumênico realizado pela Assembleia de Deus, a Igreja Anglicana vai celebrar o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo em Montes Claros – será o primeiro também realizado pela instituição religiosa em Minas.

Casamento homossexual, gay ou homoafetivo, não importa o nome, o certo mesmo é que em 12 de janeiro, nove dias após sacramentarem a união em cartório, os jovens Jhonata Gabriel Rodrigues Nogueira, de 19 anos, e João Diego Gesuíno, de 23, estarão fazendo história.

O confeiteiro João Diego teve que percorrer os 1.719 km que separam Junco do Seridó, na Paraíba, com população de pouco mais de 7 mil habitantes, até Montes Claros, para conhecer, há um ano e quatro meses, o então Aprendiz Legal de uma empresa de telemarketing Jhonata Gabriel, da igualmente pacata cidade de Botumirim, de 6.500 habitantes.

E eles contam que foi amor à primeira vista. Os dois, que até então se relacionavam com mulheres, não apenas passaram a viver juntos, como abriram em sociedade uma casa especializada em bolos.

Para romperem paradigmas, mesmo com a pouca idade, tiveram que ter força de gente grande. O primeiro obstáculo ocorreu dois meses antes do início do namoro, quando, temendo a violência de homofóbicos, eram obrigados a transitar em calçadas distintas na mesma rua. Na sequência, Diego teve que vender água mineral e bolo no pote em semáforos para sobreviver.

Momento duplamente difícil porque, nas ruas, o paraibano disse que era frequentemente humilhado pelos antigos irmãos de uma igreja evangélica. “Eles passavam por nós de cabeça baixa, porque o protestante falou que todos que estivessem próximos de nós seriam amaldiçoados, que nós éramos amaldiçoados e que não iríamos prosperar. Ficamos mal mesmo”, lembra João Diego.
 
SUPERAÇÃO
Na atualidade, trabalhando inclusive aos sábados e domingos, o estudante de Engenharia civil Jhonata Gabriel cuida das finanças e João Diego da fabricação de bolos da confeitaria que rende a eles uma vida digna.

Além de melhor qualidade de vida, o confeiteiro que se prepara para o vestibular de gastronomia revela que o negócio permitiu economia necessária para cobrir os gastos com as cerimônias de casamento no civil e no religioso.

Nascido no distrito de Adão Colares, distante 170 km de Montes Claros, Jhonata conta com alegria que a família fretou um ônibus para acompanhar a celebração religiosa em 12 de janeiro. “Quase todos são evangélicos: meus avós, meus tios”, diz com euforia. “Eles gostam muito do Diego e isso me deixa muito contente”.

Já a família de Diego não virá “em peso”, porque, além da distância, sua “mãinha”, Maria Cilene Mota, de apenas 38 anos, tem a saúde debilitada. Ela trata de um câncer e não pode fazer grandes deslocamentos, e precisa da presença do marido, Damião Manoel, de 44 anos. “Mas uma parte vai estar presente”, afirma Diego.

Reverendo prega amor e tolerância
O reverendo Daniel Santos Ramos, responsável por gerir as ações da Igreja Anglicana no Norte de Minas há quase seis anos, afirma que o processo de aceitação do casamento homoafetivo nasce após um concílio na sede, que fica na Inglaterra, definir como prioridade a inserção do homoafetivo na Igreja e da mulher no clero.

“A Igreja passou por um processo de inclusão, em que foi definido a necessidade de incluir essa realidade, sendo pioneira na Europa e depois na América do Norte. E nós aqui entendemos, como parte da instituição, que o que foi acordado no concílio está válido, como está dentro dos padrões de reconhecimento do país, que os reconhece como união estável. Nós como instituição acreditamos no movimento, abraçamos a causa e queremos retirá-los da margem”, disse o reverendo.

Daniel contou ainda que o casal não precisa necessariamente fazer parte da Igreja Anglicana para se casar nela. “O casal em si não é necessariamente da nossa Igreja. Isso não é uma prerrogativa. O nosso intuito não é divulgação religiosa, mas sim trazer um conforto espiritual e social às pessoas. Acreditamos que a motivação de tudo parte do amor, da tolerância, do perdão e de se colocar na pessoa de Jesus”, completa o reverendo.

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