Nairlan Clayton Barbosa
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Agora é a vez do Itaú fechar com a CBF uma cifra milionária para ser “patrocinador oficial da seleção brasileira”. Depois da Nike, da Tam e outros aí, chegou a vez do banco multinacional explorar o produto “seleção brasileira” até o ano de 2014, ano evidentemente da copa do mundo no Brasil.
Claro que no mercado atual, o que coordena é o capitalismo crescente e galopante no cenário global. Óbvio que, entre “marqueteiros” e analistas de mercado, o mundo gira e o que tem comandado os rumos da política-monetária mundial tem sido exatamente as grandes parcerias financeiras entre os grupos fortes do comércio ativo e operante do sistema.
Mas, não sei porque, mesmo não tendo vivido a experiência do passado, onde o futebol era jogado pelo prazer de se jogar, pela vontade de se estar nos campos de pelada, invade-me uma nostalgia deste período, em que dinheiro era o de menos, prazer era o de mais.
E o que tem o prazer de se estar nos campinhos feitos pelos amigos em forma de mutirão, onde um levava um pedaço de pau para ser a trave e o outro levava uma foice para cerrar o mato que cobria o lote vago, sim, o que tem isso haver com cifras milionárias da confederação com um banco que evidentemente só quer saber de “investir e obter retorno líquido e certo”?
Bom, sem querer agora bancar o filósofo, mesmo por que não reúno neste modesto amontoado de neurônios os requisitos para tal, quero ao menos como um cidadão observador chegar a uma pequena análise destes saudosos tempos idos com os atuais.
Parodiando o célebre compositor carioca Nei Lopes afirmo que “no tempo em que Don-don jogava no Andaraí”, ou, no tempo de Garrincha, Nilton Santos, Pelé (primeira parte quando ele era pobre e não atuava no Cosmos de Nova Iorque), Nilson Espoletão, Onofre Carne Preta, Gontijo e Marcelino, não havia cifras no futebol.
Era tudo pela paixão mesmo. E quando é tudo pela paixão, é bem mais gostoso. Com amor é mais gostoso! Sem amor, vira obrigação, não é mesmo?
E, pior, quando as cifras entram em operação, perde-se o gracejo, a utopia e a beleza do futebol.
Fico extremamente constrangido em falar que na minha concepção saudosista não deveria existir CBF, não deveria existir Rede Globo, ou não deveria existir Sport TV, Banco Itaú, Guaraná Antarctica, Ambev, Havaianas, Band, Record, ou alguma coisa que injetasse as cifras nas mãos dos que comandam esse esporte apaixonante e apaixonado.
Fico triste, ao invés de ser tomado pela alegria quando leio que o dinheiro do Itaú patrocinará a entidade máxima do futebol brasileiro nos próximos anos.
Bate-me a angústia em saber que estas mesmas cifras que mantêm o futebol no Brasil, serão mais um motivo para que a paixão acabe. E fique a dolorosa injeção do vil metal coordenando os rumos das partidas, dos clubes, dos jogadores e, é claro, invadindo o torcedor de uma revolta indignante onde nem sempre ele verá o melhor vencendo, mas sim, aquele que for mais interessante para dos donos da bola, ou os que pagam a fabricação do couro que a reveste.
Triste capitalismo, que salva uns da miséria, e enterra outros na amargura e tristeza profunda de ver o futebol cada vez mais se distanciando do futebol, para virar números no mercado e na bolsa de valores mundial.
