Nairlan Clayton Barbosa
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Para quem transmite futebol e está por volta e meia presente nos estádios desta vida, não há como não ter, quando em vez, uma história engraçada para contar.
Comigo não seria diferente. E não foi! Em tão pouco tempo de “militância” no meio futebolístico, já me ocorreram alguns fatos, que, francamente, seria um desperdício não conta-los e partilha-los com você, leitor, que saboreia sempre um episódio engraçado na vida, afinal de contas, a vida é bem melhor com sorriso.
Pois bem, vamos ao “causo” em si.
No último campeonato mineiro, fui escalado para narrar a primeira partida da final entre Atlético e Cruzeiro, aliás, doeu-me ter que narrar cinco fatídicos gols em cima do Galo de BH, uma vez que todos sabem da minha paixão por este clube centenário. Mas, o que se poderia fazer se o azul celeste era superior e mereceu a vitória, não é mesmo? Paciência!
Mas, atenhamo-nos ao assunto.
Pois bem, como todos sabem, nós que gozamos do privilégio de trabalhar em emissoras de rádio do interior, não temos a mesma sorte que as rádios das capitais tem, pois, pela manhã no Mineirão vão apenas os técnicos montar os equipamentos de transmissão. Os narradores e repórteres esportivos chegam e encontram tudo certo e pronto para a transmissão. Há, nós, do interior, que viajamos em número reduzido para fazer o jogo, resta a missão de bater o escanteio e correr para cabecear a bola em direção ao gol, ou seja, somos narradores e técnicos de eletrônica. Repórteres e desemboladores de fios, comentaristas e carregadores de maletas de transmissão e assim por diante.
Sendo assim, naquele fatídico jogo para a nação alvinegra, viajávamos eu, que seria o narrador, também viajava o comentarista, o nosso suporte técnico e também o repórter que faz a cobertura do cruzeiro, a quem daremos o nome nesta matéria de “Profeta”, pois o seu nome é homônimo de um profeta bíblico.
Pois bem, lá estávamos nós montando os equipamentos, e como a distância entre as cabines do Mineirão e o gramado aproxima-se dos 180 metros, utilizamos “Walk-talks” para nos comunicarmos à distância. Para quem não sabe, são aqueles radinhos que servem para se comunicar em determinada freqüência a longa distância, muito utilizado por seguranças em grandes eventos.
Bom, nós escolhemos a freqüência 3 para nos comunicar enquanto montávamos os aparatos de transmissão. O “Profeta” também estava lá nos ajudando, e, sempre olhando em volta de um lado e de outro para o templo maior do futebol mineiro, enquanto vazio. No final da tarde, o estádio já estava lotado, metade de cruzeirenses, metade de apaixonados alvinegros para aquele espetáculo que seria o primeiro jogo da finalíssima do mineiro de 2008.
Quando chegou a hora de descer para o estádio, o “Profeta” mal se continha para ir logo pisar o gramado do gigante da Pampulha, desta vez na companhia dos grandes astros dos times da capital, bem como estar ali lado a lado com aqueles que durante toda a sua infância, permearam o imaginário do nosso “Profeta” através das ondas do rádio.
Olhando assim para o meu amigo de profissão, imaginei que ele fosse ficar emocionado de estar ali, mas não imaginei o que estava por vir.
Bem, estádio lotado, 15 minutos para começar a partida e eu, depois de fazer a abertura chamo o repórter em campo.
– Quais as informações daí do gramado “Profeta”?
Um silêncio mórbido nas ondas do rádio.
Só ouvia-se o barulho ensurdecedor das duas torcidas, nada mais.
- E como vem escalada a seleção azul, “Profeta”?
Nada! Completamente emudecido.
Tentamos falar com o repórter “Profeta” pelo celular, que estava desligado. Tentamos pelos “walk-talks” que não respondiam também. Nos preocupamos, toda a equipe com o desaparecimento do repórter “Profeta” em campo.
Quando o jogo já havia começado e nosso suporte técnico desceu em campo para ver o que tinha acontecido, comigo segurando a peteca na narração apenas com o comentarista, a surpresa foi interessante, mas foi grata.
Completamente alheio à partida e ao microfone, que nem mesmo ele sabia onde tinha posto, nosso repórter “Profeta” olhava, boquiaberto, para Roberto Abras, falando aos ouvintes da Rádio Itatiaia. E também para o repórter Álvaro Damião que fazia a cobertura esportiva do cruzeiro naquela ocasião.
Nosso “Profeta” entrou em transe. Calou. Emudeceu! De sua boca, que tanto falava em outras narrações esportivas, não se ouvia nenhum som, mas apenas a concentração intrínseca nas palavras daqueles que permearam a infância do nosso colega, e que agora ele estava tendo a oportunidade de ver ali, cara-a-cara, corpo-a-corpo. E imaginemos o filme que se passou na cabeça do repórter “Profeta” naquela tarde de março.
Ele está perdoado. Nós entendemos! Mas a partir dali, tomamos todo o cuidado possível para não “batizar” nossos repórteres esportivos em eventos dessa envergadura, pois senão iremos correr o risco de sermos surpreendidos com diversos transes daqueles que, se curvam, pedem a benção, para esta paixão interminável que move os corações de ricos e pobres em todo mundo: O bom e velho Futebol!
Ave!!!
NO BLOG: O post completo “ Ateneu x Cassimiro – uma partida no céu” trazendo o final da partida memorável acontecida no céu entre essas equipes.
AQUELE ABRAÇO: Agradecimentos ao Crônista Esportivo “Sérgio Bastos” da Rádio Terra por lembrar de nosso post “Ateneu X Cassimiro – uma partida no céu” em seu programa diário. E por ter deixado palavras de incentivo a nós no blog Sapatada na Rechonchuda na internet.
