Sapatada na rechonchuda: E o animal chorou... - por Nairlan Clayton Barbosa

Jornal O Norte
Publicado em 08/09/2008 às 10:13.Atualizado em 15/11/2021 às 07:43.

Nairlan Clayton Barbosa


www.sapatada.blogspot.com



Desde quando o narrador esportivo Osmar Santos, da Rádio Globo AM, do Rio de Janeiro apelidou o jogador Edmundo pela alcunha de “Animal”, este sempre fez jus ao nome.



Encrenqueiro de primeira linha, Edmundo protagonizou dentro e fora de campo sempre os melhores embates, as melhores brigas, fossem elas físicas, emocionais ou verbais com seus companheiros ou adversários.



Edmundo passou pelo Palmeiras, onde agradou a torcida com seu jeito de jogar irreverente e às vezes até provocativo, mas gostoso de se ver. Passou pelo Cruzeiro, meio apagado, mas com um bom futebol e sobretudo não comprometedor. Passou pelo Mengão da mesma maneira. Mas onde ele fixou seu coração foi mesmo no Vasco da Gama.



Ali, foi onde a torcida o acolheu, como quem acolhe um filho a sua casa. Como quem recebe um novo membro da família.



Edmundo é um remanescente do futebol gostoso. Do futebol malandro. De uma época onde não se ganhava dinheiro às pampas. Ganhava-se prestígio e alegria de viver para as torcidas. E um bocadinho de dinheiro apenas.



E ali, no clube Cruz-maltino de São Januário, ele viveu como ninguém a alegria de ser um jogador da torcida, aquele que vez por outra, carrega o clube nas costas e assume a responsabilidade de ser o homem que pode ( ou não ) resolver os problemas do time.



Pois bem, em função de mandos e desmandos de sua diretoria anterior, o Vasco neste ano é um clube fragilizado. Acabou-se a era Eurico Miranda e com ela acabou-se o Vasco da empolgação. O Vasco do oba-oba. E os jogadores do Vasco dormiram ricos e acordaram pobres com a nova administração de Roberto Dinamite, que os levou a uma realidade nada animadora.



Apesar dos salários atrasados, e apesar dos mandos e desmandos e de uma realidade dura, nua e crua, Edmundo ali permaneceu, fiel a seus princípios, e não abandonou o barco. Não abandonou sua torcida e não abandonou o clube que o reacolheu depois dos seus dias de glória.



E ontem, depois de tombar ante o Cruzeiro, dentro de seus domínios e na presença de sua torcida, Edmundo mais uma vez protagonizou um episódio.



Só que desta vez não foi um acidente na lagoa Rodrigo de Freitas por excesso de velocidade.



Não foram as rusgas intermináveis com Romário no Vasco e no Flamengo.



As declarações animalescas contra companheiros ou contra seus comandantes dentro de campo.



Ontem foi o episódio do amor ao clube, da experiência da serenidade que é necessária passar aos companheiros, de segurar a peteca, de carregar o piano, de assumir o lugar de líder.



Ontem Edmundo foi deveras “Animal”, valente, e mais do que animal, ele foi um homem de brio dentro de campo.



Depois de ir para o gol, após a expulsão do goleiro, levar um gol de pênalti de Guilherme, e encerrar uma partida massacrado, pedindo pelo amor de Deus para o jogo acabar, Edmundo chorou..



Mas o choro do animal não foi por uma derrota, de um Vasco ruim das pernas para o terceiro colocado do campeonato.



O choro do animal foi o lamento de uma torcida. Que sofreu e sofre com a falta de apoio dos dirigentes ao seu clube, a instituição que representa o Vasco da Gama.



E por isso devemos respeitar o protesto do Edmundo.



Não foi choro de Bebê, nem choro de perdedor.



Foi Choro de quem sabe que chegou ao fundo do poço como equipe. Que precisa de mais do que forças para erguer um time que está cambaleando, indo para o matadouro por conta dos mandos e desmandos de uma diretoria que estava muito mais interessada nela do que na instituição propriamente dita.



O Choro do Edmundo foi o choro de uma nação, inconformada com a situação do seu clube e sobretudo, afogada nas tristezas de cada derrota pífia que sofre.



Serve de exemplo para clubes que, voltados para o próprio ego dos seus dirigentes, acabam, naufragam e se tornam meros recortes de jornais



O choro de Edmundo foi sofrido. Mas foi Choro de homem!

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