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Terça-Feira,1 de Julho

Pesquisador Funorte

Jornal O Norte
Publicado em 29/07/2011 às 19:02.Atualizado em 15/11/2021 às 17:32.

ANA KARIENINA


Repórter



Uma pioneira da fonoaudiologia em Montes Claros e no Norte de Minas, a professora Luiza Rossi enfrentou inúmeros percalços por amor à profissão. Em entrevista ao O Norte ela fala sobre as dificuldades encontradas ao longo da carreira, mas principalmente sobre as conquistas e sobre o prazer de ensinar, de pesquisar. Luiza também é uma apaixonada pelas orquídeas, que também se transformaram em objeto de estudo.



O COMEÇO



Formei-me em Fonoaudiologia pela Universidade Católica de Petrópolis – RJ em 1978. Fiz vestibular para Fonoaudiologia e Direito, passei em ambos. E, apesar da profissão de fonoaudiólogo, naquela época, não ser reconhecida, não tive dúvidas em fazer o curso. A Fonoaudiologia não trabalha apenas com a fala, conforme eu imaginava, mas também com a voz, audição, linguagem, psicomotricidade.



Neste período de estudos as dificuldades foram muitas, mas nada que me fizesse desistir.  Tanto eu, quanto toda a classe fonoaudiológica, tivemos muitas lutas, principalmente ao que se refere ao reconhecimento da profissão que aconteceu, somente, em dezembro de 1981. Outra dificuldade é referente ao material de estudo. Livros em português eram raríssimos! A primeira publicação fonoaudiológica brasileira foi em 1969 e a segunda em 1971, esta última uma relíquia em minha biblioteca. Na década de 70 existiam apenas 23 publicações. Estudávamos em livros em espanhol, francês ou inglês. Internet? Não existia disponível.



Também tive dificuldade em relação às trocas de experiências com colegas, pois não havia outros fonoaudiólogos na cidade nem na região norte mineira.






SONHOS



Um dos meus sonhos, ao formar, era entrar para a Marinha, mas quis o destino que viesse para Montes Claros, com isso outro sonho ficou distante: o mestrado e doutorado. Na época, a pós-graduação strito senso na área era em São Paulo ou fora do país.






ENSINANDO



Provavelmente, o diferencial para ingressar como professora no curso de Odontologia da Unimontes, em agosto de 2000, foi possuir em meu currículo a especialização em Motricidade Orofacial, uma área da Fonoaudiologia que trabalha as funções motoras (fala, mastigação, deglutição, sucção).



No final do mesmo ano fiz um curso sobre Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) e fui convidada para ministrar aulas no curso de Medicina da própria Unimontes.



Sobre a carreira de pesquisadora, ao ingressar na academia, as oportunidades para pesquisar foram cada vez mais se consolidando através do contato com os demais profissionais e, também, com os acadêmicos.



Depois veio a Funorte. O curso de Fonoaudiologia nas Faculdades Unidas do Norte de Minas - Funorte, nasceu em 2004, o primeiro na região norte-mineira. Fui convidada para coordená-lo. Posteriormente, em 2005, foi implantado o curso de Medicina e fui chamada para fazer parte do corpo docente. Atualmente, também participo do Prociência, um programa de iniciação científica para acadêmicos da área médica da Funorte.



E gostei tanto de ensinar que deixei o consultório para me dedicar exclusivamente à docência. Estou agora, exclusivamente, como professora da Unimontes e Funorte.


 



VIDA



Conheci meu marido em 1972. Ele fazia Medicina em Juiz de Fora e ao terminar o curso foi transferido para Montes Claros, para servir o exército. Isso em 1978. Veio para ficar um ano e voltar, mas gostou do lugar e me perguntou se não gostaria de aqui morar. Visitei a cidade e me apaixonei com a hospitalidade norte-mineira e a beleza exótica da região.



Casamos em fevereiro de 1979 e tivemos três filhos: Bruno (médico), Mirna (fonoaudióloga) e Flávia (turismóloga). E já temos um, o Raul. Todos montes-clarenses.






PESQUISANDO



Hoje faço pesquisa não só na área fonoaudiológica (fala, voz, motricidade oral e audição), mas na área da saúde, pois fiz o mestrado em Ciências da Saúde e estou fazendo o doutorado na mesma linha.



Os desafios que enfrentei e enfrento são na área da Fonoaudiologia. Por ser uma profissão nova, ainda faltam protocolos validados e mais pesquisas para os problemas fonoaudiológicos, em especial na região norte-mineira.



Também realizo, por hobby, pesquisas sobre orquídeas.



Dentre os trabalhos já desenvolvidos, a pesquisa sobre a Comunicação não verbal na assistência médica foi relevante, pois confirmou a sua importância para uma boa terapêutica. O estudo sobre o Protocolo de Saúde Auditiva foi, para mim, igualmente importante, pois com ele pode-se verificar as satisfações e insatisfações dos usuários de aparelho auditivo. A pesquisa de Mestrado também foi gratificante por adequar um teste de rastreamento de fala conforme a variação linguística da região norte-mineira.



Tais pesquisas permitem a melhoria da prática na área da saúde e dos serviços prestados à população.






LIÇÕES



Além de compartilhar com meus alunos os conhecimentos técnicos, me preocupo com a formação humana desses futuros profissionais. Tento mostrar a eles, a importância de se ter uma atitude humanista, de saber se comunicar com o outro, não só por meio da fala, mas também pelas expressões não verbais e atitudes. Um olhar, um sorriso, um aperto de mão são imprescindíveis.



Também procuro despertar neles o gosto pela pesquisa. Comento sobre a relevância de novas descobertas baseadas em evidências, não podemos ficar no achismo.


 



EDUCAÇÃO NO BRASIL



Cresci ouvindo de meus pais a seguinte máxima: “O saber não ocupa lugar.” Existe um desejo natural do ser humano em aprender cada vez mais, e dizem que esta curiosidade é o fator mais marcante da nossa evolução.



Mas, não há como falar de ensino superior sem questionarmos a qualidade do ensino fundamental e médio. Podemos comparar com a construção de um edifício: sem uma base sólida e estruturada, os erros aparecerão ao subirem os andares superiores. Acredito que temos muito que melhorar nesta etapa, no Brasil.



Sobre o próprio ensino superior, é dever de o Estado estabelecer políticas que possam garantir a facilidade de acesso a todos os indivíduos, para que se tenham alunos com conhecimentos adequados e assim propiciar a formação de profissionais competentes. Há um crescente aumento de jovens cursando o ensino superior com incentivos dados pelo governo e também em função do aumento de poder aquisitivo da população. Acrescento que vejo com bons olhos os programas voltados às pesquisas.






FUTURO



Estou fazendo o doutorado em Ciência da Saúde pela Unimontes, realizando um sonho de quando me formei.  Pretendo realizar mais e mais pesquisas com intuito de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, em especial dos norte-mineiros, além de continuar incentivando nos acadêmicos o gosto pela pesquisa.



Quero continuar pesquisando sobre orquídeas. Meu desejo em relação a elas, é repovoar as áreas de preservação com espécimes da região, embelezando a cidade, e evitar o extrativismo danoso produzindo exemplares por meio da reprodução in vitro.






SEGREDOS DE UM PESQUISADOR



Acredito que um bom pesquisador precisa ter paixão pelo conhecimento; ser curioso para identificar um problema e procurar resolvê-lo; ser perseverante; ter habilidade em se comunicar para mostrar sua criação e saber trabalhar em equipe (interdisciplinaridade).



Por isso, para quem está dando os primeiros passos na pesquisa, recomendo que durante o trajeto da graduação procurem fazer Iniciação Científica, que é um excelente instrumento de formação. Lembrando que há necessidade de ser perseverante, pois pesquisar requer paciência. Conforme Thomas Alva Edison disse “Gênio é 1% de inspiração e 99% transpiração”, mas eu retifico dizendo que não é tanto suor, apenas 90% (risos).

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