Heberth Halley
Repórter
Na manhã desta sexta-feira, no Cantinflas Bar, o jornalista esportivo do Jornal de Notícias, George Nande Pereira dos Santos, 44 anos, concedeu entrevista sobre seus 29 anos de jornalismo dedicados ao esporte.
Nande, como é carinhosamente chamado pelos amigos, conta que, antes mesmo do surgimento do Jornal do Norte, em 19 de maio de 1979, aos 17 anos, conseguiu um emprego como contínuo através de sua mãe, dona Violeta, que na época lavava roupa para o proprietário do jornal Américo Martins Filho, que era sócio com Tone Santos, e pediu um emprego para o filho. Nande lembra que na época os diretores do jornal chamaram o editor Robson Costa, natural de Mirabela para organizar e lançar o jornal. Recorda ainda que fazia de tudo um pouco. De servir cafezinho a serviço de banco.
George Nande criou a coluna Tapetão e
ganhou vários prêmios
George Nande recebe do seu editor preferido, Felipe Gabrich, o troféu Bola Cheia Marcelino Paz do Nascimento como melhor jornalista esportivo de Montes Claros
Aqui, ao lado do professor Jaime Tolentino durante
cobertura da II copa Montes Claros de futsal
O tempo foi passando, e Nande, que desde os tempos de estudante na Escola Polivalente, era apaixonado por leitura, começou a descobrir sua vocação pela escrita. Fazia, na época, alguns textos, mas não na área do esporte.
Certo dia, conta, que o então repórter da editoria de esportes, Sidney Cruz, saiu do jornal, e o então editor Jota Matias, chamou Nande – que já era envolvido com esporte, da qual jogava futebol em equipes como o Santos, Vila Ipê, Cruzeirinho, União, entre outras – para assumir o lugar deixado por Sidney Cruz, que recentemente tomou a frente da gerência de comunicação da prefeitura de Montes Claros.
George Nande começa então a fazer a sua história como um dos melhores jornalistas esportivos de Montes Claros. Mas, mesmo escrevendo, ainda mantinha outras funções como diagramador da qual aprendeu com o saudoso Jorge Santos, tipógrafo, trabalhava também como clichê e ainda como contínuo.
JORNAL DO NORTE
Em 1981, chega no Jornal do Norte para assumir a editoria geral Felipe Gabrich. Ele declara que foi nessa época que se firmou mesmo como jornalista.
- Gabrich foi um paizão, viu que eu tinha potencial, e aumentou meu salário, e me firmei de vez como jornalista esportivo – conta Nande.
Nande recorda que fazia cobertura de todos os jogos e campeonatos da cidade como varzeano, amador, olimpíadas operárias, olibamoc, copa das indústrias.
- Aonde tinha esporte, estava eu estava lá – conta.
O Jornal do Norte começou a passar por dificuldades financeiras em no ano de 1984, Arlen Santiago, Paulo César Santiago e Arlen Santiago Filho compram o Diário de Montes Claros e convida Felipe Gabrich para ser o editor. E para montar uma equipe de jornalismo, dentre eles estava George Nande.
- Felipe Gabrich me chamou, mas nem tanto para escrever e sim para diagramar, pois também sabia diagramar – revela.
Nande diz que na época teve a oportunidade de mostrar sua veia criativa, e mostrou uma cara nova no designer do jornal, com fatos e coisas novas. Disse que tentou buscar inventar coisas novas para o jornalismo montes-clarense.
TAPETÃO
No mesmo ano, o repórter Gilberto Ribeiro, foi para a editoria de política e aí imediatamente Nande foi para a editoria de esportes. Mas conta que o tchan mesmo aconteceu quando criou a coluna Tapetão.
- Estava cansado de ver aqueles comentários grandes e inclusive Jota Matias e Robson Costa sempre diziam para eu escrever menos, pois as pessoas têm preguiça de ler. Foi então que resolvi criar a coluna Tapetão, em forma de tópicos menores. O nome se veio devido aquele negócio do jogo ir para o tapetão. A estréia foi em 25 de julho de 1985. Foi uma verdadeira coqueluche da época, muita gente lia – conta Nande que recorda ainda que o Diário de Montes Claros realizou uma pesquisa para saber qual era o jornal e a coluna mais lida da época.
- A minha coluna foi eleita a mais lida – conta.
Com o estrondoso sucesso Nande ganha todos os prêmios da época, como prêmio Sol, Medalha Deusdará como melhor jornalista esportivo. Além desse, ganha outros prêmios como Destaque Jovem promovido por Theodomiro Paulino, Prêmio Projeção de João Jorge, Troféu Bola Cheia Marcelino Paz do Nascimento como melhor jornalista esportivo, entre tantos outros.
O cronista esportivo se lembra também que com o resultado, o jornal passou a dar totais condições de trabalho aos repórteres.
- Lembro que na época dos Jimis em Moc, eu ia aos jogos, fazia as matérias e voltava para as quadras à noite já com o jornal impresso que sairia no outro dia e mostrava aos jogadores e comissão técnica das equipes – conta.
George Nande, que declara seu amor ao Atlético, conta que sempre ganhava as camisas de times de futebol da várzea e amador e que diante de coleções de camisas, começou a trabalhar com elas como uma forma de homenageá-los.
SAIA JUSTA
Durante esse tempo como jornalista, Nande diz que sempre aconteceu fatos que o deixaram de saia justa. Uma delas foi a vez que foi conduzido a fazer uma matéria sobre a ELA Transportes que se implantava na cidade. Nande faz a matéria e escreveu que ELA significava Edna, Leobina e Anália, três mulheres das noites da cidade montes-clarense. Mas na verdade ELA eram as iniciais das esposas dos empresários donos da empresa.
Anos depois, Jota Matias monta uma equipe de esportes na rádio Educadora e chama George Nande para fazer parte. Um dos repórteres Diu Andrade, hoje presidente da LMF – Liga montes-clarense de futebol, diz que Nande seria o narrador e pede para ele fazer um teste, na época Jadir Santos que era da parte técnica disse que Nande seria mesmo o narrador. Além deles a equipe era formada por Gustavo Mameluque e Cosme Silva. Na sua estréia como narrador em Janaúba, num jogo do Ateneu pelo campeonato mineiro da segunda divisão, Nande teve uma indigestão e estava tudo pronto para começar o jogo, mas a Telemig, empresa de telefonia da época, não conseguiu colocar a rádio no ar e a estréia ficou para depois. Nande se sentiu aliviado por não ter que narrar com dores estomacais.
Uma semana depois, no estádio João Rebello, Ateneu e Sete de Setembro, Nande enfim faz sua estréia como narrador. Ainda por cima o Ateneu vence por 3 a 2, com três gols de Marquinhos Besourão.
Outro fato inusitado aconteceu quando narrava um jogo decisivo no campo do Delfino, mas após alguns minutos de jogo, não conseguia enxergar mais os jogadores devido ao número de torcedores que em todo momento invadiam o campo. Conta ele que começou a narrar fatos fora do jogo, como quantos picolés que o vendedor vendia. Nande fica pouco mais de ano na rádio. Em lugar entra Alfeu Soares.
IMPRESSO
No jornal impresso Nande segue escrevendo. Felipe Gabrich montou uma boa equipe de jornalismo e o jornal O Independente, mas lembra que não tinha estrutura para permanecer.
Voltou para o Jornal do Norte, e mais tarde para o Diário de Montes Claros. Mas após algumas conversas os dois meios de comunicação fazem uma fusão e criam o Jornal do Norte de Minas, sob a diretoria de Tadeu Leite e Américo Martins. Após passar como editores Eustáquio Narciso, José Wilson Santos, Reginauro Silva e Manoel Freitas, o diretor do jornal, Elton Jackson convida George Nande para assumir a editoria geral. Lá fica por 11 anos, mas nunca abandonando a editoria de esporte. Fica até 2002, quando o jornal fecha as portas devido a problemas financeiros.
Seu destino seria o Jornal de Notícias, mas fica pouco tempo. Mais tarde segue para o Gazeta Norte Mineira, mas fica apenas 15 dias e depois um tempo sem trabalhar. Nessa mesma época, Moc ganharia mais um jornal da cidade o Correio do Norte e George Nande é convidado para ser o editor geral e repórter de esportes. Mas o jornal também fecha as portas. O jornalista esportivo e grande poeta novamente estava sem trabalhar em um jornal da cidade, uma de suas grandes paixões, a escrita, mas aí surgem os amigos e os seus admiradores Pedro Cantinflas, Luis Carlos Novaes e Denarte Dávila e conversam com o dono do Jornal de Notícias, Edgar Pereira, para dar uma oportunidade ao admirável repórter de esportes. Não deu outra e Nande foi contratado. E é lá onde permanece até hoje como repórter de cidade e esportes e também editor de polícia. Atualmente, George Nande também é assessor de imprensa do vereador Júnior de Samambaia e do Pentáurea clube.
PERFIL
Qual foi o editor que você mais aprendeu? Sem dúvida Felipe Gabrich. Aprendi muito. Ele me moldou. Até hoje considero como o melhor jornalista de Montes Claros. Foi um paizão pra mim.
O que é preciso para valorizar ainda mais a profissão de jornalista? O jornalismo é o porta-voz do povo, tem que ter vocação, identidade, responsabilidade, compromisso com a verdade, e não é com o diploma que vai ter tudo isso. Se pisar na bola perde a credibilidade.
Porque o esporte caiu tanto em Moc? A cidade foi crescendo, perdeu a identidade. As pessoas foram perdendo o entusiasmo e o encanto. Ainda bem que existem pessoas que ajudam e contribuem como um Denarte, Diu Andrade, Hermes Afonso, Waldir Rosquinha, Zé Amário, entre tantos outros.
O que é preciso fazer? O maior mal da cidade de Moc é a violência e as pessoas sabem disso só que não fazem nada melhorar. No dia que a sociedade agir e acabar com a violência aí sim vai melhorar. As ferramentas capazes para acabar com a violência é o esporte e a cultura. É preciso investir nesses dois segmentos. Abraçar e mobilizar em prol do esporte.
O que seria preciso para ter um time de futebol na cidade? Tivemos o Ateneu, Cassimiro, São Pedro, Montes Claros e agora o Funorte representando Moc. O Atlético conseguiu, não sei como, acabar com as dívidas. Através da lei de incentivo ao esporte conseguiu verbas. Se não conseguisse o dinheiro para o esporte para onde iria o dinheiro? É preciso mobilizar para conseguir verbas e arrecadar dinheiro para o esporte da cidade. Muitos empresários perderam a credibilidade com as pessoas que fizeram o futebol de Moc, mas podemos resgatar isso. Porque não?
Melhor goleiro que viu em Moc: Felipe Gabrich
Melhor treinador: Bonga e Davi dos Santos
Melhor jogador que viu jogar: Pela proximidade do meu ídolo Reinaldo e genialidade Bolão. O estilo de jogo parecia muito com o de Reinaldo.
E no futsal quem foi o melhor: Lotinha
Monte uma seleção de todos os tempos: Felipe Gabrich, Jair, Nicomedes, Afosno Arcanjo, Niba, Airton, Carlinhos Zanata, Ilzemar Seco, Zoca, Tuzim e Bolão.
