Galeria dos atletas: Budega, o goleiro que fazia a diferença

Jornal O Norte
Publicado em 22/01/2008 às 11:05.Atualizado em 15/11/2021 às 07:23.

Heberth Halley


Repórter



O destaque, de hoje, da ‘Galeria dos Atletas’ é o ex-goleiro do Cassimiro, José Airton Silva, mais conhecido como Budega, 52 anos. Seu apelido veio quando ainda tinha sete anos. Ele conta que certa vez, na infância, quando morava perto da Estação Ferroviária, a integração dos vizinhos era intensa e os amigos do futebol haviam marcado um jogo entre a ‘Rua de Baixo’ contra a ‘Rua de Cima’. Recorda que na época, os amigos convidaram um certo Nordestino, que sempre passava por Montes Claros, para assistir ao jogo dos meninos. No convite, os garotos enaltecem o goleiro, até então chamado de Zé. Mas logo no início do jogo, Zé leva um gol. O Nordestino que foi assistir por causa do goleiro Zé, diz:



- Esse tal de Zé é uma Budega.






Budega conta que hoje não joga nem ‘pelada’



- Desse dia pra cá ficou Budega e até hoje as pessoas me chamam assim. Até mesmo meus irmãos – conta.



Budega encantou com suas belas defesas, saídas de bolas e arrojo na década de 70. Mesmo sendo considerado baixo por um ser goleiro, sempre fazia a diferença nos jogos. 



Anos depois Budega começa a treinar na equipe do infantil do Ferroviário, com o técnico Efigênio de Barros. E ao mesmo tempo estudava no colégio Marista São José, da qual também batia suas bolinhas. Mais tarde, se transfere para o Ateneu a convite do comandante da equipe Bonga. Lembra que sagrou-se campeão de alguns campeonatos da cidade na categoria infanto.



Aos 15 anos vai para o Cassimiro de Abreu. Começa a fazer alguns jogos pela equipe juvenil. Mas Budega revela que o então diretor de futebol da época, hoje jornalista, Jorge Silveira, foi o seu grande incentivador.



- Foi ele que acreditou no meu potencial e como tinha força como diretor me lançou como titular da equipe numa partida contra o Cruzeiro – lembra.



Em meados dos anos 70, o Cruzeiro faria um jogo contra o Cassimiro, em Montes Claros. Seria o primeiro jogo amistoso do time celeste após uma excursão pela Europa. Budega lembra que o time cruzeirense contava com uma verdadeira seleção de craques como: Perfumo, Natal, Piazza, Dirceu Lopes, Joãozinho, Zé Carlos, entre outros. Naquela época o Cassimiro havia acabado de contratar o goleiro Guerra, de Corinto, para assumir a camisa 1 do Mais Querido, no time adulto. Mas aí entra a confiança do amigo e diretor Jorge Silveira, que acreditou no talento do jovem goleiro Budega e após discutir com alguns diretores pede para que o goleiro titular seja Budega. Depois de vários desentendimentos entre os diretores do Cassimiro. O diretor Jorge Silveira chega para Budega, um dia antes do jogo, e fala:



- Budega, você vai começar jogando. Nem que você jogue somente dois minutos, mas você será o titular – diz Jorge Silveira.



Budega revela que ficou nervoso pela estréia no time adulto principalmente por jogar contra o timaço do Cruzeiro. Time escalado, e Budega é titular, deixando o recém contratado Guerra no banco. O ex-goleiro do Cassimiro conta que logo aos dois minutos Natal cruza a bola e Zé Carlos dentro da grande área chuta e ele faz uma boa defesa.



- A partir daí fui ganhando confiança e no final fiz uma grande partida. Peguei muito naquele dia. Rebentei no jogo. Ganhamos de 1 a 0, gol de Paulinho Malveira – lembra.



Budega diz que essa foi à partida que o revelou para o futebol montes-clarense. Pois, poucos torcedores o conheciam. A partir desse jogo a cidade de Montes Claros estava conhecendo um novo goleiro que iria dar muitas alegrias para a torcida montes-clarense e para o time do Cassimiro, e que seria o diferencial em vários jogos.



Após a partida os diretores do Cruzeiro chamaram Budega para o time azul celeste. Conta que nesse tempo fez a grande burrada de sua vida. Diz que após treinar alguns dias com o time juvenil e junto com os goleiros Raul, Hélio, Vitor e Bocaiúva, o advogado Ari da Frota Cruz o chama para conversar e dá a notícia de que estava aprovado na equipe cruzeirense e que depois iria emprestá-lo, e com isso ganharia muito dinheiro, só faltava conversar com o presidente do Cassimiro, na época Aristóteles Mendes Ruas. O dirigente montes-clarense vai para a capital mineira conversar com o então presidente do Cruzeiro, o saudoso Furletti, para negociar o jogador. O presidente do Cassimiro pede cinco mil cruzeiros pelo passe do atleta, mas a diretoria do Cruzeiro não aceita e dá outra proposta e prefere fazer um jogo em Montes Claros com o time titular do Cruzeiro com a renda sendo toda do Cassimiro. Negócio fechado. Mas faltava ainda um detalhe para acertar toda a negociação: o acerto salarial com o jogador. Budega lembra que era leigo no assunto de contratação e foi conversar com o goleiro Bocaiúva para ver quanto ele recebia, pois havia sete anos que estava no time cruzeirense e para ter uma idéia de quanto pediria. Budega diz que no Cassimiro ganhava mensalmente 450 cruzeiros e que esperava ganhar mais no Cruzeiro. Após conversa o goleiro Bocaiúva diz que recebia 150 cruzeiros. Budega se assusta com o salário.



- Na hora que ele falou que ganhava 150 cruzeiros eu desmoronei de tristeza. O cara estava lá sete anos e ganhava só 150 e eu no Cassimiro ganhava 450. Fiquei totalmente confuso e triste – revela Budega.



No outro dia, o advogado cruzeirense Ari da Frota Cruz oferece a quantia de 300 cruzeiros mensais para Budega.



- Pelo menos eles me valorizaram mais do que o Bocaiúva que já estava lá há sete anos – diz.



Alguns dias depois Budega vem passear em Montes Claros para levar todas as roupas para Belo Horizonte. Mas aí encontra com o ex-goleiro Osías que havia parado de jogar e estava começando sua carreira como treinador do time do Magnesita, da cidade de Brumado, e confessa que estava em Moc para levar Budega para a equipe baiana. O goleiro montes-clarense pergunta a Osías qual era a proposta. Mas o treinador pede a ele para dar a sua proposta. Budega conta que pensou por alguns minutos e pedi 1200 cruzeiros, ou seja, o mais do que o triplo do que ganharia no Cruzeiro. Osías fala que iria para Brumado e que de lá mandava um fax se era para ele ir ou não. No outro dia chega o fax para Budega dizendo que o time do Magnesita tinha aceitado a proposta. Budega toma a decisão e parte sua carreira como jogador de futebol para o Magnesita de Brumado e abandona o Cruzeiro sem falar nada.



- Acho que foi a maior burrada da minha vida – declara Budega, que salienta ainda que se estivesse no Cruzeiro seu destino poderia ter sido diferente.



Lá fica por três anos disputando a segunda divisão do campeonato baiano. Depois se transfere para o Humaitá de Vitória da Conquista. Anos depois volta para Montes Claros. Recebe uma proposta para trabalhar e, sobretudo, para jogar no time do Frigonorte na copa das Indústrias e olimpíadas operárias.



- Naquele tempo tinha esporte em Montes Claros, hoje não existe mais isso- lembra.



Budega conta um fato inusitado para entrar na empresa.



- Era preciso fazer um teste para entrar na empresa. No dia da prova o diretor me deu uma prova já com as respostas. No dia da prova de datilografar foi muito engraçado. Eu não sabia datilografar e no dia do teste o diretor que havia me feito à proposta disse para o pessoal do departamento pessoal que eu havia deslocado os dedos e não podia fazer o teste. Mas mesmo assim fui aprovado na empresa - diz.



No Frigonorte recebia seis salários, sendo três em carteira e três para jogar.



Lá Budega foi campeão da copa das Indústrias e das Olimpíadas operárias no futebol de campo. Lembra que jogavam na equipe atletas como Lucídio Porreta, Dito, Dante, Gildásio, Vivaldo, Aúrio, entre outros. O treinador era João Dias.



Ao mesmo tempo volta para o Cassimiro, e faz parte daquele timaço que tinha Lelê, Simeão, Carlinhos Zanata, Fernando Coelho, Jânio, entre outros. Conquista vários títulos pelo Mais Querido, como campeonato amador e taça Montes Claros. Recebe títulos individuais como Medalha Deusdará, Troféu Lazinho Pimenta, entre outros. Cita também que o ex-presidente do Cassimiro João Mello era um paizão para ele e que tem grandes recordações do ex-dirigente do Mais Querido.



Fica sete anos no Frigonorte. Mais tarde abandona o futebol e conta que nunca mais jogou nem pelada.



PERFIL



· Partida Inesquecível: Cassimrio 1 x 0 Cruzeiro. A minha primeira partida no time adulto, foi aí que apareci para o futebol.



· Título mais importante: O campeonato amador pelo Cassimiro, não me lembro o ano.



· Defesa mais importante: No jogo contra o Cruzeiro. Natal foi à linha de fundo e cruzou para Dirceu Lopes, ele recebeu, chutou e eu defendi.



· Maior tristeza no futebol: Para viver bem tiro das coisas ruins as coisas boas



· Maior alegria no futebol: O jogo entre Cassimiro 1 x 0 Cruzeiro



· Qual o goleiro que você se espelhou: Felipe Gabrich



· Melhor goleiro que viu jogar em Moc: Felipe Gabrich



· Melhor dupla de zaga que jogou: Nicomedes e Sabará



· Melhor jogador que viu jogar em Moc: Ninha



· Amigos no futebol: Marrueiro, João Mello, Denarte



· Monte uma seleção de todos os tempos de Moc: Felipe Gabrich, Jair, Nicomedes, Sabará e Lucídio Porreta, Carlinhos Zanata, Jânio, Denarte, Carlos Bó, Ninha e Milton Henrique.

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