“D” de dar dó? Ultima divisão do Brasileirão exige viagens de mais de 24h e até roupeiro vira técnico: realidade da divisão mais baixa do futebol no Brasil

Jornal O Norte
21/09/2011 às 20:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 06:06

Quatro letras separam as divisões do futebol brasileiro, mas um alfabeto inteiro afasta os mundos de quem vive a realidade milionária da Série A dos que sofrem com o tortuoso caminho da Série D. Porta de entrada para o “melhor futebol do mundo”, a competição sofre com a falta de apoio a clubes que oscilam no longo caminho do amadorismo ao profissionalismo e se seguram como podem apoiados pelo sonho de um dia chegar à elite.

Região com o futebol menos desenvolvido em termos econômicos e de resultados no Brasil, o Norte aponta contrastes e situações inimagináveis para o globalizado e mercadológico mundo da bola. Cerca de 20.000 km foram percorridos em um trajeto que teve como destino quatro cidades que abrigam equipes da Série D em uma realidade que inclui problemas estruturais, de acesso, deslocamento e financeiro.




FOLHA SALARIAL: UM DÉCIMO DOS CLUBES DA ELITE!

Com folhas salariais que variam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil, bem distantes das apresentadas por clubes de divisões superiores, São Raimundo (PA), Plácido de Castro (AC), Trem (AP) e Vila Aurora (MT) surgem como representantes de outras 36 agremiações que encaram a verdadeira odisseia do futebol nacional. Sem apoio financeiro da CBF, a Série D sequer prevê premiação além do acesso para seus participantes e se apresenta como opção iminentemente deficitária e desafiadora.

- A Série D muitas vezes ninguém nem quer disputar. Em 2009, entramos mais na doideira, sabendo da despesa, das dificuldades, pensamos em desistir no meio do campeonato, mas fomos no embalo e acabamos sendo campeões – revelou Sandiclay Montes, diretor de futebol do São Raimundo, de Santarém, interior do Pará, campeão da primeira edição da competição, realizada em 2009.

E é justamente a “doideira” e a empolgação para figurar no cenário nacional do futebol que faz com que equipes, muitas vezes sem a menor estrutura para tal, se aventurem na Série D. Ausência de campo para treinamentos, suporte precário para jogadores e situações inusitadas fazem parte do cotidiano dos aventureiros da bola. O próprio São Raimundo, inclusive, foi vítima do choque de realidade já na Série C após o sucesso imediato.

Dificuldades para trabalhar, descansar e, principalmente, se locomover. Com dimensões exorbitantes se comparadas às apresentadas pelo Sul e Sudeste do Brasil, regiões que praticamente monopolizam a Série A, o Norte obriga os atletas a enfrentarem situações desgastantes. Algo capaz até mesmo de transformar em uma brincadeira as quase duas horas que os jogadores do São Raimundo já passaram esperando ônibus após treinamento para deslocamento interno.

Com vôos repletos de escalas e orçamento apertado, não é raro ver equipes viajando de barco ou até mesmo ônibus para destinos mais de 1.000km distantes de suas origens.

Dificuldades à parte, a Série D surge como o único caminho para quem deseja entrar no “mapa” do Brasil através de sua porta principal: o futebol. E mesmo garantindo ser uma competição disputada “sempre no vermelho”, Sandiclay Montes, campeão com o São Raimundo em 2009, garante que o sonho da elite, mesmo que quase utópico, vale qualquer sacrifício.

- Campeonato Brasileiro deslumbra. Todo mundo sonha um dia estar em uma Série A, Série B, e se manter. Por isso, encaramos essas situações. Até porque não dá para jogar o estadual e ficar parado o restante do ano. Jogar a competição é fundamental para quem quer galgar algo mais na frente.

E assim o futebol brasileiro vive sua realidade, com D, de dificuldade, superada em nome do A, de amor pelo futebol.


 

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