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Quinta-Feira,20 de Novembro

Atlético e Dryworld: o casamento está em crise

A intenção de ser fornecedora direta dos uniformes de grandes clubes levou a paranaense Rocamp a entrar em um mau negócio com a canadense Dryworld

Jornal O Norte
Publicado em 28/09/2016 às 07:00.Atualizado em 15/11/2021 às 16:13.

O amor à primeira vista, com direito a casamento no calor do verão, mal suportou o outono e no inverno se acabou. Hoje em dia, a canadense Dryworld e a paranaense Rocamp só se falam por advogados.



A união entre as fabricantes de uniformes esportivos, formalizada em 4 de janeiro, marcou o início de um ambicioso projeto de expansão dos canadenses e prometia multiplicar o faturamento da empresa do Paraná. Mas a lua-de-mel durou pouco. Problemas de gestão levaram a dificuldades financeiras, dividiram os sócios e afetaram fornecedores e clientes – entre eles Atlético Mineiro e Fluminense, dois dos maiores clubes de futebol do país.



O futuro da sociedade será decidido nos tribunais. Alegando desvios de finalidade e gestão temerária por parte dos canadenses, os sócios brasileiros, minoritários, recorreram à Justiça e conseguiram assumir a gestão do negócio no mês passado, mas a decisão judicial ainda não é definitiva.



As duas empresas tinham pouco em comum. Criada em 2010, pelos ex-jogadores de rúgbi Matt Weingart e Brian McKenzie, a Dryworld era desconhecida fora de seu país. Mas desembarcou no Brasil e no ramo do futebol fazendo alarde. Bancou a contratação de Robinho pelo Galo e ofereceu patrocínios recordes ao clube mineiro e ao tricolor carioca, de R$ 20 milhões e R$ 13,5 milhões ao ano, respectivamente.



A Rocamp sempre foi mais discreta. Fundada há 26 anos em Capanema, cidade de 19 mil habitantes do Sudoeste paranaense, mal estampava seu nome nas peças que produzia para marcas como Mizuno, Penalty, Olympikus e Lupo e para as redes varejistas Decathlon e Centauro.



A aproximação se deu por interesses complementares: a Dryworld queria começar logo a produzir no país, e a Rocamp sonhava com uma marca própria, o que dobraria o faturamento por peça. “A gente se conheceu e já marcou data para o casamento. E só depois foi discutir a relação”, reconhece Edson Campagnolo.



Em troca do controle acionário da Rocamp, os canadenses licenciaram o uso da marca Dryworld em toda a América Latina à família Campagnolo por 20 anos, prorrogáveis por mais dez, e se comprometeram a investir US$ 10 milhões para ampliar a capacidade de produção. O faturamento seria dividido meio a meio.



Dona do slogan “dream, defy, deliver” (algo como “sonhe, desafie, entregue”), a Dryworld não conseguiu cumprir o básico: fabricar (e entregar) uniformes suficientes para os clubes, muito menos para a torcida. As categorias de base tiveram de usar peças antigas. Os times principais também foram afetados. “Quando assumimos a operação, em agosto, o Galo não tinha camisa número 1 para entrar em campo. O Goiás [outro parceiro] não tinha camisa nem calção”, conta Campagnolo.



A matriz da Dryworld atrasou o pagamento do patrocínio aos clubes, e até hoje não remunerou a Rocamp pela produção dos enxovais. Os problemas no futebol contaminaram outras áreas: o fornecimento para redes varejistas começou a falhar, e por pouco não faltou uniforme com a marca da Olympikus para a seleção de vôlei na Olimpíada.


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