Enquanto os filhos se divertem, pais analisam se estão preparados para mais um ano letivo. É preciso alguns cuidados com os filhos antes de retomar os estudos. Pais, professores e especialistas dão algumas dicas para que à volta às aulas aconteça com tranqüilidade.
Jerúsia Arruda
Repórter
As férias estão no auge e enquanto os filhos se divertem, muitos pais aproveitam para analisar suas condições para encarar mais ano letivo.
Para muitos, a volta às aulas significa uma retomada da rotina, onde seus horários de trabalho combinam com a agenda das crianças. Para outros, o ingresso dos filhos na escola se torna um desafio, pois não se sentem seguros em ficar tanto tempo longe das crianças, nem sempre têm certeza de que estão preparados para a vida escolar e não sabem como estas vão reagir nos primeiros dias.
Enquanto as crianças curtem as férias, pais se preparam para que sua volta às aulas seja tranqüila (Foto: Divulgação)
Andréa Silva, 27 anos, também estudante, diz que sua filha Marília completa seis anos neste mês de janeiro e ingressa no Ensino Fundamental em fevereiro próximo.
- Quando minha filha foi para o maternal, aos quatro anos, precisei ir junto por quase um mês até que se adaptasse à professora e aos colegas. Com o tempo foi se envolvendo e se acostumou. Agora, com a mudança de escola, não sei como vai reagir, mas estou me preparando para enfrentar esse novo desafio junto com ela – diz Andréa.
De acordo com a professora Lúcia Oliveira, que atua há quase vinte e cinco anos no ensino público, é preciso que os pais não repassem a responsabilidade de preparar a criança para os professores e participem de forma ativa dessa nova etapa para que ela se sinta confiante.
- Sou orientadora escolar há quinze anos e nesse período pude perceber que os pais que perguntam aos filhos como foi na aula, que olham os cadernos, que conversam com os professores, deixam a criança mais tranqüila e confiante, e isso reflete diretamente no seu aprendizado e socialização com os colegas – explica Lúcia.
ORGANIZAR A AGENDA
Outra preocupação dos pais é com o excesso de responsabilidade que criança passa a assumir.
- Meu filho Felipe, de treze anos, está no Ensino Médio e freqüenta aulas particulares de inglês e violão. Reclamava estar sempre cansado, quase não dormia e ficava tenso, preocupado de não dar conta de suas tarefas. Conversei com um psicólogo e ele me orientou a organizar sua agenda, incluindo horários para atividades físicas e lazer. Junto com Filipe, reorganizamos seu tempo e, agora, de segunda a sexta-feira ele vai para o colégio pela manhã e faz seus trabalhos à noite. À tarde faz aula de inglês e violão duas vezes por semana, em dias alternados. No sábado, vai para o clube nadar, encontrar os amigos e, no domingo, depois do almoço com a família, às vezes vai ao cinema ou se encontra com os colegas do curso de violão para praticar, o que para ele é um momento relaxante, já que adora música. Se semana os estudos apertam, no fim de semana ele se distrai e ainda aproveita para exercitar com a música o violão e o inglês – diz a médica Marina Versiani, mãe de mais dois filhos que já estão na universidade.
PESO NAS COSTAS
De acordo com o médico ortopedista Gilberto Anauate, outro cuidado importante é com a mochila escolar.
- A mochila ideal é aquela com rodízios de boa qualidade, que deslizam com facilidade e permitem que a criança leve seu material preservando a coluna reta e sem fazer esforço. Crianças e pré-adolescentes que se recusam a usar esse modelo, julgando-o infantil demais, podem optar por mochilas com alças largas, de modo a distribuir o peso nas costas – explica o ortopedista, que afirma ser muito arriscado usar a mochila pendurada em um ombro só.
- É comum os pré-adolescentes carregarem o peso da mochila apenas de um lado do corpo o que acaba prejudicando a coluna a médio ou longo prazo – explica.
ACUIDADE VISUAL
A visão é responsável pela maior parte da informação sensorial que recebemos do meio externo e a integridade desse meio de percepção é indispensável para o aprendizado da criança. Com o ingresso na escola, passamos a desenvolver mais intensamente as atividades intelectuais e sociais, diretamente associadas às capacidades psicomotoras e visuais.
Dados do Ministério da Educação indicam que o número de alunos na primeira série do ensino público fundamental é de quase seis milhões. Entretanto, somente parte inexpressiva dessa população se submete a algum tipo de avaliação oftalmológica antes de ingressar na escola.
A OMS - Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 7,5 milhões de crianças em idade escolar sejam portadoras de algum tipo de deficiência visual e apenas 25% delas apresentem sintomas; os outros três quartos necessitariam de teste específico para identificar o problema. Segundo a OMS, a maior parte desses casos é encontrada em países em desenvolvimento.
Números publicados pelo CBO - Conselho Brasileiro de Oftalmologia mostram que no Brasil aproximadamente 20% dos escolares apresentam alguma alteração oftalmológica. Segundo o CBO, 10% dos alunos primários necessitam de correção por serem portadores de erros de refração: hipermetropia, miopia e astigmatismo; destes, aproximadamente 5% têm redução grave de acuidade visual.
A capacidade visual desenvolvida nos primeiros anos de vida pode apresentar alterações reversíveis, geralmente durante os primeiros anos escolares. O reconhecimento da baixa visão na infância é da maior importância, pois, na maioria das vezes, pode ser corrigida com terapêutica adequada.
De acordo com dados da CBO, uma em cada vinte crianças em idade pré-escolar sofre de algum problema de visão; e uma em cada quatro, na fase escolar.
O médico oftalmologista André Fernando de Lima diz que quando a criança reclama de dores de cabeça, pisca os olhos com freqüência, franze a testa para focar um objeto ou aperta a vista para ler um livro pode indicar algum problema de visão.
- A acuidade visual é um ponto que merece atenção especial, por isso, é importante a observação atenta dos pais, que devem levar seus filhos ao oftalmologista antes de iniciar o ano letivo. Já atendi crianças que não conseguiam um bom rendimento na escola porque tinham miopia e ainda não tinha sido diagnosticada. Os pais devem estar sempre atentos ao comportamento das crianças e não esperar que aconteça um incidente para procurar ajuda médica – diz.
Segundo André, se for preciso usar óculos ou tampões durante o tratamento, é importante que os pais conversem e estimulem seus filhos a usá-los sem preconceito, pois é uma medida temporária que pode prevenir outros problemas oculares no futuro.