Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer, muito dinheiro no bolso saúde pra dar e vender.
É assim que todos cantam para comemorar a virada de ano novo. A canção traduz os desejos de renovação, de uma vida nova, despertados pelo clima de mudança que se instaura na data. O que se espera é que, depois da meia-noite, não só o ano seja outro mas também os corações, as amizades, as oportunidades, a vida.
Rio de Janeiro abriga a maior festa de rèveillon do Brasil
e atrai turistas de todo mundo
E para garantir que essa renovação aconteça, muitos usam de rituais que vão da cor da roupa aos alimentos, tudo acompanhado de muita fé, esperança, e a certeza de que darão a maior força para a realização de seus sonhos.
APENAS PROMESSAS
Talvez embalados pelos versos da marchinha que reza que todo dia nasça novo em cada amanhecer, talvez impressionados pela idéia de recomeço que traz cada Rèveillon, mas certamente movidos por razões que só elas conhecem, muitas pessoas elaboram listas de coisas que pretendem fazer no novo ano que se inicia.
E, um pouco como o carnaval que se acaba na quarta-feira de cinzas, a maior parte dessas promessas fica como são; promessas, até que algum dia se cumpram ou não, independente dos compromissos assumidos consigo mesmo na virada do ano.
A constatação do fim prematuro das resoluções de Ano Novo deu origem a piadas em torno delas. Promessas como eu vou tentar ser um marido melhor, eu vou ler no mínimo 20 livros este ano, eu vou tomar uma atitude séria sobre o meu peso, eu dedicarei mais tempo ao meu filho este ano, vou começar a procurar um emprego, vou pagar todas as minhas dívidas, eu não aceitarei as pressões do meu chefe, este ano eu paro de fumar, são motivos de piada porque a maioria é feita no calor das emoções, e muitas vezes expressam um desejo sincero de mudança, mas que não passam para o plano de ação.
QUANDO ERA COMEMORADO O RÈVEILLON
Talvez a transitoriedade dessas promessas esteja ligada à própria origem da festa de rèveillon. No século XVI, a maioria dos países da Europa Ocidental, passou a adotar o 1o de janeiro como data para a passagem do ano. Até então, esse evento era comemorado no dia 25 de março, que marcava o início da primavera. O primeiro de janeiro era a data para o início do ano também em Roma, desde a adoção do calendário Juliano. O nome é uma homenagem a Júlio César, que decretou essa nova forma de contar o tempo em 45 AC.As festas terminavam no dia 1º de abril, que ainda ficou sendo comemorado durante algum tempo por muitos desavisados.
SIMPATIAS
A cada ano é relembrado ou renovado o estoque de simpatias para atrair a sorte no ano que se inicia. Entre elas a de comer lentilha, carne de porco ou frutas secas. Cada país tem seus hábitos. Os austríacos, por exemplo, colocam chumbo derretido em um copo com água fria. A peça que se forma é guardada como amuleto até o ano seguinte.
Os escoceses, consideram sinal de boa sorte quando a primeira pessoa a visitar a casa no primeiro dia do ano seja um homem de cabelos escuros. Se for um ruivo é sinal de mau agouro. Se for uma mulher, é azar na certa.
Associada à origem da criação, a água está presente nos rituais de quase todos os países. É também o elemento que remove as impureza; não é à toa que quase todas as pessoas que passam o rèveillon na praia entram no mar à meia-noite.
No dia 31, os europeus tem como tradição ir a uma sauna num ritual de limpeza para o ano novo. Molham galhos de bétula na água e passam na pele para que o óleo perfumado das folhas exale seu odor. Em Portugal, mesmo com baixas temperaturas, grupos entram no mar para tomar o primeiro banho do ano e atrair boa sorte.
Além da água, o fogo é outro elemento importante no ano novo. Sua maior expressão são os fogos de artifício, cujo barulho produzido espantam os maus espíritos. As velas são usadas para iluminar os caminhos. Em alguns países, velas ou luzes são acesas na casa inteira para impedir a entrada de maus espíritos.
RÈVEILLON PELO BRASIL
No Brasil, para resolver as questões amorosas, toma-se banho com champanhe e pétalas de rosas vermelhas. Na Bahia, flores brancas, perfumes e colares são jogados ao mar para Iemanjá. Outro hábito é pular as sete ondas, fazendo um pedido a cada salto. Um costume baiano bastante difundido é o banho de sal grosso. No dia 31, mistura-se o sal em água quente e joga-se do pescoço para baixo, para limpar e proteger o corpo contra o mal.
Para ter dinheiro o ano inteiro você pode fazer a chamada Simpatia dos pequenos animais. Pegue 21 moedas de pequeno valor. Procure no mato um formigueiro ativo, isto é, um formigueiro que tenha formigas indo e vindo. Descubra de onde as formigas estão tirando as coisas que levam para o formigueiro. A partir deste ponto coloque as 21 moedas até a entrada do formigueiro.
Comprar um lenço e, na noite de 31 de dezembro, exatamente na hora da passagem do ano novo, molhá-lo, colocando-o depois para secar. Recolhê-lo antes de o sol nascer. Amarrar dentro do lenço algumas moedas e só abrir o embrulho na meia-noite do outro 31 de dezembro. Daí para frente, nunca mais há de faltar dinheiro.
Comer doze uvas verdes, à meia-noite do Ano Novo, para ter dinheiro em todos os meses do ano, guardar em lugar seguro, para ninguém achar, a tampa da garrafa de champanhe usada na festa de ano novo, que tenha feito muito barulho, chama dinheiro.
No dia de Reis (6 de janeiro), colocar três caroços de romã dentro da carteira, para ter dinheiro durante o ano inteiro.
Essas simpatias e promessas servem, por um lado, para reduzir as incertezas, e por outro, servem para dar sal à vida. Do contrário, seria apenas um ano depois de outro. Por isso, comemore o rèveillon com seus amigos, com muita lentilha, champanhe e dando muitos pulinhos. Feliz 2006!
DICAS DE SIMPATIAS PARA PASSAR O ANO NOVO
Lentilhas: uma colher de sopa é suficiente para assegurar um ano inteiro de muita fartura à mesa.
Romãs: para atrair dinheiro, coma sete partes, guardando as sementes na carteira.
Bagos de uva: para os portugueses, comer 3, 7 ou a quantidade correspondente ao seu número de sorte garante prosperidade e fartura de alimentos. Para garantir também dinheiro, guarde as sementes na carteira ou na bolsa, até a troca do próximo Ano-Novo.
Calcinha ou cueca novas: Dão sorte no amor, porque deixam os mal-entendidos para trás. São recomendadas principalmente para quem está começando namoro, para garantir o futuro.
Roupa branca: é um hábito relativamente recente, trazido para o Brasil com a popularização das religiões africanas. O branco representa luz, pureza e a bondade.
Qualquer peça amarela: pode ser uma peça íntima, um lenço, uma faixa ou um pequeno laço amarelo (que deve ficar sempre na sua bolsa). O amarelo representa o poder do ouro e, dizem, atrai dinheiro.
Uma nota de dinheiro dentro do sapato: os orientais dizem que a energia entra no nosso corpo pelos pés. Vai daí, o dinheiro no sapato atrai mais e mais riquezas.
Lençóis novos: a dica é especial para recém-casados. Dizem que os lençóis novos, na primeira noite de ano, deixam as possíveis ameaças do ano passado na máquina de lavar.
Carne de porco: deve ser o prato principal da ceia, servida à meia-noite. Como o porco fuça pra frente, garante armários cheios o ano todo. Evite o peru, que cisca para trás.
Nozes, avelãs, castanhas e tâmaras: estas, trazidas para cá pelos imigrantes de origem árabe, são recomendadas para garantir fartura.
À MEIA-NOITE
Pular só com o pé direito. Você estará atraindo boas coisas para a sua vida, pois, segundo a Bíblia, tudo que está à direita é bom.
Jogar moedas, da rua para dentro de casa. Dizem que atrai riqueza para todos que moram no lugar.
Dar três pulinhos, com uma taça de champanhe na mão, sem derramar uma gota. Depois, jogar todo o champanhe para trás, de uma vez só, sem olhar. Você deixa para trás tudo de ruim. E não se preocupe em molhar os outros: quem for atingido pelo champanhe terá sorte garantida o ano todo.
Subir num degrau numa cadeira, enfim, em qualquer coisa num nível mais alto. Diz o folclore que isso dá impulso a sua vontade de subir na vida. Comece, é claro, com o pé direito.
Fazer barulho: é uma forma de afugentar os maus espíritos que os povos antigos praticavam. Vale apito, batucada, bater panelas, desde que seja exatamente à meia-noite. Dizem que não há mal que resista.
Acender velas na praia ou jogar rosas nos espelhos de água, em intenção de Iemanjá. A deusa africana protege seus fiéis, com saúde, amor e dinheiro o ano todo, diz o candomblé.