Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Ela é uma carioca apaixonada pelos hábitos mineiros. Escritora, artista plástica e produtora cultural, Maria Luiza Falcão viaja por Minas para divulgar seu mais recente trabalho, o romance Afonso, lançado neste ano na XII Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro, que com a linguagem simples e singela do interior, narra a trajetória de um brasileiro das Minas Gerais e seu amor por Helena, a escritora da cidade grande.
Delegada Regional da APPERJ - Associação profissional de poetas do estado do Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, Maria Luiza se diz uma urbana apaixonada pelo mundo rural.
- Na medida do possível, sempre busquei as coisas que me aproximassem desse universo. Sou carioca, e atualmente resido na bucólica Ilha de Paquetá. Pode imaginar algo mais rural incrustado numa grande metrópole? Destas ruas de terra batida e vida pacata entre casario antigo, me transporto para qualquer vilarejo no interior do país adotando como fundo musical aquelas músicas sertanejas de letras extensas e profundas. O endereço me auxiliou até na hora de escrever o livro, pois a maior parte do texto foi manuscrita durante meses de trabalho, em horas de espera nas estações das barcas e nas longas viagens de travessia da Baía de Guanabara (cerca de uma hora). Aproveitei também os bancos dos belos jardins do Rio de Janeiro e o silêncio de alguns templos religiosos para criar Afonso, conta.
SER MINEIRO
Com uma habilidade em transitar por mundos aparentemente distintos, o rural e o citadino, Maria Luiza diz que busca imprimir em seus personagens valores inerentes ao ser humano e que, independentes de origem ou condição social, se irmanam na vida com simplicidade. Em Afonso, ela revela, ainda, uma peculiar familiaridade com o universo mineiro.
- Talvez por consangüinidade. Em algum momento, do meu lado materno, alguém nasceu em Minas e me atrai fortemente. Fernando Sabino, por certo, preenche esta lacuna na minha vida ao descrever tão sabiamente o Ser mineiro. Sem dúvida um povo que tem ao mesmo tempo história, simplicidade e pureza, é diferente com marca registrada, é poeta, conservador e amante da liberdade, é tudo que eu entendo como ser gente. E ainda por cima, fala uai/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"center">
Com uma habilidade em transitar entre o rural e o citadino, Maria Luiza revela em Afonso uma peculiar familiaridade com o universo mineiro (fotos: arquivo)
- O livro tem de tudo. Falo de vida. Um jovem pleno em seu vigor físico, hormônios gritando. Até de bolo de milho eu falo. Mas, como não sou quituteira, substituí a receita pela revelação do ingrediente principal que a mãe de Afonso misturava à massa e que, depois de pronta, era partilhada aos pedacinhos com o filho, ainda menino, sentado ao colo em sua cadeira de balanço. O ingrediente? Amor, diz a autora que deixa ao leitor a promessa de continuação da história, ao concluir o romance com E a vida continua...
PROJETOS CULTURAIS
Além de escritora, Maria Luiza desenvolve um projeto musical na Ilha de Paquetá, levando às ruas em noites enluaradas, centenas de pessoas, músicos e seresteiros, todos apaixonados pela boa música. Durante o passeio, são inauguradas nas casas, placas com as letras das músicas preferidas de seus moradores. Em sua casa, por exemplo, foi afixada na entrada uma placa com a letra de Tocando em Frente, imortalizando os compositores Almir Sater e Renato Teixeira.
Preocupada com o incentivo à leitura e o acesso da população aos livros e outras formas de manifestação cultural, a escritora desenvolve, ainda, o projeto Perdidos e Achados, junto à Academia de Artes, Ciências e Letras da Ilha de Paquetá.
- O projeto permite que os livros sejam perdidos e achados pela cidade, até mesmo em praças publicas. Para os amantes da boa leitura, é uma oportunidade de encontrar o título ou autor de seu interesse, lê-lo e, num próximo encontro permitir a outros que também leiam. Nosso povo lê pouco, não só por causa do alto preço dos livros, mas sim, pela falta do costume. Cabe às escolas, instituições e, todos os profissionais, direta ou indiretamente ligados à cultura, promoverem o incentivo a este hábito salutar. Nosso projeto tem esse objetivo, explica Maria Luiza.
PRODUÇÃO
Apesar de Afonso ser seu primeiro livro editado, a produção literária de Maria Luiza passa pelo teatro com Made in Brazil, Vida, A Praça é Limpeza!, e adaptações dos clássicos da ópera O Navio Fantasma e Pagliacci. A autora tem ainda inéditos os romances Afonso II e Diário, os contos Olívia, Ele & Ela, Tenho Trinta e Três, e para teatro infantil Cinderela do Agreste (agraciado com a Menção Especial Alice da Silva Lima, no Concurso Prêmios Literários da UBE - União Brasileira de Escritores - 2005), Um Amor de Palhaço e A Lenda da Moreninha e, teatro adulto, Se Essa Rua Fosse Minha, além de contos, crônicas e poesias. A escritora também é colaboradora no jornal Trilha Sonora de Belo Horizonte (da AMAI) e mantém colunas semanais on-line.
Maria Luiza Falcão se diz cada vez mais apaixonada por Minas Gerais e promete visitar outras cidades, entre elas Montes Claros, tendo como certa sua breve transferência para solo mineiro.