Mais da metade das instituições de ensino públicas e particulares mineiras têm alta rotatividade de professores, segundo dados do último Censo Escolar. Para especialistas da área de educação, bons projetos pedagógicos e ambientes estimulantes para o aprendizado demandam uma equipe de docentes duradoura e integrada.
De 2012 até o ano passado, 53,4% das escolas registraram regularidade de professores abaixo do ideal. O número representa uma piora na situação do Estado, conforme o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Há seis anos, 57% das instituições tinham índice acima da média.
As razões que afastam os educadores são diversas. Contratação em regime temporário, adoecimento, troca de local de trabalho, aposentadoria ou morte são as principais na rede pública. Na particular, a demissão é a maior causa.
ADAPTAÇÃO
A irregularidade do time de professores é prejudicial tanto para os profissionais quanto para os estudantes, avalia a professora de políticas públicas em educação da UFMG Dalila Andrade Oliveira, coordenadora do Grupo de Estudos Sobre Política Educacional e Trabalho Docente (Gestrado).
“A ruptura no meio do ano letivo interfere no entendimento dos alunos. A descontinuidade implica também em perda no projeto pedagógico, porque é preciso tempo de adaptação para que o coletivo de professores tenha uma nova unidade”, afirma Dalila Oliveira.
A quebra da relação de confiança entre professor e aluno também é um dos prejuízos decorrentes da saída de docentes, conforme o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep), Emiro Barbini.
“Nos colégios privados, as famílias geralmente estão mais próximas do que acontece em sala de aula, elas confiam e gostam do professor. Quando ele é demitido, isso é rompido e a escola terá problemas”, diz Emiro Barbini.
MIGRAÇÃO
A “dança das cadeiras” dos professores também está relacionada a um aumento de contratações. Segundo o Inep, o número de docentes que passaram a integrar as escolas de Minas em 2016 é 40% maior do que a do ano anterior.
Os dados do Censo Escolar mostram, ainda, que metade dos professores da rede pública mineira tinha contrato temporário no último ano. Esta é uma das principais causas para a elevada rotatividade, conforme Dalila Oliveira.
INCERTO
Além de contribuírem para a rotatividade, as condições de trabalho de um professor contratado geram incertezas. Há quatro anos, Maria das Graças*, de 42, leciona nas séries iniciais da rede estadual em BH. Ela já passou por cinco escolas.
O regime de trabalho tem reflexos diretos na atividade da professora, que não consegue, por exemplo, elaborar um plano de aulas fixo para uma série. “Se atuasse como efetiva, saberia para quais turmas lecionaria, conseguiria dar continuidade ao ritmo de ensino”.