Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Apesar de trabalhar em outras instituições, todos os dias, o médico pediatra Milton Teixeira Filho sai de casa com sua maleta e telefone ligado, pronto para exercer sua profissão da maneira que, segundo ele, é a que mais o aproxima de seus pacientes: a domiciliar.
Depois de trabalhar durante anos atendendo em consultório, hospitais e clínicas, Milton decidiu prestar atendimento na casa dos pacientes.
- A demora na sala de espera deixa a criança estressada e o atendimento em casa é mais tranqüilo. Facilita também para os pais, para quem normalmente o tempo escasso, além de ser mais cômodo – explica.
Antigamente, era muito comum o médico atender o paciente em domicílio, e em muitos países isso ainda acontece. A maioria deles era muito respeitada pela sua perícia, tinha uma posição social prestigiada e era admirada pela sua ética. Eles prestavam atendimento em domicílio e, em regiões rurais, às vezes tomavam uma refeição com a família ou até mesmo pernoitavam quando faziam um parto.
Muitos deles manipulavam o remédio para os pacientes. Médicos altruístas não cobravam dos que tinham poucos recursos e estavam disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana.
Mas esse costume está em declínio em todo mundo. O jornal The Times of Índia observa que nessa era de especialistas e de hiper-especialistas, está se tornando cada vez mais raro o médico de família compassivo, que conhece bem a família e está disposto a dar atendimento em domicílio sempre que necessário.
Seguindo uma tendência atual que prioriza o atendimento pelo clínico, no Brasil, o Programa saúde da família propõe o atendimento domiciliar gratuito, com acompanhamento médico periódico, com o objetivo de recuperar o paciente em sua própria casa, com o apoio e o carinho da família, livre dos riscos de infecções hospitalar.
O NOVO MÉDICO
É claro que ainda hoje existem profissionais que trabalham dessa forma, mas em muitos lugares a natureza da relação médico-paciente provavelmente mudou nas últimas décadas mais do que em muitos séculos. Com o grande avanço da medicina, muitos profissionais se especializaram e trabalham em conjunto ou vinculados a planos de saúde. O resultado é que os pacientes são atendidos por um médico diferente a cada vez em que ficam doentes. Assim, os médicos não conseguem estabelecer uma relação mais duradoura com as famílias como no passado.
Há cerca de um século, o surgimento de análises de laboratório e de equipamentos de diagnóstico fez com que o atendimento em domicílio se tornasse cada vez menos comum. E em muitos lugares, instituições de saúde consideram essa forma de atendimento ineficiente na utilização do tempo do médico. Porém, muitos profissionais de saúde não gostam da intermediação dessas instituições na relação médico-paciente. Uma das razões é que tais instituições costumam exigir que se atenda mais pacientes em menos tempo.
INICIATIVA
Em Montes Claros, a iniciativa do pediatra Milton Teixeira é pioneira, e, segundo ele, as famílias já estão descobrindo as facilidades de se receber o atendimento domiciliar.
- Por enquanto, ainda não formei equipe nem criei uma estrutura de atendimento. Mas tenho certeza que todos os pacientes que tive oportunidade de visitar se sentiram melhor por não precisarem sair de casa. Fico disponível à noite, nos finais de semana e feriados. Basta que a pessoa ligue que vou até sua casa, em qualquer bairro, cobrando R$ 40 pela consulta.
A maioria das pessoas aprecia um médico atencioso que compreende os sentimentos e o estresse do paciente. Nesses tempos, onde os serviços de entrega em domicílio superam a fase pizzaria-floricultura, conquistando todos os seguimentos de bens e serviços sofisticados, nada melhor do que poder receber auxílio em casa, em um momento de fragilidade, principalmente em se tratando de crianças.