Pelo resgate e preservação da cultura popular: oficinas de fabricação de rabeca e viola caipira promovem a disseminação da arte secular para novas gerações

Jornal O Norte
17/10/2006 às 11:26.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:42

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net




(foto: Fábio Marçal)

Numa parceria entre a secretaria de Estado de Cultura e a secretaria municipal de Cultura de Montes Claros, estão abertas novas inscrições para as oficinas fabricação de viola caipira e rabeca, que começaram no último mês de setembro.

Desde o início as aulas contam com onze turmas de quatro a cinco alunos de todas as idades, que aprendem fabricar viola caipira com o luthier Moisés Pereira, e rabeca com o luthier Waldemar Pereira.

As oficinas acontecem na Casa do Tambor, com participação de integrantes da Orquestra de Rabecas de Montes Claros, a primeira do gênero no interior do estado.

Oficinas de fabricação de rabeca e viola caipira promovem a disseminação da arte secular para novas gerações

Com respaldo do convênio SEC/AJU no 1781/0/06, os alunos recebem todo o material utilizado na fabricação dos instrumentos. O convênio também beneficiou a Orquestra de Rabecas que, além de uniformes, recebe parte dos instrumentos produzidos nas oficinas. A orquestra é formada por 20 foliões e mestres de folia de reis da região.

A rabeca é um instrumento de arco, precursor do violino, de origem árabe utilizado desde a Idade Média. No Brasil, de norte a sul, é confeccionada por artistas populares em comunidades rurais. A construção, afinação e a maneira de tocar mudam conforme a região de origem, assim como o material utilizado na sua confecção, que pode ser de madeira, de cabaça ou de bambu, variando também o número de cordas também podendo ter três, quatro ou cinco cordas. O instrumento é utilizado no Brasil em manifestações populares e religiosas desde a colonização e nos últimos anos, tem sido difundida por músicos populares que a trouxeram para os grandes centros urbanos.

Segundo o chefe de divisão de Cultura, Leonardo Palma Avelar, que também é coordenador da Orquestra de Rabecas, as oficinas começaram na verdade há seis anos, com os integrantes da Orquestra que fabricavam os instrumentos e vendiam e, com o dinheiro arrecadado, financiavam a compra de material para fabricação de um novo instrumento.

- Sempre buscamos por financiamento e houve um período em que a prefeitura forneceu o material para que continuássemos nosso trabalho, até que, com a parceria entre as secretarias pudemos realizar essa etapa das oficinas, que deverão se encerrar no último dia útil do próximo mês de novembro. Temos alunos a partir de 12 anos de idade e é um importante projeto de preservação da cultura popular, já que envolve profissionais que estão compartilhando sua arte com outras gerações – explica Leonardo salientando a importância do trabalho de profissionais como o professor Moisés, por exemplo, que é aposentado e que, com muito desvelo, divide seus conhecimentos que, de outra forma, correriam o sério risco de ficarem esquecidos ou guardados por uma ou duas pessoas, como aconteceu com o músico e luthier Zé Côco de Riachão, que deixou um único discípulo na arte de fabricar rabecas – o luthier Elton.




Formada oficialmente em 2005 com 20 integrantes - foliões e mestres de folia de reis - a Orquestra de Rabeca possui um trabalho consolidado e já se apresentou em várias cidades do país

Leonardo diz que, além da Orquestra de Rabecas, já está formada a Orquestra de Violas, que nesse momento se prepara para o espetáculo de culminância das oficinas, no final de novembro.

Interessados em participar das oficinas podem se inscrever no Centro Cultural Hermes de Paula. As aulas acontecem as terças e quintas-feiras na Casa do Tambor, gratuitamente.

RABECA

Rabeca é uma espécie de violino de fatura popular (também chamada de sanfona em Portugal). Instrumento folclórico cordofone que soa por fricção, de timbre mais baixo que o do violino, tem um som fanhoso e sentido como tristonho. Suas quatro cordas de tripa são afinadas por quintas, em mi-lá-ré-sol, podendo variar de três a cinco cordas.

O tocador encosta a rabeca no braço e no peito, friccionando suas cordas com arco de crina, untado no breu. É, com a viola, instrumento tradicional dos cantadores do interior do país. Em São Paulo é usada em folganças ou fandango, na folia-do-divino, moçambique, congadas, dança-de-são-gonçalo e folia-de-reis. No nordeste foi popularizada por bandas locais, onde também é fabricada por gente simples do interior de Alagoas. Na região Norte e em Minas Gerais é usada nas festividades de São Benedito. Músicas como retumbão, chorado, xote, mazurca e contra-dança fazem parte do repertorio da festa, mais conhecida com o nome de Marujada.

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Oficinas de Rabeca e Viola Caipira


Terças-feiras e quintas-feiras, de 8h às 17h


Casa do Tambor – Avenida Dep. Esteves Rodrigues


Participação gratuita

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