Com uma boa comédia americana, a Mostra de Contracultura que discute cultura e uso de drogas, está chegando ao fim, neste sábado, dia primeiro de julho, com o filme Vamos nessa! - do diretor Doug Liman.
Um bom filme tem começo, meio e fim, certo? Certo. Mas a comédia - Vamos nessa! (1999), tem três começos, três meios e quatro fins. É a mesma história contada sob três pontos de vista diferentes: o de uma caixa de supermercado que precisa pagar seu aluguel (e para isso resolve traficar ecstasy); o de seu amigo inglês, que deveria fornecer o produto, mas está desbundando em Las Vegas; e o de uma dupla de atores gays às voltas com um policial, que está na cola da caixa do supermercado.
O procedimento narrativo do filme não é novidade: Akira Kurosawa já fazia a brincadeira em várias produções e a literatura já faz isso há alguns séculos. No filme, a estrutura funciona magistralmente, o ritmo é perfeito e, em momento algum, fica a impressão de que ele se estende demais. Os três ciclos se complementam e lançam luzes uns sobre os outros.
Uma ou outra coincidência pode parecer meio forçada, mas nada que comprometa a verossimilhança de toda a trama. O diretor Doug Liman sabe o que está fazendo e consegue dar ao filme uma profundidade dramática pouco usual em comédias americanas. O elenco, além de homogêneo na atuação, é um verdadeiro coquetel de caras novas e promissoras. A trilha musical, bem escolhida e tremendamente pop, comenta algumas cenas de modo irônico, fugindo ao lugar comum. A fotografia e a montagem ajudam as reviravoltas do roteiro, sem serem didáticas demais. Enfim, está tudo no lugar certo, mas nada em ordem.
VAMOS NESSA!
Uma comédia simples e despretensiosa, valorizada por um roteiro sofisticado – prova que é possível realizar filmes inteligentes para o público jovem, que hoje é decisivo nas bilheterias de todo o mundo. Em vez de doses gigantescas de violência sem sentido e sexo sem razão, Liman entrega ao espectador bons personagens (que nada têm de heróicos ou maquiavélicos) e boas piadas (que, em sua maioria, exigem um exercício dos neurônios para funcionar). De certa forma, o filme é uma prova de que o cinema americano, apesar de nos empurrar goela abaixo seu lixo habitual, pode oferecer produtos de qualidade.
PROJETO
A mostra Contracultura é exibida no Cinema Comentado, que acontece aos sábados a partir das 18h30 horas, na sala Geraldo Freire, anexa à câmara municipal. Logo após a sessão tem bate-papo com a platéia, coordenado pelo jornalista Elpídio Rocha. A entrada para a sessão é gratuita.