Prossegue no Cinema Comentado, a mostra de contra-cultura, com filmes que discutem o uso de drogas e sua relação com a vida e com a arte.
No próximo sábado, 24 de junho, o filme exibido será Transpotting (1996), polêmico cult-movie que marcou a geração dos anos 1990. O diretor Danny Boyle (Cova Rasa, Extermínio, A Praia) baseia-se no livro de Irvine Welsh sobre um grupo de escoceses viciados: Renton, Spud, Sick Boy, Tommy e Begbie são os garotões que vivem num bairro classe média da cidade de Edimburgo, mergulhados nas drogas para fugir do cotidiano medíocre. O protagonista é Renton (Ewan McGregor), que tenta se livrar da heroína.
Sem moralismo e falsas mensagens, o filme acompanha a rotina alucinante dos jovens e traça um retrato da geração desesperançada do final do século XX.
O FILME
Renton é um viciado reincidente que, através do vício, tenta escapar das exigências e responsabilidades da vida e das pessoas a quem chama de amigos – um bando de perdedores, mentirosos, ladrões e drogados. Entre atos de agressão e obsessão por drogas, o filme traça a desintegração da amizade entre os personagens, ao mesmo tempo em que eles caminham, inevitavelmente, em direção à autodestruição.
O roteiro de John Hodge adapta, reestrutura e mescla elementos do livro original. O resultado não é um filme limpo, muito menos agradável e leve. O cenário mostra os apartamentos precários e vazios invadidos pelos viciados. E essa abordagem dos personagens e situações explica o sucesso da obra: o público está cansado de representações suaves do mundo; as pessoas querem algo que fale mais sobre a sociedade em que vivemos e as diferentes culturas invisíveis que tendem a ser ignoradas. Boyle não se preocupou em fazer um filme bonito, assim como não se preocupou em alertar para os males da droga – isso o filme faz sozinho (para aqueles que se interessam pela questão).
ESTILIZAÇÃO
Sensação no Festival de Cinema de Cannes, Transpotting revelou ao mundo o talento do cineasta escocês e dos atores Ewan McGregor (mais conhecido como o Obi-Wan Kenobi da nova trilogia (Star Wars) e Robert Carlyle (Ou Tudo ou Nada, 007 – O Mundo não é o Bastante, O Padre). A trama possui ritmo extraordinário e envolvente, e mostra com clareza a visão de um mundo onde não existem bons ou maus, mas circunstâncias favoráveis e desfavoráveis regidas por um destino implacável como o das tragédias gregas. Destaque, ainda, para a brilhante trilha sonora com músicas de Iggy Pop, Underworld, Lou Reed, Blur, entre outros.
Boyle, um diretor capaz de explorar os detalhes e trabalhar a estilização com domínio da técnica cinematográfica, fez um filme inteligente, doentio e, às vezes, engraçado, mas sempre de uma maneira cruel – e tudo isso para revelar o ser humano diante das suas fraquezas e vícios.
PROJETO
O Cinema Comentado acontece todos os sábados, a partir das 18h:30, na sala Geraldo Freire, ao lado da Câmara Municipal. Logo após a sessão tem bate-papo com a platéia, coordenado pelo jornalista Elpídio Rocha.