Jerúsia Arruda
Repórter
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O projeto Tom da Terça recebeu ontem o músico e compositor Marcos Paracatu, que apresentou um repertório com pérolas da MPB, modas de viola e releituras modernas da música clássica.
Marcos Paracatu diz que a música deu leveza a sua alma e o ajudou a enfrentar as adversidades da vida com coragem
(foto: Adriana Queiroz)
Nascido em berço musical – o pai, a mãe e irmãos são músicos - Marcos diz que a música faz parte de sua rotina desde os tempos de colégio.
- Sempre tentei aliar a música às diversas atividades do dia-a-dia e mesmo hoje, no meu trabalho, uso como um meio de me fazer entender melhor - diz o músico que também é professor de inglês.
O som instrumental de Marcos passeia da música clássica ao cancioneiro popular, sempre abusando dos acordes e sonoridades do violão e da viola, acompanhado da percussão de Rogério Botelho e da bateria de Carlos Batera.
MAIS QUE PROFISSÃO
Formado em Administração de Empresas e Literatura Inglesa, Marcos Paracatu diz que, apesar da música ser sua grande paixão, ela nunca foi encarada por ele como profissão.
- A música representa uma parte de mim que não dá para colocar preço. Vai muito além de tudo isso. Agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de estudar, de ter uma profissão que garante meu sustento, de forma que possa compartilhar com o público sem a barreira financeira que normalmente o distancia do artista. Mas não faço show de graça. Sempre cobro ingressos em forma de alimentos e agasalhos para serem doados a entidades carentes. Considero extremamente gratificante e uma forma de retribuir um pouco do muito que a vida me deu - diz o músico.
POVO DE FÉ
Nascido em Coluna/MG, mas vivendo em Montes Claros há 14 anos, Marcos diz que aprendeu a amar a cidade que escolheu para viver, assim como ama ser brasileiro.
- Já viajei por vários países para estudar, trabalhar e fazer shows, mas nada se compara ao Brasil. Somos um povo de fé e esperança sempre renovada, que acredita que um dia as coisas vão dar certo, apesar dos governantes e seus projetos falhos. É curioso como no Brasil as coisas são pensadas para durar apenas quatro anos, ao contrário dos países desenvolvidos que fazem projetos para 20-30 anos e, mesmo trocando governantes, continuam funcionando. Por isso que acredito no povo brasileiro, que consegue manter a alegria de viver, mesmo vivendo em dificuldades, diz o músico que chegou recentemente da Itália onde fez shows com repertório genuinamente brasileiro.
O PEIXE E A REDE
Com um senso de humor refinado e sempre a postos, Marcos diz que nasceu em família humilde, com poucos recursos, mas sempre conviveu com a música e fez dela alento para sua vida.
- A música deu leveza a minha alma e me ajudou a enfrentar as adversidades da vida com coragem. Sempre ouvi o discurso que diz que para ajudar as pessoas não adianta dar o peixe, é preciso ensinar a pescar. Muitos têm o anzol, a linha, mas não têm o rio para lançar a isca. Quando era criança, minha família às vezes recebia cesta básica ou outros donativos e era bom; nos sentíamos felizes. No Brasil o espaço para o artista se estabelecer profissionalmente é muito restrito e por isso decidi me especializar em outra área para que essa coisa mágica da arte não se tornasse algo incômodo, uma obrigação ou um sonho não realizado. E hoje uso dos meus shows para recolher donativos para quem precisa como um dia também precisei. Sei que isso é tentar apagar o fogo, que não vai salvar ninguém, mas é a parte de mim que posso compartilhar, é o meu melhor e nunca vou deixar de fazer, conclui.
SHOW DE SOLIDARIEDADE
Marcos Paracatu se apresentou na noite de ontem na sala Cândido Canela do Centro Cultural a um público atento, com um repertório eclético e um som instrumental bem elaborado. O próximo projeto do artista acontece no final do ano, em um grande show em parceria com outros artistas da região, onde reunirá os recursos financeiros que guardou dos shows fora do Brasil com o que arrecadar no evento para comprar cestas básicas que serão distribuídas à comunidade carente de Montes Claros.