(MANOEL FREITAS)
Devido à negativa da prefeitura em manter o repasse de verbas para o Centro Educacional Apóstolo Santiago O Maior, a instituição de ensino filantrópica criada pelo padre Henrique, que atendia 100 crianças em um bairro carente de Montes Claros, fechou as portas ontem, após 49 anos em funcionamento.
A recusa do prefeito Humberto Souto em destinar recursos para a instituição de ensino, a única do bairro Monte Carmelo, obriga os alunos do 1º ao 5º anos do ensino fundamental a se deslocarem para o outro lado da cidade para continuar os estudos. O fechamento deixa ainda 32 funcionários da escola desempregados. A unidade oferecia ainda o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A notícia sobre o fechamento foi dada ontem pela direção da escola aos servidores e pais de alunos, um dia após reunião com o prefeito, em uma última tentativa de garantir a manutenção das verbas.
Fundada pelo padre Henrique Munaiz, a escola era mantida com doações e repasse de recursos municipais. Historicamente e até o ano passado, a prefeitura repassava por ano cerca de R$ 500 mil ao centro educacional.
Na reunião com o chefe do Executivo, na qual participaram vereadores, Souto alegou ser ilegal a ajuda por meio de convênio a instituições educacionais, em locais onde há escolas estadual ou municipal que tenham o ensino fundamental. Ele citou legislação de 2007 que veta a transferência de recursos do Fundeb com essa finalidade.
As dificuldades para manter o centro aumentaram em 2017, com a morte do líder religioso, que trabalhava na busca de materiais pedagógicos e cestas básicas. No final do ano passado, a Fundação Credinor chegou a anunciar que, a partir desse mês, iria abraçar o projeto educacional por meio do desenvolvimento de projeto educacional voltado para o cooperativismo. No entanto, os recursos seriam insuficientes para prosseguir o projeto.
DO OUTRO LADO
A maior parte das crianças do centro educacional está sendo matriculadas na Escola Estadual Doutor João Alves, no bairro Santa Lúcia, do outro lado da cidade.
A reportagem de O NORTE acompanhou o drama das famílias, que reclamavam o fato de o comunicado sobre o fechamento ter sido feito às vésperas do ano letivo, quando a maioria das turmas já estão formadas.
Sem revelar a identidade, os servidores incumbidos de dar a notícia explicaram que “infelizmente, não depende deles”. “Não é fácil não, bastava apenas uma canetada lá, entendeu?”, disse um servidor.
Pai de aluno, Wanderley Pereira Rocha disse que o fechamento traz transtorno. “Não é fácil sair daqui e ir para o Santa Lúcia, do outro lado da cidade”, queixou-se. Ele disse ter procurado a Superintendência de Ensino para matricular dois filhos no 2º e 3º anos. “Mas definitivamente não tem vagas”, disse.
O mesmo dilema vive Marlene Lopes da Silva, do Independência, que não pôde mais matricular o filho Luiz Fernando no 3º ano. “Foi anunciado em cima da hora, não foi uma coisa programada, porque as aulas já vão começar”, reclamou.
Outro pai de aluno, Wellington Pereira Rocha disse que conseguiu matricular a filha Emily Vitória com muita luta na Escola Estadual Doutor João Alves, numa sala de 25 alunos. “Agora, imagina o drama de 100 alunos que perderam a vaga. Como vão encaixar tanta gente?”.
O professor de educação física Sílvio Ribeiro de Castro, morador do Monte Carmelo, estava inconsolável. “Desde o ano passado eles estavam cozinhando a gente. Alguns vereadores até prometeram fazer uso de emendas parlamentares para que o Centro não fechasse”, disse emocionado, lembrando que Montes Claros perdeu uma instituição de ensino de qualidade.
Até o fechamento desta edição, a prefeitura não deu retorno sobre o assunto.