Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Incrustada no meio das serras entre os municípios de Montes Claros e Bocaiúva, a pequena Alto Belo é reduto da cultura popular que boa parte do país esqueceu. Famosa pelos ternos de folia, violeiros e cantadores como Téo Azevedo, Sinval da Gameleira e Marimbondo de Chapéu, o povoado, sob a jurisdição do município de Bocaiúva, vive um momento de contradição: de um lado um grupo de ativistas culturais que travam uma luta ferrenha para manterem vivos os valores culturais da região, atraindo a atenção de artistas de todo o país; de outro, jovens em idade escolar que não têm oportunidade de estudar por não possuir uma escola de Ensino Médio no povoado, reduzindo os sonhos juvenis ao casamento precoce ou à ilusão da inserção social na cidade grande.
A biblioteca é uma alternativa para os estudantes fazerem suas
pesquisas e trabalhos escolares (foto: Wilson Medeiros)
Aos que tentam estudar sem sair de casa, sobram as viagens diárias ao município de Guaraciama, há poucos quilômetros de Alto Belo, limitando a aprendizagem à sala de aula, pois os alunos não têm uma biblioteca ou quaisquer fontes de informação para realizar pesquisas e fazer trabalhos escolares.
ABRINDO CAMINHOS
Preocupada com esses jovens, a produtora cultural Walkiria Braga vem, desde o início do ano, empreendendo uma campanha para arrecadar livros novos e usados e montar um acervo para os jovens de Alto Belo realizarem suas pesquisas.
- Alto Belo é referência para todas as pessoas e grupos que se interessam pela preservação cultural da região e é uma pena ver os jovens de lá crescerem alheios à informação, diz Walkiria que faz parte da associação Folclórica de Alto Belo e participa ativamente das manifestações culturais realizadas no povoado.
APOIO
Segundo Walquiria, a campanha que começou nas festas natalinas já reuniu um acervo de cerca de 1000 livros - didáticos e literatura.
- A pastoral de Alto Belo nos cedeu o espaço e as estantes e já estamos preparando a sala para colocar os livros. Faltam mesas e cadeiras, mas tenho certeza de que vamos conseguir ajuda junto à comunidade de Montes Claros, conta a entusiamada produtora que diz dividir seu tempo entre o trabalho como assessora da secretaria municipal de Cultura de Montes Claros e a campanha pela criação da biblioteca.
SEM ASSISTÊNCIA
Walkiria diz que o jovem Feliciano, 20 anos, que mora em Alto Belo e terminou o Ensino Médio neste ano, se dispôs a tomar conta da biblioteca.
- Fico feliz de saber que teremos alguém para catalogar os livros e orientar nas pesquisas, mas lamento o fato de ver um jovem limitar seus estudos. Nosso desejo é todos pudessem ingressar na faculdade ou fazer um curso técnico que os capacitasse para o mercado de trabalho. Alto Belo não recebe nenhuma atenção da administração municipal de Bocaiúva e por isso estamos tentando fazer alguma coisa, não ficar esperando. Nosso desejo é que em breve seja montada uma unidade de ensino que possa atender a esses jovens, para que não seja necessário saírem de sua terra natal. Mas, por enquanto, vamos nos concentrar na biblioteca, argumenta Walkiria que diz que ainda não escolheu o nome para a biblioteca que deverá ser inaugurada oficialmente no próximo mês de agosto.
DOAÇÕES
Para os interessados em contribuir com o projeto, doando livros, revistas, jornais, móveis ou computadores, basta ligar (38) 9905-6328 ou enviar um e-mail para walkiriabraga@hotmail.com, que o material será recolhido em sua casa.