Usuários assíduos da Internet
criam seus próprios vocábulos,
encurtam palavras, suprimem acentos
e pontuações, formulando, assim,
uma nova linguagem.
As escolas precisam se adaptar
para lidar com a novidade
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Em português, inglês ou em qualquer outro idioma, a Internet está modificando os meios de comunicação, considerados como politicamente corretos. O internetês, espécie de adaptação das palavras da norma padrão para abreviatura, tem sido a linguagem adotada pela maioria dos usuários Internet (= viciados) e está se estendendo para outros meios, caminhando para uma descaracterizando da norma padrão da língua, nos mais diversos idiomas.
A linguagem virtual está influenciando, principalmente, a escrita do adolescente internauta em sala de aula, o que causa uma nova preocupação dos educadores (foto: Wilson Medeiros)
As abreviaturas estão se transformando em expressões de duas, no máximo, três letras, com significado próprio, que levam em conta somente a fonética e dispensam a etimologia das palavras; e frases contidas que prescindem de pontuação e acentuação, provocando uma disseminação desses novos termos, criando, assim, uma nova linguagem, peculiar da Internet, caracterizada pela desobediência às regras cultas e pelo descaso da normas gramaticais da língua.
Se o internetês antes era usado apenas em conversas rápidas em salas de bate-papo virtuais, agora está transpondo as barreiras e ganhando novos espaços, influenciando, principalmente, a escrita do adolescente internauta em sala de aula, o que causa uma nova preocupação dos educadores.
A professora de português do Ensino Médio, Aretusa Ladeia Lima diz que a influência dessa linguagem virtual pode ser percebida nos textos produzidos em sala de aula.
- Por mais que a escola cobre a língua padrão, os alunos não conseguem resistir ao hábito das abreviações. Nas redações e textos é possível ver o esforço que fazem para não usar a forma coloquial, mas acabam se perdendo – diz a professora.
Maria das Dores Eugênio, supervisora da escola estadual Professor Plínio Ribeiro diz que esses códigos comprometem não só a produção de textos, mas, também, a fala.
- Se o aluno não conseguir fazer essa diferenciação entre o culto e o coloquial, vamos ter uma decadência do ensino. Podemos perceber isso pelas barbaridades escritas nas redações dos vestibulares – lamenta.
DIFÍCIL BATALHA
A professora Maria de Fátima Souza, que trabalha há 25 anos com alfabetização, diz que a maior dificuldade para conter essa onda de coloquialismo é o fato de os alunos serem alfabetizados ao mesmo tempo em que aprendem a se comunicar pela Internet.
- O problema é que essa mudança está acontecendo em uma fase da vida escolar em que tudo é apreendido de forma profunda pela criança. Ela aprende a escrever, por exemplo, você na escola e em casa escreve vc. A forma mais fácil é rapidamente absorvida e cria vícios na fala e na escrita, dificultando o trabalho do professor – diz.
Aretusa diz que por mais que a escola tente, esta é uma batalha difícil de ser vencida.
- A Internet exige simplificação da escrita e agilidade na leitura para reduzir o tempo na comunicação, e tempo é o que o internauta não tem, pois quer transmitir seus sentimentos como se estivesse frente a frente com seu interlocutor. É realmente uma batalha difícil – explica.
A educadora destaca que é necessário incentivar ao máximo a leitura em sala de aula, evitando, dessa forma, que o internetês seja utilizado indiscriminadamente.
- A leitura favorece a escrita, melhora o vocabulário e coloca o aluno em contato com outro tipo de linguagem, além do internetês – diz.
AUTOMATISMO
Muitos alunos dizem que usam o internetês de forma inconsciente e automática.
Mariana Santos, aluna do 2º período do curso de Letras diz que ás vezes se pega escrevendo como se estivesse numa sala de bate-papo virtual.
- É um vício. Às vezes abrevio uma palavra de forma inconsciente e, se não faço uma segunda leitura, nem percebo. Meus professores estão sempre alertando sobre o uso freqüente desse tipo de linguagem e nos sugere usar a variante padrão da língua, que é mais bem aceita – explica Mariana, que diz passar mais de seis horas diárias na Internet.
DESAFIO
Terezinha Silva, especialista em Educação e professora da rede estadual de ensino há mais de 20 anos, diz que fica mais fácil usar a norma culta da língua quando se conhece, por isso é preciso que a escola aprenda a interagir com essa nova realidade.
- É importante garantir a livre expressão, mas, também, adequar a conversação dentro do contexto da norma culta. Os educadores precisam se familiarizar com as linguagens múltiplas, com as novas tecnologias e criar métodos para torná-los parte do processo educacional. A linguagem da Internet é sedutora, mesmo sem tratamento pedagógico, e é preciso não deixar que se torne modelo, mas um meio de informação e aprendizagem que desafie o aluno – diz a educadora.
Segundo Terezinha não adianta resistir, e sim, associar a educação ao uso dessas novas tecnologias e linguagens.
- Cada vez que se inventa algo novo a humanidade passa por uma adaptação, muitas vezes com resistência e desconfiança. Foi assim com a televisão, com o telefone, e com a Internet não tem porque ser diferente. A Internet é uma realidade em todas as escolas, tanto públicas, quanto privadas. Cabe ao educador preparar o aluno para usufruir de seus recursos e possibilidades crítica e adequadamente, e estimular a busca por outros caminhos para o conhecimento e, principalmente, o autoconhecimento – conclui.