Coordenadores do Festival comemoram a ampla participação do público, que lotou todas as sessões exibidas nas tendas montadas na Praça da Matriz, além de preencher todas as vagas para as oficinas e fórum, que, inclusive, tiveram lista de espera. A programação
aconteceu de 10 a 14 de janeiro.
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Primorosa! Assim pode ser definida a primeira edição do Festival de Cinema de Montes Claros, que trouxe à cidade grandes nomes da sétima arte do Brasil, atraindo centenas de cinéfilos que aproveitaram para matar a curiosidade sobre os bastidores da produção de filmes célebres como Aleluia, Gretchen, de Silvio Back, e Amarelo Manga, de Cláudio Assis, cuja exibição foi acompanhada e comentada pelos seus diretores.
(Foto:Gersier de Lima)
Durante cinco dias a programação que incluiu exposição, fórum, oficinas e exibição de filmes levou à Praça da Matriz cerca de 6.000 pessoas, que, apesar dos inesperados momentos de chuva, se mantiveram atentos a tudo e a todos.
FÓRUM
De acordo com a coordenação do Festival, os debates e palestras do 1º Fórum de Educação e Cinema, que aconteceu nos dias 11 e 12 de janeiro, foram acompanhados por um público de 235 pessoas, que participaram de forma efetiva das discussões.
Os temas do debate foram conduzidos por José Carlos Avelar e Geraldo Veloso, que falaram sobre a evolução estética e histórica do cinema no Brasil e no mundo; e por Elpídio Rocha, que falou sobre Cinema e Educação, suas perspectivas didáticas e abordagem prática.
- Esse debate foi fundamental para que todos pudessem entender como o cinema pode ser introduzido na educação, além de criar uma oportunidade aos participantes de analisar os elementos da linguagem cinematográfica, as mensagens visuais, a construção de visões de mundo e do gosto estético – comenta Elpídio.
OFICINAS
No sábado e domingo, 13 e 14 de janeiro, mais de 120 pessoas, entre universitários, jornalistas, publicitários, atores e profissionais de audiovisual participaram das oficinas de Direção, Documentário, Produção em Vídeo Digital e Roteiro, ministradas por Vinicius Martins, Sylvio Back, Andréa Martins, Daniel e Diego Lisboa.
Apesar do calor e de ser dia de descanso, os participantes compareceram de forma assídua, nos dois dias, em todas as oficinas.
Segundo o acadêmico do curso de Jornalismo, Diego Kartz, que participou da oficina de Direção, a experiência foi gratificante.
- O professor Vinicius Cabral, da Associação Curta Minas, mostrou os aspectos práticos de técnica de direção em cinema e vídeo. Citando cineastas importantes, como Alfred Hitchcock, partiu do princípio da técnica para a produção audiovisual, como ângulos, movimentos de câmera, expressões, produção e análise de roteiro, entre outros. Além do conhecimento de teórico, essas técnicas trouxeram para mim novas possibilidades na prática, que posso perfeitamente aplicar em meu trabalho, como produtor de vídeo e roteirista. Valeu realmente a pena – comemora Diego.
Na oficina de Documentário, o entre um filme e outro, o premiado cineasta Sylvio Back falou do histórico do cinema desde seu surgimento na França, com os irmãos Lumière, das outras invenções, paralelas e anteriores, em outros países e como a técnica foi sendo apurada ao longo dos anos.
Sylvio falou sobre o valor iconográfico e ideológico do cinema, de como este teve a produção refreada no Brasil com o fechamento da Embrafilme, pelo então presidente da República, Fernando Collor, e da importância das Leis de Incentivo à Cultura, como a Rouanet, para a retomada da produção nacional.
A professora Cibeli Passos, que leciona na escola estadual Dr. Carlos Albuquerque, no bairro Maracanã, disse que a oficina vai ajudá-la em um projeto de cinema que pretende desenvolver com seus alunos.
- Eu sei que para os alunos é uma forma de aprender brincando, mas preciso estar preparada e conhecer um pouco mais sobre as técnicas para conseguir produzir um filme. Meu objetivo é despertar nos alunos o interesse pelo cinema, de forma que este passe a fazer parte do seu dia-a-dia, estimulando o raciocínio lógico e crítico. Isso certamente vai contribui para uma melhor compreensão de textos e conteúdo didático de um modo geral ensinado na escola – diz Cibeli, que participou da oficina de Documentário.
FILMES
Na abertura do Festival, que teve como tema Os 10 Anos de Retomada do Cinema Nacional, foi exibido o filme Aníbal, Um Carroceiro e seus Marujos (1980, 23 min.), do diretor montes-clarense Paulo Henrique Veloso Souto e, ao longo do Festival, foram exibidos mais dezessete filmes, entre curtas, médias, longas e mostras especiais, em DVD e película 35 milímetros, todos de produção nacional. O último filme exibido na noite de domingo, Cinema, Aspirinas e Urubus, do diretor Marcelo Gomes, foi extremamente concorrido e quase não deu para comportar o público na tenda. O filme está na lista de seleção para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano.
EXPOSIÇÃO
Durante todo o Festival, a exposição Aspectos da história do cinema em Montes Claros, com acervo do projecionista, colecionador e cinéfilo, Benjamim Ribeiro Sobrinho e curadoria de Fábio Borges, fotos, equipamentos, ingressos, cartazes, projetores recontaram a história dos cinemas de Montes Claros. O acervo foi reunido, peça a peça, desde a década de 1940.
- Fico emocionado de, depois de tantos anos, poder compartilhar um pouco da minha paixão com as pessoas e ver como elas se interessam e até se comovem ao ver fotos e cartazes que fizeram parte da adolescência de muitas delas – comemora Seu Benjamim, 74 anos, que diz ter vivido seu momento de glória com a exposição.
Moises de Oliveira Júnior, estudante de Publicidade e Propaganda e um dos monitores da exposição diz que a experiência foi muito interessante.
- A interação do público com diretores e produtores, em um ambiente impregnado pelo cinema foi curiosa. Fiquei na galeria 30 horas durante os quatro dias e pude ver de perto o quanto as pessoas se interessam pelo cinema, de como fantasiam. A experiência foi motivadora e, mesmo cansado, não me importaria de passar do horário. Por mim, ficaria mais tempo – diz Júnior.
RESULTADO
Realizado pela Fundação Cultural Genival Tourinho e secretaria municipal de Cultura, o Festival, e viabilizado pelo ministério da Culta teve como piloto o projeto Cinema Comentado, que acontece todos os sábados em Montes Claros há três anos.
Segundo Fernando Rodrigues, idealizador do Cinema Comentado e um dos coordenadores do Festival, o público de Montes Claros, que já tem um grande interesse pelo cinema nacional, com o Festival, passou a se interessar pela sua produção.
O secretário municipal de Cultura, o artista plástico João Rodrigues se diz surpreso com o resultado do Festival, que superou em qualidade e participação.
- Foi uma grande experiência para todos nós, e também para o público que compareceu de forma surpreendente e tivemos até que reprisar algumas sessões para que todos pudessem assistir. Sem dúvida essa primeira edição foi vitoriosa e agora vamos nos preparar para conseguir realizar a próxima – comemora o secretário.
O ator e diretor Paulo Henrique Souto, disse que a produção cinematográfica feita por profissionais de Montes Claros é muito importante para o país.
- Fiquei entusiasmado com o pioneirismo do Festival e o envolvimento voluntário da população que até propus à secretaria de Cultura passar para Cd o filme Aníbal, Um Carroceiro e seus Marujos, que fiz há 25 anos, em película de 35mm, de forma que todos possam assistir e conhecer melhor a história dos Ternos de Congado que tão bem representam nossos Montes Claros – diz Veloso.
HOMENAGEADOS
Estiveram presentes no Festival os cineastas Alberto Graça, Cláudio Assis, Sylvio Back,Vinicius Cabral, Helvécio Marins, Vânia Catani e Paulo Henrique Souto, que receberam homenagem especial.Também foram homenageados Edes Barbosa, Benjamim Ribeiro Sobrinho, Carlos Alberto Prates Correa e Maurício Gomes Leite, (in memorian).
Na noite de domingo, o show do cantor Tavinho Moura e do grupo Vozes de Lá, encerrou a programação que começou na quarta-feira, 10 de janeiro.