Há 73 anos, Montes Claros mantém viva a tradição da Festa de Santos Reis

Jornal O Norte
09/01/2006 às 10:49.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:28

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

Com a participação de quase dez mil pessoas, encerrou na última sexta-feira a programação da Festa de Santos Reis, da paróquia do bairro Santos Reis, que começou no dia 24 de dezembro passado.

Coordenada pela Igreja Católica e Conselho comunitário da paróquia de Santos Reis, a festa tem uma extensa programação religiosa que inclui procissão e missa todos os dias, novenas, exposição de presépios, levantamento de mastro em homenagem aos três Reis Magos, apresentação de ternos de folia e pastorinhas, shows com artistas locais além de barracas com bebidas e comidas típicas.

Há 73 anos a festa é realizada em Montes Claros, no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, mantendo a tradição religiosa que chegou ao Brasil pelos jesuítas e colonizadores portugueses.




A figura dos três Reis Magos:


Tradição quase secular no bairro Santos Reis


Os quatorze dias de festa movimentam não só a comunidade do bairro, mas toda a cidade, atraindo, ainda, devotos de toda região.

Segundo o coordenador financeiro da paróquia de Santos Reis e um dos organizadores da festa, José Osmando Mendes de Aquino a festa reúne durante os quatorze dias cerca de 45 a 50 mil devotos.

- Milhares de pessoas lotam as ruas do bairro logo pela manhã, com a apresentação dos ternos de folia e pastorinhas. Há uma participação de toda a comunidade, que abre suas casas para receber os visitantes de outras cidades e muitos voluntários participam da organização da festa, contribuindo, ainda, na produção de refeições para todos – explica.

TERNOS DE FOLIA

A maior atração das festas de Reis são os ternos de folia. Os foliões cantam em dois grupos de três ou quatro vozes e tocam caixa, pandeiro, viola, violão, cavaquinho e, eventualmente, uma sanfona. Em algumas regiões, a música é sustentada pelo pífano, instrumento de influência indígena feito de taboca, uma espécie de bambu, com sete orifícios, um para soprar e seis para dedilhar. Às vezes também são feitos de canos de PVC ou de canos de metal, mas não têm a mesma sonoridade nem a mesma beleza.

Cantadores e tocadores usam uma toalha branca bordada ao pescoço. Junto com a folia vai uma bandeira com a estampa dos Santos Reis no presépio. Na chegada dos foliões a uma casa, os moradores recebem e beijam a bandeira com grande devoção. Tem os cantos da chegada e da saudação com versos decorados e outros inspirados pelo momento. O dono da casa faz com a bandeira uma volta na sala e em todas as dependências.




Foliões cantam em louvor e adoração aos Santos Reis


(Fotos: divulgação)

Se tiver presépio os foliões têm por obrigação cantar a adoração. Algumas folias cantam profecias, resumindo o Antigo Testamento. Conforme o combinado, os foliões passam a noite no pouso, cantando e brincando noite adentro, ou cantam menos para poder visitar outras casas. Tem a petição da esmola, o agradecimento e a despedida. As esmolas em dinheiro podem ser pregadas na bandeira com alfinetes ou então são recebidas por um encarregado.

ADEQUANDO AOS NOVOS TEMPOS

José Osmando diz que há cinco anos foi incluída na programação a apresentação de shows com artistas da cidade e região para despertar o interesse dos jovens e adolescentes pela festa.

- Antes a festa incluía apenas a programação religiosa e folclórica. Mas como com o passar dos anos a tendência é que o interesse pelas tradições diminua, e por isso incluímos a apresentação de artistas da região para chamar a atenção das pessoas mais jovens. Nosso principal objetivo é preservar os valores culturais de nossa gente e para que isso aconteça é preciso adaptar a festa aos novos tempos. O resultado tem sido o melhor possível, pois a cada ano, cresce o número de visitantes – conta Osmando, que diz participar da festa desde menino.

Na programação deste ano, houve shows com os cantores Jean Karlo e Stradeiro, Lindomar Coimbra, Johnny e Roberta, Rony e Rael, além da apresentação do grupo folclórico Zabelê.

ESTRUTURA

Segundo Osmando, para que a festa aconteça, são investidos cerca de sete mil reais adquiridos com a contribuição do comércio local e de colaboradores voluntários.

- Toda a comunidade participa, ajudando do jeito que pode. As barraquinhas de bebidas e comidas típicas organizadas pela paróquia ajudam a financiar a festa, que neste ano também contou com uma contribuição da prefeitura – conta Osmando, que se diz satisfeito com o envolvimento das pessoas.

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