Recente pesquisa revela que o mercado de trabalho tem sido cada vez mais exigente e a oferta de vagas para os jovens cada vez menor. O estudo mostra que os jovens ocuparam apenas 10,4% das vagas criadas entre 1995 e 2005 e que apenas 45% das pessoas nessa faixa etária conseguiram arrumar uma ocupação. Para minimizar o problema, cursos de especialização podem ser uma boa saída
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
O número de vagas para os jovens no mercado de trabalho é cada vez menor, ao mesmo tempo em que aumentam as exigências para que os candidatos consigam uma boa colocação.
A constatação é feita pelo economista Mário Pochmann, da Unicamp, em recente publicação com o título Situação do jovem no mercado de trabalho no Brasil: um balanço dos últimos 10 anos.
De acordo com a pesquisa, um em cada dois brasileiros desempregados tem entre 15 e 24 anos de idade e, segundo o professor, uma das principais razões é a preferência por pessoas com experiência, em detrimento dos mais novos, que normalmente buscam uma colocação profissional com o objetivo de alcançar o próprio sustento, mas também de aprender.
Juliane Silva de Carvalho, 22 anos, estudante do 2º período de Letras, diz que por causa da escassez de vagas as exigências são cada vez maiores e tudo depende da primeira oportunidade.
- A coisa mais difícil é fazer com que as pessoas lhe dêem crédito, pois elas sempre exigem experiência. Se você não tiver uma primeira chance fica difícil mostrar que é capaz. É preciso conscientizar os empresários a ter mais confiança no trabalho de nós jovens que estamos começando – diz Juliane, que quer se especializar em edição de textos e revisão de livros.
De acordo com a pesquisa, trabalhadores com formação adequada tendem a levar vantagem sobre aqueles que ainda estão se especializando. O estudo revela que os jovens ocuparam apenas 10,4% das vagas criadas entre 1995 e 2005 e que apenas 45% das pessoas nessa faixa etária conseguiram arrumar uma ocupação; os demais ficam desempregados ou trabalham na informalidade.
Para diminuir a distância entre o jovem e o emprego, o economista sugere buscar por uma especialização, algo que dê um diferencial no currículo – e isso vai depender da área de atividade –, e que favoreça o ingresso no mercado de trabalho.
O estudo faz uma análise das possibilidades e mostra que existe uma gama de opções que abrange desde a faculdade - que ainda é inacessível a uma parcela considerável da população economicamente ativa -, até a pós-graduação no exterior - um luxo para pouquíssimos.
O estudante do 7º período de Comunicação Social/Jornalismo, Diego Kartz, 22 anos, diz que o mercado de trabalho é proporcional à capacidade, independente da formação acadêmica, mas que esta é uma forte aliada na hora de buscar por um emprego.
- Muitos profissionais que atuam na Comunicação não têm formação acadêmica, mas não há dúvida de que a academia é um grande reforço no currículo. As pessoas vêm na graduação uma garantia de capacidade profissional, pois entendem que alguém que passou pela academia tem respaldo teórico para o exercício prático das funções para as quais se habilitou. O conhecimento que tenho para trabalhar como produtor e editor de vídeo adquiri na prática, mas a faculdade adicionou novos conhecimentos e valores, ampliou minha leitura de mundo e me abriu novas perspectivas. Não há dúvida de que a academia realmente traz retorno profissional – argumenta o jornalista.
CURSOS PROFISSIONALIZANTES
De acordo com o estudo de Pochmann, além da graduação e pós-graduação, também existe a alternativa dos cursos profissionalizantes de curta duração, que não se prestam apenas à qualificação, mas também, como o próprio nome diz, à função de direcionar o jovem para uma atividade profissional.
Pela análise do professor, levando em conta o perfil da imensa maioria da população brasileira, esta seria uma alternativa viável para a entrada no mercado de trabalho, à medida que fornece o conhecimento aplicável, normalmente focado em determinadas habilidades e competências.
O economista diz que mais do que um professoral eu sei, os cursos profissionalizantes trazem a perspectiva do prático eu sei fazer, algo que vai ao encontro do que buscam as empresas: alguém que seja capaz de ser contratado hoje já sabendo o que, como e quando fazer.
Depois de trabalhar por vários anos como vendedor, Bernardino Mota decidiu fazer um curso técnico de web designer e diz que assim que começou a estudar, conseguiu um emprego na área.
- Há três anos resolvi fazer o curso e desde então trabalho como editor gráfico e de imagens. Não é que o mercado se abre para quem tem o curso profissionalizante, mas, como você se prepara para as funções na prática e muitas vezes a empresa precisa do funcionário que esteja pronto para começar de imediato, realmente facilita. Agora que terminei o curso de web designer, estou me preparando para fazer o curso de graduação em Designer. O curso técnico pode facilitar na hora de ser contratado, mas a graduação é fator determinante na hora de combinar o salário – salienta Bernardino.
Pochmann ressalta que a escolha de um curso adequado aos objetivos de cada pessoa e às necessidades do segmento pode até representar um passaporte para o mercado de trabalho, mas não é a garantia de sucesso profissional ad eternun. Segundo ele, para construir uma carreira de sucesso, vale seguir o mesmo princípio: a (constante) especialização faz a diferença.