Jerúsia Arruda
Repórter
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Na próxima segunda-feira, dia 10 de julho, começa a 5ª Mostra de Teatro de Montes Claros e uma das principais atrações será o Grupo de Teatro Os 10+ que durante os 21 dias do evento apresenta quatro espetáculos, fazendo, inclusive, o espetáculo de abertura, com apresentação da peça Odorico, o bem amado, no dia 10 de julho, às 20h30, no teatro do Centro Cultural.
Atores do grupo Os 10+ durante apresentação do espetáculo
Odorico, o bem amado (fotos: arquivo)
Dirigido pelo insofismável Mestre Baptista e composto por 25 integrantes, Os 10+ é resultado da fusão dos grupos Vida e Faceato, que eram dirigidos pelos atores Mestre Baptista e Marcos Guimarães, há cinco anos.
Segundo o ator Diógenes Câmara, que atua no grupo desde sua formação, uma das preocupações da equipe sempre foi produzir espetáculos com uma produção diferenciada.
- Trabalho como ator há 40 anos e quando comecei, o palco era no salão paroquial da igreja do Rosário, que ficava ao lado do prédio da antiga prefeitura da cidade, na avenida Coronel Prates. Nessa época os espetáculos eram modestos e se destacavam pelos textos e pelo talento dos atores. Para não esquecer as falas, colocávamos uma pessoa na lateral do palco que soprava o texto ou nos lembrava as deixas. Apesar da falta de estrutura, nos sentíamos profissionais e levávamos a sério cada trabalho. Mas desde que entrei no grupo Os 10+, pude vivenciar espetáculos com uma produção mais elaborada, trilha sonora, cenários e figurinos sempre bem cuidados, conhecendo um outro lado da produção teatral, diz o ator que atualmente se prepara para atuar no monólogo Confidências de um espermatozóide careca, que deve estrear em breve.
BEBENDO NA FONTE
O primeiro espetáculo apresentado por Os 10+ foi a comédia Como matar um play boy, em 2001, dirigido por Mestre Baptista e Marcos Guimarães. Desde então o grupo não parou mais, se apresentando em várias cidades do país, sempre com sucesso de crítica e público.
- Vivemos várias experiências e talvez uma das mais importantes tenha sido a vinda do diretor Sálvio, de Belo Horizonte, que produziu a peça A sapateira Prodigiosa e, durante os ensaios, nos deu dicas preciosas de atuação e produção cênica, dando uma guinada no trabalho do grupo, relembra Diógenes.
MEMÓRIA
Diógenes conta que no início da carreira – meados da década de 1960 - o público comparecia, sempre com muita empolgação.
- As grandes estrelas do palco eram América Eleutério, Regina Coelho, Irani Peixoto e Márcia Melo Franco, que contracenavam com os atores Gelson Dias, Antônio Carlos Amaral, Cassimiro de Paula e Eustáquio Macedo. Nessa época o movimento noturno da cidade era pequeno e as pessoas não tinham muita opção de lazer. O teatro era o ponto de encontro de todos e por isso ficava sempre lotado. Além do salão paroquial, o It Clube - que era o point da época - era muito cotado e tinha um bom palco onde apresentávamos nossas peças. Nos divertíamos muito, conta o ator relembrando os áureos tempos.
ARTE PELA ARTE
Apesar do sucesso que sempre fez como ator, Diógenes, que também foi um premiado nadador profissional, participando de importantes campeonatos no estado, não quis encarar o teatro como profissão.
- Sempre tratei o teatro como diversão, pois a cidade não tem estrutura para sustentar um trabalho artístico: não tem espaço físico, não tem patrocínio, não tem valorização profissional, enfim, não oferece subsídios para o artista se estabelecer e sustentar a família. E não é só o teatro, mas a arte em todos os seus segmentos. E como adoro atuar, não quis transformar a arte em sacrifício, tentando tirar meu sustento dela, argumenta o ator, que diz que teve seu momento dourado e várias oportunidades de se mudar de cidade para trabalhar no teatro mas escolheu viver modestamente em Montes Claros, tendo o teatro como um lenitivo para seus sonhos, emoções e imaginação férteis.
- Não que banalize o trabalho de ator, ao contrário; levo a sério e luto pela valorização da classe. Mas sei que é difícil criar expectativas em Montes Claros, fazer planos, montar espetáculos contando com possíveis parcerias ou patrocínios. O que podemos fazer com recursos próprios, fazemos, se vemos que não dá, mudamos o texto, argumenta Diógenes que se diz agradecido por poder contar com os amigos e a família para continuar acreditando que um dia as coisas podem melhorar.
Sobre os novos atores, Diógenes se diz otimista.
- Torço para que essa nova geração que vem despontando na cidade tenha melhores oportunidades de estudar e se profissionalizar, conquistando mais espaço no mercado de trabalho. Sei que a profissão de ator continua cada vez mais árdua, mas com dedicação, disciplina e determinação é possível ir além. Quanto a mim, nem me imagino vivendo longe do palco, conclui o ator que diz que tem como lema uma frase de Procópio Ferreira, que diz: nada acontece por acaso em minha vida quando estou longe do palco. Eu vivo do palco, para o palco, em função do palco. Quando saio dos palcos fico pensando nas coisas do palco e esperando a hora de voltar para o palco.
MOSTRA DE TEATRO
Na mostra de Teatro que começa na próxima semana, o grupo OS 10+ apresenta os espetáculos Odorico, o bem amado (10/07), Procópio – monólogo que conta a vida de Procópio Ferreira (18/07), Pinóquio (23/07) e o monólogo As mãos de Eurídice (25/07). Paralelamente, o grupo se prepara para apresentar os espetáculos Os três porquinhos, Confidências de um espermatozóide careca , Gaiola das Loucas e Brasileiro, profissão esperança, todos com estréia prevista para este semestre.