Em busca do equilíbrio: pesquisadores defendem a prática do Yoga como conteúdo da grade curricular para melhoria da aprendizagem

Jornal O Norte
Publicado em 31/01/2007 às 10:51.Atualizado em 15/11/2021 às 07:56.

Pesquisadores defendem a prática do Yoga como conteúdo da grade curricular para melhoria da aprendizagem. A alternativa metodológica propõe trabalhar a consciência corporal para expandir o potencial criativo, melhorar o convívio entre os colegas e buscar o equilíbrio físico, psicológico e emocional em um momento em que a mente está em plena atividade



Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net



- Yôga é qualquer metodologia estritamente prática que conduza ao samádhi -  esta é definição de Ioga feita pelo mestre André DeRose que completa definindo samádhi como um estado de hiperconsciência, megalucidez, que só o Yôga proporciona.



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O SwáSthya Yôga é a modalidade com o maior número de praticantes no Brasil e foi sistematizada na década de 1960 pelo Mestre DeRose a partir do Dakshinacharatantrika-Nirísharasámkhya Yôga - um Ioga estritamente técnico, conhecido pela forma de execução das técnicas corporais, feitas em forma de coreografia.



Prática ancestral de origem indiana que visa o auto-conhecimento, equilíbrio entre corpo e mente, saúde física e espiritual e comunhão entre os indivíduos e o todo, o Ioga vem sendo difundido no Brasil em diferentes vertentes, cuja prática muitas vezes gera polêmica, desde a própria grafia da palavra Ioga - Ioga é a forma aportuguesada usada por dicionários; as outras grafias propostas são Yoga e Yôga - até suas definições, objetivos, metodologias e práticas.



Há dezenas de linhas de Ioga no mundo, que propõem não necessariamente caminhos contraditórios, mas sim, diversos caminhos para alcançar os mesmos objetivos.



Mais particularmente no Brasil, mas também em Portugal e outros países, entretanto, há contrariedade e negação entre duas vertentes. Uma é a do SwáSthya Yôga que tem como principal expoente o brasileiro Mestre DeRose, cuja escola se usa a grafia Yôga, definida como qualquer metodologia estritamente prática que conduza ao samádhi, e é ensinado apenas por instrutores formados na Universidade de Yôga.



A outra vertente abrange todas as demais linhagens, grafadas como Yoga, e têm como definição a cessação da agitação mental. A formação de professores e instrutores dessas linhagens é livre e auto-regulamentada.



O terapeuta e professor Renilson Durães ministra aulas de Yoga há 22 anos em Montes Claros e, apesar de utilizar a técnica tradicional, diz que desenvolveu um estilo próprio de trabalhar, de forma a se adaptar aos contrastes da região.



- A década de 80 foi muito significativa em todas as áreas do conhecimento, principalmente as ligadas à arte, à cultura e às terapias complementares. Ao conhecer as técnicas de Yoga, descobri um novo universo e desde então sua filosofia se tornou parte de mim e passei a compartilhar seus benefícios com outras pessoas, até adotar o ensino terapêutico como profissão - conta o professor.



Atualmente com 60 alunos regulares e preparando novos instrutores, Renilson diz que o ensino da Yoga em nível de 3º grau ainda não foi reconhecido pelo Mec.



- Muitas das pessoas que buscam por nossas aulas o fazem por indicação médica, ou voluntariamente, por se sentirem cansadas, estressadas, acometidas por síndromes e doenças provocadas pelo acelerado mundo moderno. Se esses profissionais pudessem usufruir dos benefícios da Yoga ainda na academia, certamente teriam, não só um aproveitamento maior das disciplinas, como também se sentiriam mais equilibrados física, psicológica e emocionalmente, porque a terapia ajuda na concentração, estimula o raciocínio e relaxa o corpo. È um processo psicossomático, que ajuda a gerenciar o corpo e a mente e, conseqüentemente, contribui para uma vida saudável - analisa o terapeuta.



MEDITAÇÃO NA EDUCAÇÃO



Há alguns anos mestres como Micheline Flak e William Zorn vêm pesquisando e defendendo a prática efetiva Yoga em sala de aula, como conteúdo da grade curricular, tomando como base de estudo as possibilidades de a prática trazer benefícios à aprendizagem, uma vez que hora acalma, hora desperta, conforme a necessidade do momento.



Em Niños que Triunfan. El Yoga en la escuela (Crianças que triunfam. A Yoga na escola) Micheline Flak faz reflexões sobre as possibilidades da prática vinculada a melhorias na aprendizagem educacional. O objetivo principal de sua obra - colocada em prática em um estabelecimento educacional de Santiago, no Chile - refere-se a uma alternativa metodológica utilizando exercícios simples de respiração e relaxamento, próprios do Yoga, para lidar com o estresse, falta de concentração e agressividade dos adolescentes.



William Zorn, em Ioga para a Infância, enfoca a prática de exercícios de Yoga para as crianças, preocupando-se com suas necessidades e capacidades, com destaque para crianças asmáticas.



Analisando estas obras, é possível perceber as possibilidades, dificuldades e limites para desenvolver a prática doYoga no campo educacional e de como este pode contribuir para a compreensão da teoria e assimilação do processo ensino-aprendizagem.



A socióloga e terapeuta Carla Regina de Almeida Viana, que também é instrutora de Yoga há cinco anos, diz que conheceu a técnica há 15 anos, ainda no ensino fundamental.



- No colégio onde estudei tínhamos na grade curricular o Yoga como atividade de extensão. Era uma inovação porque na época pouca gente tinha acesso à técnica. Me ajudou muito não só na aprendizagem das outras matérias, como também me tornei uma pessoa mais centrada, equilibrada, graças aos exercícios de relaxamento, concentração e aos ensinamentos filosóficos que adquiri, numa idade em que estava em plena formação. Hoje sou professora de Yoga porque conheci a técnica na escola e descobri logo cedo seus benefícios - conta Carla.



Anete Marília Pereira é doutoranda e professora de Geografia da Unimontes há mais de dez anos e diz ter conhecido o Yoga há dois anos, por indicação médica.



- A princípio busquei oYoga como tratamento e com o tempo descobri que a prática me ajudava a viver com moderação, controlava o estresse, me dava equilíbrio. Se no início me serviu como uma válvula de escape, hoje me ajuda no auto-conhecimento, nas relações comigo mesma e com os outros, passei a prestar mis atenção nas ações e reações do meu corpo. Tenho certeza de que, como professora, me deu uma nova visão para conduzir o processo, pois passei a ser mais tolerante, ter mais paciência - comemora Anete.



NOVOS RUMOS



Renilson diz que apesar de estar ligado à União Nacional de Swasthya Yoga, trabalha de forma independente, pois a cultura do Norte de Minas é diferente e as pessoas, de um modo geral, têm certa resistência a esse tipo de trabalho até hoje e por isso fez algumas adaptações para conseguir abrir caminhos.



- O Yoga é uma prática extremamente inteligente, prioriza o sincronismo entre movimento e respiração, exigindo maior concentração e introspecção que favorecem uma revisão comportamental. Depois de 22 anos posso dizer que chegamos onde parecia não ser possível. Nossa meta é dar continuidade a esse trabalho e esperamos que possa alcançar um número cada vez maior de pessoas, de forma que todos possam ter uma melhor qualidade de vida - comemora o professor, que além dos alunos regulares, também realiza seminários, oficinas, workshops em instituições de ensino, centros de saúde e com crianças com necessidades especiais.



ABRINDO CAMINHOS



Anete Marília diz que a universidade recebe alunos cada vez mais jovens e que para lidar com esse novo público é preciso estar preparada.



- O relacionamento humano é naturalmente conflituoso e a prática da Yoga pode ajudar a diminuir as diferenças e tensões em sala de aula. Se professor e alunos tiverem acesso a essa prática, ainda que como atividade de extensão, certamente o resultado será positivo para todo o processo educacional - argumenta.



Apesar de muitas pessoas relacionarem a Yoga à religião ou à estética, Carla Almeida diz que sua prática está muito além.



- Sair de uma aula puxada, cansativa e, em seguida, ter alguns minutos para trabalhar a consciência corporal pode ajudar expandir o potencial criativo e melhorar o convívio entre os colegas. É uma forma de trabalhar o equilíbrio físico, psicológico e emocional em um momento em que a mente está em plena atividade. È importante que a escola vise não somente o conhecimento teórico, mas também o empírico - completa.



A agente de marketing Núbia Castro diz que o diferencial de um profissional hoje é sua capacidade em lidar com as emoções, de manter o controle, de se relacionar com as pessoas e do auto-conhecimento.



- Sempre pratiquei Yoga, estive na Índia e fui fundo na pesquisa sobre seus benefícios na prática. Se todas as pessoas tivessem acesso a suas técnicas, certamente as relações entre elas seriam mais equilibradas. Se a academia puder oferecer seus ensinamentos, com certeza, o profissional sairá melhor preparado para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e da vida de um modo geral, porque, mais importante que dominar a técnica e a teoria da profissão escolhida, é dominar as emoções e a si mesmo - conclui.



MEDITAÇÃO BASEADA NA CONSCIÊNCIA



Alunos da rede Soebras vão vivenciar uma nova experiência, com a proposta de inclusão de técnicas de meditação no currículo escolar, com o objetivo despertar e estimular o conhecimento.



Segundo o presidente de honra da rede Soebras, professor Ruy Adriano Borges Muniz, que experimentou a técnica em viagem à Holanda, a experiência será enriquecedora.



- As pessoas usam uma pequena parte de sua capacidade cerebral e a técnica de meditação transcendental aumenta a concentração, estimula o raciocínio e, consequentemente, potencializa o conhecimento. Nossas escolas sempre buscaram instigar o interesse dos alunos pela pesquisa de forma a desenvolver suas potencialidades e aflorar suas vocações e valores inerentes. Com as técnicas de meditação esse objetivo poderá ser alcançado com mais facilidade, pois os alunos vão estar mais concentrados e com pensamento e atenção mais direcionados - explica o professor que diz que depois de experimentar as técnicas, viu que é possível utilizar o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos em uma escala muito maior, aplicando-o na vida prática.



Nos 108 países onde as técnicas do Maharishi são desenvolvidas, foram construídas novas escolas ou adaptadas salas em escolas tradicionais. A técnica que será desenvolvida na rede Soebras é pioneira no Brasil. Segundo Ruy Muniz, o Maharishi presenteou a Soebras com uma construção em vidro e mármore que já está no Brasil, sendo desembaraça no porto de Santos, que será instalada na Transit, campus da rede no bairro Amazonas. A expectativa é de que o prédio seja instalado e as aulas comecem ainda neste ano.

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