Eliminar a desigualdade de gênero
na educação está entre os oito
objetivos estabelecidos pela ONU
para o desenvolvimento do milênio
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Desde o período de colonização, o Brasil foi concebido para funcionar como uma máquina de gerar lucros, e quaisquer valores morais ou de outra ordem que pudessem rivalizar com esse propósito foram colocados à margem. A produção de mercadorias teve um valor tão marcante que o país foi batizado em razão da principal mercadoria que dele era extraída: o pau-brasil.
Apesar do histórico de exclusão que marca a mulher brasileira, sua participação no desenvolvimento da sociedade tem avançado. Uma de suas maiores conquistas é, sem dúvida, o acesso à educação
As conseqüências dessa falta de valores e ideais foram tão graves que, até hoje, exercem influência sobre a sociedade brasileira. Culturalmente, não se reconhece a igualdade de direitos fundamentais e o complexo sistema administrativo não cumpre a tarefa elementar de reduzir - e extinguir - essas diferenças; ao contrário, as leis por ele próprio criadas são fincadas no preconceito, discriminação e parcialidade.
Nesse cenário, além das classes menos favorecidas, historicamente, as mulheres também foram excluídas, o que deu origem a muitos males que ainda hoje afetam a sociedade como um todo.
Se em muitos países a discriminação costuma ser fundamentada em discursos teológicos, morais e até científicos, no Brasil, está calcada em carências - de educação, moralização, e, talvez, até mesmo de religião.
Desde o século XIX, com a difusão do conhecimento, o aumento do acesso à informação e a modernização da sociedade, importantes mudanças vêm ocorrendo, impulsionando estudos e análises que possam mostrar o real panorama social mundial e as possíveis soluções para reduzir as desigualdades.
Entre os oito objetivos estabelecidos pela ONU - Organização das Nações Unidas para o desenvolvimento do milênio, está incluída a eliminação da desigualdade de gênero na educação nos dois níveis de ensino (equivalentes ao fundamental e ao médio no Brasil), com a proposta de eliminar a disparidade entre os sexos no ensino primário e secundário, se possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, a mais tardar até 2015.
Terceiro item prioritário da meta, de acordo com dados da Divisão de Estatísticas das Nações Unidas, atualizados até 2005, a eliminação da desigualdade de gênero na educação foi atingida apenas por 24 dos 141 países e territórios. Em 117 nações, a proporção de meninos matriculados no ensino primário e secundário era maior que a de meninas - já descontadas eventuais diferenças no número de homens e mulheres na população.
A maioria dos países e territórios que a alcançou fica na América (Bahamas, Barbados, Bermudas, Equador, Honduras, Jamaica, Montserrat, Peru e Suriname), na Ásia (Armênia, Geórgia, Brunei, Cingapura, Japão, Mongólia), na Europa (Luxemburgo, Suécia, Dinamarca e Noruega) e na Oceania (Kiribati, Samoa e Nova Zelândia) e na África (Lesoto e Namíbia).
NO BRASIL
Os dados relativos ao Brasil divulgados pela ONU para os Objetivos do Milênio são relativos a 2004 e apontam que o país cumpriu a meta para o ensino médio, mas não para o fundamental. Pelos números, a razão entre mulheres e homens era de 0,93 - ou seja, havia 7% a menos de alunas do que de alunos. Já no ensino médio, a razão é 1,1 (10% a mais de mulheres).
Mas os dados do PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2005, indicam que a proporção de mulheres que freqüentam a escola é maior que a dos homens em todos os níveis de ensino, inclusive superior.
O PNAD usa a razão entre as taxas de freqüência escolar de mulheres e homens e, em 2005, os dados indicam que a razão era de 1,006 no ensino fundamental, 1,231 no ensino médio, e 1,308 no superior.
De acordo com a assistente do programa Unifem - Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher, Nina Madsen, no Brasil não só existe a paridade de gênero como as mulheres apresentam melhor desempenho e freqüência. Conforme informações da Unifem, segundo a assistente, a discussão agora tem que ser a qualidade da escola, a formulação de conteúdos e dos parâmetros didáticos, a formação dos professores e do próprio sistema educacional.
Pela avaliação da ONU, em alguns países, tanto no ensino primário como no secundário, as mulheres já freqüentam mais as aulas, o que também é uma questão de gênero, e é preciso analisar porque os meninos estão saindo da saindo da escola.
De acordo com o IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a razão pode ser atribuída ao fato de os meninos, por assumirem responsabilidades mais cedo, terem que ter renda e trabalho antes que as meninas.
A busca pela educação é uma forma de conquistar o espaço que lhe é de direito, mas, mesmo tendo um maior índice de freqüência escolar, na prática, de acordo com recentes pesquisas, o mercado de trabalho ainda é mais favorável e remunera melhor os homens. (Com informações do PNUD).
