Jerúsia Arruda


Repórter


onorte@onorte.net

Uma bola. Vinte e dois atletas em campo. Estádios lotados. O planeta ligado no espetáculo esportivo que une nações e supera desigualdades. Na copa do mundo, futebol é assim.

São 32 países dos cinco continentes, entrelaçando raças, culturas, idiomas, formando um mosaico amplo, onde a regra primeira é o culto ao esporte que desperta paixões.

Na copa do mundo a humanidade vive um momento raro,


onde nações se unem, superando as diferenças


(foto: divulgação)

Embora o conjunto de regras, o cenário, a competição e o ritual sejam característicos e velhos conhecidos, o espetáculo  não é apenas esportivo. É um momento em que o planeta se integra, que os povos  se aproximam, vencendo a barreira das diferenças, superando preconceitos.

Se para vencer no jogo é preciso fazer gol, participar da competição já é uma vitória. Não do atleta, da seleção, ou mesmo do país. Mas uma vitória da humanidade, que vive um momento raro, especial, onde a única arma empunhada é a tinta colorida na cara, a bandeira e o hino nacional. Um momento em que se dá um abraço no companheiro de arquibancada, sem se importar de que país vem, se comunga ideologias, a que religião pertence. Um momento onde, ao final de cada partida, atletas trocam camisas, apertos de mão, abraços e sorrisos, orgulhosos por participar da festa e compartilhar culturas.

Cada nação tem um modo próprio de jogar e de torcer, resultado de sua história e de sua cultura, e da interação com as outras histórias e culturas. E ninguém estranha quando um ex-colonizado abraça seu antigo colonizador. Quando velhos inimigos de guerra comemoram juntos a alegria do gol. Normal é ver equipe compostas só de loiros jogando com outra só de negros, asiáticos e americanos, arianos e judeus, todos compartilhando o retângulo numa  verde por quase duas horas, sem nenhuma expressão racista, sem ofensas.

ESPORTE COSMOPOLITA

O jogo de bola com os pés aportou em São Paulo na última década do século XIX, cerca de 30 anos após a instituição, na Inglaterra, do livro de regras que perdura até hoje. É um esporte tão cosmopolita que suas regras são aplicáveis há tanto tempo e em países e contextos tão diferentes e ainda assim, todos o entendem, como uma língua universal, levando nações  inteiras a deixar de ir ao trabalho ou acordam às 3 da madrugada só para ver o jogo.

FUTEBOL ARTE

O futebol chegou ao Brasil através de um jovem aristocrata inglês chamado Charles Miller e logo tornou-se, ao lado do cricket, o esporte predileto da elite branca, restrito aos clubes sociais. Assim teria continuado, se os descendentes de escravos e índios não tivessem identificado na brincadeira semelhanças com a sua cultura, danças,  lutas e todo movimento desconcertante de corpo, que permitia aos fracos perseguidos livrar-se de seus fortes perseguidores, enganando-os: a ginga.

Foram necessários menos de 20 anos para os mestiços se apropriarem do futebol inglês, mesclarem  movimentos, transformarem a ginga em drible e criarem o futebol arte, expressão com que o mundo consagra o modo brasileiro de jogar.

ENCURTANDO DISTÂNCIAS

O esporte mais  praticado e mais visto no mundo é  um fenômeno cultural que  revela em seus dribles o orgulho de um povo e sua afirmação, adquirindo uma dimensão que vai muito além de uma competição.

Se países pobres, como muitos africanos, desembolsam fortunas para participar do campeonato, a garantia de ter seu nome inserido no dia-a-dia de todo planeta, de tornar pública a situação de risco social em que vivem e chamar atenção do mundo para a realidade de seu povo justificam o investimento.

Na copa do mundo, o torcedor, atento ou desavisado, sempre terá a chance de conhecer melhor como vivem os cidadãos do mundo.

Compartilhar