Educação

Consciência negra e a escolaridade brasileira

Unimontes promove VI Semana da Consciência Negra (NEAB) e XI Seminário Discente Petcre com palestras e atividades até este sábado

Larissa Durães
Publicado em 25/11/2022 às 22:03.
Professora e jornalista Andreia Pereira (ARQUIVO PESSOAL)

Professora e jornalista Andreia Pereira (ARQUIVO PESSOAL)

Desde que foi sancionada em 2012, a Lei de Cotas determina que 50% das vagas em universidades e institutos federais sejam destinadas para pessoas que estudaram em escolas públicas, o que inclui muitos pardos e negros. Com isso, o crescimento do número de estudantes contemplados com essas ações afirmativas são destaque nos dez anos da legislação federal.

Em Montes Claros, o perfil dos estudantes da Unimontes é composto por aproximadamente 70% de acadêmicos pardos e pretos pertencentes as famílias que possuem renda entre um e meio a três salários mínimos.

Em razão disto, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Unimontes (NEAB) procura desenvolver ações no sentido de promover a igualdade racial. E aproveitando a festividade da comemoração sobre a Consciência Negra de 2022, o núcleo promove a VI Semana da Consciência Negra (Neab) e XI Seminário Discente Petcre, desde o dia 17, com várias palestras e atividades até este sábado (26).  

De forma sucinta, a coordenadora do Neab, professora Ângela Cristina Borges explica que em função da colonização, o brasileiro se afastou muito de quem ele realmente é, com uma visão de mundo europeia. 

“O problema é que essa visão de mundo, nos torna sempre reféns do capital da Europa e dos Estados Unidos, nos tornando dependentes. E a ideia é ter autonomia”. 

Para a coordenadora, essa autonomia passa pela identidade nacional, na qual temos raízes europeias, africanas e indígenas. E a escola brasileira continua insistindo em desconsiderar a contribuição dos negros no Brasil, lembrando disto apenas na abolição da escravidão e consciência negra.  
 
RACISMO ESTRUTURAL 
Para Cristina é preciso que a educação familiar seja ante racial, que a educação religiosa seja antiracial, e universidades e escolas sejam antiraciais, para que se possa combater o racismo estrutural. 

Coordenadora do Neab, professora Ângela Borges (ARQUIVO PESSOAL)

Coordenadora do Neab, professora Ângela Borges (ARQUIVO PESSOAL)

 “Mas uma educação antirracista ela é todos os dias, tem que acontecer diariamente. Isso vale também para os professores que não possuem uma formação antirracista”, destaca Cristina. 

Discutir o racismo para transformar

Andreia Pereira, professora e jornalista, convidada pelo Projeto Social Jabs, para falar para adolescentes e jovens no evento com a palestra: “Consciência Negra importa: da compreensão à resistência”, acredita que é importante discutir os temas da negritude para transformar o Brasil. 

“Porque é tendo conhecimento da história da escravidão do Brasil, de como o racismo se manifesta na sociedade que a gente vai conseguir transformar o país em uma sociedade que seja de fato justa, igualitária e com equidade para todas as pessoas, principalmente para as pessoas negras, que neste contexto do racismo estrutural são as vítimas”, ressalta. 

De acordo com Andreia, é necessário que crianças e jovens, tenham, cotidianamente, contato com essas temáticas. 

“A sociedade, principalmente a branca, acredita que é a pessoa negra que tem que estudar ou falar sobre essa temática e não, na verdade, o racismo, é um problema no contexto histórico brasileiro das pessoas brancas. Elas é que precisam estudar a temática, estudar a história da escravidão, sobre racismo estrutural, estudar sobre as manifestações no Brasil até os dias de hoje. Pra que elas não cometam racismo”, afirma. 
 
PODER PÚBLICO
Contudo, Andreia destaca que esse é um tema que não interessa (muito) as pessoas brancas. Por isto, acredita que é responsabilidade do poder público assumir o racismo no país, principalmente o estrutural, já que a escravidão no Brasil foi uma política pública assumida pelo estado.  

Tanto para a coordenadora do Neab, como para a professora Andreia, é importante e fundamental que no ensino brasileiro seja inserido uma disciplina para contar de forma mais justa e aprofundada a verdadeira história sobre os negros no Brasil.  

“Ter uma disciplina sobre isto nas escolas e universidades ajudaria o povo brasileiro a ter consciência de quem ele realmente é, diminuindo assim o racismo no Brasil”, declara. 

“Não existe outra forma, só a educação salva uma nação e cria nela uma consciência não racista”, finaliza Andreia.

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