A Confederação das Mulheres do Brasil institui sede em Montes Claros. A primeira iniciativa é a criação de associação de mulheres
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Fundada em 1981, com o propósito de fomentar a discussão sobre a luta da mulher pelos seus direitos e estimular sua participação na redemocratização do país, a Conferência das Mulheres do Brasil (CMB) tem desempenhado, desde então, um importante papel nas conquistas das mulheres brasileiras, entre elas o de se organizar para ter voz, lutar e conquistar direitos também básicos como o de votar; de contribuir com os debates internacionais, e participar de iniciativas pioneiras em questões de interesse no plano internacional.
Marta Alexandre,
diretora da CMB em Minas Gerais
(foto: Adriana Queiroz)
Buscando ampliar sua atuação, que hoje se estende do Rio Grande do Sul à Amazônia, a Conferência chega a Montes Claros para instalar uma base de representação, que começa a funcionar a partir do próximo mês de junho, com o projeto de alfabetização de adultos, que vai atender, logo no início, cerca de 1200 estudantes.
Segundo a diretora da CMB em Minas Gerias, a assistente social Marta Alexandre, a iniciativa vai envolver principalmente estudantes da comunidade carente.
- Para esse primeiro período, que vai de junho a dezembro, já foram cadastrados 1200 alunos. O projeto é subsidiado pelo ministério da Educação, que financia o salário dos professores, e a CMB mobiliza a sociedade para operacionalizar o programa, de forma que possa arrecadar recursos para compra do material didático, firmar parceria com instituições educacionais para manter o local onde serão instaladas as salas de aula e credenciamento de voluntários – explica a diretora.
Em Montes Claros, as salas de aula serão oferecidas pela rede Soebras, que também firmou parceria com a OMB para que os acadêmicos possam trabalhar como voluntários e a experiência lhes como atividades complementares, monitoria e estágio.
Segundo Marta, no mesmo período também será desenvolvido em Montes Claros o programa de combate à dengue.
- Foram selecionados 25 monitoras, que coordenam uma equipe de 15 agentes cada. O objetivo é promover um trabalho de conscientização da população de que sua participação é fundamental no combate do mosquito Aedes aegypti, e na erradicação da doença – explica.
Segundo Marta, apenas as monitoras terão remuneração e os agentes serão todos voluntários.
- Por isso convidamos homens e mulheres para se juntarem a nós nessa causa - conclama.
CONFEDERAÇÃO
Marta conta que desde 1981 a CMB vem mobilizando as mulheres de todo Brasil para se organizar e criar representação.
- A CMB iniciou seu processo de fundação em 1981, que culminou em 1988 durante um congresso no palácio das convenções do Anhembi, com presença de 5.000 representantes de todo país. Mas desde 1981 representantes das federações estaduais já contribuíam com os debates internacionais e participava da FDIM (Federação Democrática Internacional de Mulheres), e as brasileiras assumiram relevante responsabilidades no plano internacional – conta Marta.
Segundo a diretora, desde sua criação, a Confederação vem incentivando a formação de associações femininas municipais fomentando a discussão sobre a luta da mulher pelos seus direitos nos sindicatos, no parlamento, nas sociedades amigos de bairro e nas organizações empresariais.
Marta, 45 anos, atua no movimento em prol das mulheres há 34 anos e participa da CMB desde foi fundada. Segundo ela, as importantes conquistas da CMB estão alicerçadas, também, nas discussões e decisões da FDIM, que acontece há 62 anos de quatro em quatro anos, e vem contribuindo de forma significativa na luta pela igualdade dos direitos da mulher e dos povos.
- Nosso trabalho é a defesa da mulher, mas isso não que dizer que é contra os homens. Acreditamos na igualdade de diretos e oportunidades para todos, homens e mulheres, por isso, mesmo tendo a mulher como centro, nosso objetivo é mais oportunidades na vida econômica, política, cultural, social e familiar, a soberania, o desenvolvimento, a paz, um mundo mais justo, mais fraterno e igualitário – argumenta.
Neste ano, a FDIM aconteceu de 8 e 14 de abril em Caracas, na Venezuela, reunindo cerca de mil delegadas e convidadas vindas de 91 países.
A delegação brasileira contou com uma montes-clarense, a pedagoga, mestre em educação, Cássia Aparecida Soares de Silveira.
- Foi uma experiência ímpar, onde pudemos debater sobre questões primordiais para a estabilidade social do planeta. O mais interessante é saber que naquele momento estão reunidas representantes do mundo inteiro, todas imbuídas da mesma vontade, que é de tornar o mundo melhor para se viver. Saí de lá convicta de que todos nós, independente do espaço social que ocupamos, do trabalho que exercemos, podemos contribuir para que isso aconteça de fato – diz Cássia.
Sob a égide do tema Por um mundo de Paz - Mujeres en Lucha, a programação incluiu a realização de 10 grupos de trabalho, que abordaram os temas Impactos do neoliberalismo na vida das mulheres; A luta contra o terrorismo de Estado e pela independência nacional; as mulheres; O poder e a tomada de decisão política; Feminismo e a questão de gênero; além de questões relativas a trabalho, saúde, educação e violência contra a mulher. Mas, como em todos os outros encontros, o grande fator de unificação foi a solidariedade na luta antiimperialista e pela paz mundial.
- O mundo mudou e nem sempre para o bem, mas o trabalho que nós mulheres estamos realizando, através das confederações, federações, associações e grupos, por menores que sejam tem sido determinante para o equilíbrio da sociedade. Ainda há muito que fazer, mas se continuarmos seguindo o caminho que escolhemos e contarmos com a participação da comunidade, os bons resultados hão de vir, sempre. Essa é nossa luta e nossa esperança – argumenta a assistente social.
PROGRAMA EM MONTES CLAROS
Segundo Marta Alexandre, a partir da próxima semana a CMB inaugura uma representação em Montes Claros e, também, cria uma associação formada por mulheres da cidade e região.
- Os programas de alfabetização de adultos e de combate à dengue começam no mês de junho, e a partir do momento em que associação for efetivamente criada e tiver endereço confirmado, as pessoas podem se inscrever para participar do próximo período dos programas e, também, como voluntárias na alfabetização e como agentes de saúde – conclui.