O I Fórum de Educação e Cinema, que acontece dentro da programação do I Festival de Cinema de Montes Claros, discute as perspectivas didáticas proporcionadas pela utilização do cinema como instrumento a serviço da educação.
Jerúsia Arruda
Repórter
Nesta quarta-feira, 10 de janeiro, começa o I Festival e Cinema de Montes Claros. A abertura oficial será às 20h30, quando o presidente da Associação Mineira de Cineastas, o professor, cineasta e produtor Geraldo Veloso apresenta os homenageados do Festival - Carlos Aberto Prates Correia, Alberto Graça, Maurício Gomes Leite, Vânia Catani, Paulo Henrique Souto, Edes Barbosa e Benjamim Ribeiro Sobrinho.
O professor e jornalista Elpídio Rocha fala sobre Cinema e Educação, suas perspectivas didáticas e abordagem prática, no segundo dia do Fórum (Foto:Wilson Medeiros)
Logo após tem exibição do documentário Aníbal, Um Carroceiro e seus Marujos (1980, 23 min.), do diretor Paulo Henrique Veloso Souto, e abertura da exposição Aspectos da História do Cinema em Montes Claros, com acervo de Benjamim Ribeiro Sobrinho.
Um dos pontos altos da programação é o I Fórum de Educação e Cinema, que acontece nos dias 11 e 12 de janeiro e que vai promover um debate sobre a história e evolução do cinema, buscando soluções para sua melhor utilização como instrumento na difusão do conhecimento nas escolas e faculdades de Montes Claros.
CINEMA E EDUCAÇÃO
Desde as primeiras décadas do século XX diversos setores sociais brasileiros, formados por educadores, cineastas, políticos, membros da igreja católica e de movimentos anarquistas, vêm promovendo uma intensa reflexão sobre o uso do cinema como instrumento a serviço da educação. Pelos instigantes debates registrados em publicações da imprensa diária e em revistas especializadas, anarquistas viam o cinema como arte revolucionária capaz promover a transformação social; educadores combatiam o que chamavam de cinema mercantil e propunham a criação do cinema educativo com benefícios pedagógicos, que mostrasse aos alunos de forma mais real os diversos aspectos da natureza e geografia do país; e a igreja que buscou o cinema para a promoção das questões éticas e morais e para difundir sua doutrina de forma mais compreensível – criando, inclusive, os Cineacs, salas de cinema nas paróquias e associações católicas, que tinham por objetivo apreciar os filmes segundo suas normas. Durante várias décadas, os filmes exibidos passaram por um censor, que fazia um corte nas cenas que continham elementos tidos como nocivos e desagregadores da nacionalidade, ou que atentassem contra a moral e bons costumes.
CINEMA COMO INSTRUMENTO
A possibilidade de tornar o cinema um instrumento pedagógico, doutrinário ou de propaganda, independente da ideologia, foi considerada por países de todo o mundo, entre eles os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Canadá. Outros tentaram apoderar da linguagem audiovisual para exercício de poder, como fizeram a União Soviética, a Alemanha Nazista e a Itália Fascista, que criaram departamentos cinematográficos vinculados diretamente ao Estado.
Nesse período, principalmente na URSS, os cinemas educativo, científico e de animação passaram a ocupar um lugar privilegiado na agenda cultural, e o documentário, o chamado cinema para os camponeses ou documento-cinema, foi considerado essencial.
O uso do cinema como instrumento político e pedagógico fortaleceu o debate pela sua reformulação nos quatro cantos do mundo e, no Brasil, em 1936, deu origem ao Instituto Nacional de Cinema Educativo, dirigido por Roquette-Pinto, tendo como técnico o cineasta Humberto Mauro. No período de 1936 e 1964, o INCE realizou mais 357 filmes pedagógicos e científicos que mostraram a exuberância da natureza e o homem primitivo como marcas da nacionalidade brasileira, criando a imagem de um país exuberante.
FÓRUM
De acordo com o jornalista, crítico de cinema e um dos coordenadores do Festival, Elpídio Rocha o Fórum pretende ampliar o debate sobre o uso pedagógico do cinema.
- O processo ensino-aprendizagem vem se tornando cada vez mais multidisciplinar e a utilização de outras linguagens que completem o espaço e recursos convencionais se torna necessária. Para atender às novas exigências o processo educacional vem reformulando seus métodos e filosofia, cujos valores estão se adequando à nova realidade de forma a construir cidadãos capazes de participar e intervir na sua comunidade. E o cinema pode ser um importante instrumento se utilizado da maneira correta, entendendo por maneira correta como ilustração da teoria e não como entretenimento ou subterfúgio por falta de planejamento. Ao utilizar um filme que realmente ilustre o conteúdo ensinado, o professor, além de dinamizar o aprendizado, estimula o senso crítico e analítico e contribui para a ampliação da leitura de mundo do aluno. Também é importante que o aluno compreenda que a utilização do cinema é um subsídio a mais para a formação do seu conhecimento e tire o melhor proveito possível desse recurso – explica Elpídio.
Segundo o professor, que também é coordenador do curso de Jornalismo da rede Soebras, a maioria das 200 vagas para participação no Fórum foi preenchida por professores e acadêmicos, apesar do período de férias.
- O Fórum vai promover um debate sobre a evolução estética e histórica do cinema e as perspectivas didáticas que se abriram com ele, e a participação da escola nesse debate é fundamental para que todos possam entender como deve ser sua introdução na educação, as alianças que podem ser feitas com as diversas disciplinas e como lidar com as possíveis rejeições e conflitos com os educadores e agentes sociais que defendem concepções mais tradicionais nos espaços educativos. A proposta do Fórum parte de um dos pontos de consenso, que é a necessidade de melhorar a habilidade e conscientização de professores e alunos em lidar com esse instrumento na promoção do conhecimento. Os participantes do Fórum também terão a possibilidade de analisar os elementos da linguagem cinematográfica, as mensagens visuais, a construção de visões de mundo e do gosto estético a partir de interesses de mercado – completa o professor que diz que quanto mais atentos estivermos na apreciação de uma obra, melhor percebemos os pontos de vista do autor e seus valores políticos e éticos, o que facilita interpretá-la, julgá-la e, sem dúvida, extrairmos maior prazer estético.
- O processo ensino-
aprendizagem vem se tornando cada vez mais multidisciplinar e a utilização de outras
linguagens que completem o espaço e recursos convencionais se torna necessária. O cinema pode ser um importante instrumento se utilizado da maneira correta, entendendo por maneira
correta como ilustração da teoria e não como entretenimento ou subterfúgio por falta de planejamento. (Elpídio Rocha)
Elpídio diz que, da mesma forma que saber juntar as letras para formar palavras não significa saber interpretar um texto, olhar não significa saber ver, por isso é importante que os professores compreendam a construção da linguagem audiovisual, para que possam melhor utilizá-la em sala de aula.
TEMAS
Nesta quinta-feira, de 8h30 às 11h30, o tema em debate será Evolução Estética e Histórica do Cinema¸ conduzido por José Carlos Avelar (RJ) e, de 14h30 às 17h30, Evolução Estética e Histórica do Cinema Brasileiro, por Geraldo Veloso (BH). Na sexta-feira, de 8h30 às 11h30, Cinema e Educação – Perspectivas Didáticas e, de 14h30 às 17h30, Cinema e Educação - Abordagem Prática, por Elpídio Rocha (M.Claros)
O I Fórum de Educação e Cinema acontece nos dias 11 e 12 de janeiro, no auditório Cândido Canela do centro cultural Hermes de Paula.