O projeto da prefeitura Cinema Comentado, realizado através da Secretaria Municipal de Cultura, termina neste sábado, dia 24, a mostra de filmes da nouvelle vague, considerada a última escola de cinema, e que iria influenciar cineastas no mundo inteiro.
O Cinema Comentado acontece na Sala Geraldo Freire ao lado da Câmara Municipal, a partir das 18h, e é de graça. Após a exibição, tem bate-papo coordenado pelo jornalista e professor de Cinema, Elpídio Rocha.
A próxima mostra vai discutir o terror e os filmes de catástrofes. Irreversível é uma obra que incomoda: a primeira coisa que surge na tela são os créditos de encerramento, que vão gradualmente 'entortando' - o que cria uma forte sensação de desconforto no espectador. Além disso, durante boa parte do primeiro ato, a câmera parece girar incontrolavelmente, impedindo que vejamos claramente o que
está acontecendo.
Apesar de contar uma história bastante simples (mulher é estuprada e o namorado parte em busca de vingança), o filme se torna fascinante ao narrar a trama em cronologia inversa, ou seja: começando
no acerto de contas e terminando em um período anterior ao estupro. E o diretor Gaspar Noé é hábil ao ilustrar a confusão mental de seus protagonistas justamente através da movimentação alucinante de sua câmera.
Esteticamente, Irreversível é repleto de planos-seqüência (longas tomadas sem cortes) memoráveis - como aquele em que a câmera, inicialmente situada no banco dianteiro de um automóvel, parece sair do carro (que se encontra em alta velocidade) e focalizar os passageiros no banco traseiro, voltando a entrar pela janela dianteira momentos depois. No entanto, este longa não é apenas um prodígio técnico, já que o cineasta utiliza a trama para fazer curiosas indagações morais e sociais: a violência e suas causas, a busca por vingança, o conceito de prazer e a liberdade sexual são alguns temas apresentados pelo filme.
E, assim, o diretor tece comentários sobre o comportamento humano. Defendendo a cruel teoria de que o tempo destrói tudo, Irreversível realça a dimensão da tragédia de seus três protagonistas.
Para o ensaísta Miguel do Rosário, o filme de Noé merece uma atenção especial dos cineastas latinos porque é um filme de revolta, com uma estética agressiva, revolucionária. E, queiram os críticos ou não,tem lugar garantido no panteão dos grandes clássicos da história do cinema mundial.