Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Com jeito simples e carismático, suas histórias de palavras de improviso fazem brotar o riso frouxo. É impossível conversar com ele sem esquecer o mau-humor e os problemas. Radialista desde os 10 anos de idade, Cid Durães nasceu para contar histórias. Apresentador dos programas Manhã total, de 6h às 9h, de segunda-feira a sábado, na FM Itatiaia e Show de alegria – título escolhido através de concurso, por um ouvinte de Bocaiúva - de 16h às 18h, de segunda a sexta-feira, na rádio Terra AM, Cid encanta o público com seus doze personagens, que fazem de seu trabalho uma festa de humor e alegria.
Sua primeira experiência como locutor veio por acaso. Em 1985, trabalhava na 98 FM como operador, com os locutores Eduardo Brasil e Ricardo Nascimento. Foi bem na época de transição e as rádios queriam que os locutores fossem também operadores e o diretor colocou um microfone na técnica. Aí, uma noite faltou locutor e Cid então resolveu falar a hora.
- Numa timidez, num medo, tremi igual vara verde. E sem autorização do diretor. No outro dia ele mandou continuar, eu gostei e mandei ver – conta, saudoso.
No começo foi só assim, falando a hora. Cid diz que achava sua locução péssima e morria de vergonha. Em 1986, o diretor lhe deu um programa sertanejo que ninguém queria fazer e foi aí que se deslanchou. Para mudar um pouco a voz e fazer um trabalho diferente dos outros, Cid começou a criar personagens.
- Como eu tinha dificuldade de fazer uma locução normal, a coisa veio para compensar e funcionou - diz.
Cid diz ter se inspirado em Zefinha, personagem de um programa da rádio Globo, para criar seu primeiro personagem, o Chico Duca. Depois vieram Zezão, a velha Jovercina, Haroldinho e muitos outros. Na 98 FM, ficou durante 3 anos.
Depois foi para a rádio Educadora. Na AM, foi escalado para o final de semana onde ficou mais à vontade para criar e improvisar. Logo depois foi para a FM, onde atingiu o auge de sua carreira, conquistando o carinho e o reconhecimento do público.
- As pessoas começaram a gostar do meu trabalho, os personagens começaram a ficar mais interessantes. Me jogaram para fazer programas em horários mortos da rádio, horários que ninguém acreditava e que tiveram uma audiência fantástica que até hoje as pessoas comentam. Fiquei lá seis anos. Fiz AM, FM e fui premiado várias vezes por colunistas de jornais.
Como todo bom humorista, a timidez é uma companheira desse taurino, pai de Bruno de 16 anos e Paula Vitória, de 5. Ele diz que por causa dessas timidez, o desafio de fazer os personagens tornou-se ainda maior.
- Se tivesse mais alguém no estúdio comigo, por causa da timidez, talvez não tivesse desenvolvido meus persona-gens. Sempre preferi trabalhar sozinho, fico mais à vontade, me solto mais.
PERSONAGENS
Depois de dezenove anos de rádio, os personagens de Cid Durães continuam fazendo o mesmo sucesso do início de sua carreira.
- Somente um dos meus personagens foi inspirado em uma pessoa que fez parte da minha vida, que foi o Zezão. Os outros são produtos da minha imaginação somados à minha leitura de mundo. Minha grande fonte inspiradora foi a rádio Globo, principalmente o programa Maré mansa, grande sucesso do rádio na década de oitenta - conta Cid.
Com dois programas de públicos totalmente diferentes, Cid diz que em ambos a performance dos personagens é a mesma e que percebe uma boa aceitação. No programa Hora de alegria, na rádio Terra, o público é maior na zona rural e bairros de periferia, além das cidades vizinhas a Montes Claros. O Manhã total, na rádio Itatiaia, é uma mistura de sertanejo e popular e ouvido principalmente por jovens e adolescentes.
NAMORO COM A ELETRÔNICA
Por dez anos, Cid trabalhou no extinto estúdio de gravação Opus 4, onde desenvolveu uma relação de intimidade com equipamentos eletrônicos. A relação com o estúdio e com a eletrônica complementou o trabalho do locutor, pois criou uma sintonia maior com o equipamento.
- É na verdade um namoro que tenho com a eletrônica. Adoro desmanchar um aparelho até encontrar o defeito e montá-lo outra vez. E eu sempre fiz questão de ser o operador do meu programa, acho que cria uma interação maior e coisa flui com mais liberdade. E esse conhecimento extra me ajudou bastante - afirma Cid.
INSPIRAÇÕES E EXPERIÊNCIAS
Sobre as experiências com outros profissionais do rádio, Cid diz que Montes Claros tem verdadeiros dinossauros, como Sebastião Remígio, Shumann Procópio, Eduardo Brasil e muitos outros que ele conhece desde os áureos tempos da rádio Sociedade. Segundo ele, muito do seu trabalho se deve ao que aprendeu com estes profissionais.
- São muitos os que me inspiraram aqui em Montes Claros. Ricardo Nascimento, que hoje coordena a rede Itatiaia e Eduardo Brasil, por exemplo, foram os profissionais com quem comecei. Eu era o operador deles na 98 FM. Teve também o José Nardel, que tinha um espírito de liderança e uma competência inigualável, com quem aprendi muito e que me serviu até na vida pessoal. E tem os colegas que estão há menos tempo no rádio que sempre estão nos ensinado algo novo, a trabalhar melhor. Juntando todo mundo, a gente sempre aprende e se inspira com cada um. Eu diria até que a gente imita os bons até encontrar o jeito próprio de fazer.
Cid lamenta o fato de a classe não ser unida, de não ter um sindicato atuante, que reivin-dique. Para ele, essa falta de união tem tornado o profissional do rádio pouco valorizado, prin-cipalmente financeiramente fa-lando e que é preciso correr atrás para garantir o próprio espaço.
RECONTRATOS
O trabalho do radialista gera uma fantasia. E para Cid é importante manter a alegria e o bom-humor de seus perso-nagens para que possam cum-prir o seu papel, que além de informar, é o de promover o entretenimento. Segundo ele, é importante que todos os personagens que representa tragam as nuances da expe-riência por ele vivida enquanto criador, mas transformada em alegria, que é o que as pessoas buscam em seus programas.
Com projeto de em breve lançar as histórias e piadas do Chico Duca em CD, Cid Durães diz estar vivendo uma nova fase da vida, onde se propõe um recontrato, uma nova perspectiva. Para ele, é cada vez mais importante a profissão que escolheu e que vai, a partir de agora, buscar novos subsídios, como teatro e outras escolas, para que criador e obra possam crescer juntos.