O Papa Bento XVI chega em São Paulo na tarde desta quarta-feira para uma programação de cinco dias. Durante a visita o pontífice vai canonizar o primeiro santo brasileiro, Frei Galvão
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Nesta quarta-feira o papa Bento XVI chega ao Brasil com duas missões: participar da abertura da 5ª Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe (Celam), marcada para domingo, 13, em Aparecida, a 167 km de São Paulo, e celebrar a missa de canonização do Frei Galvão, na sexta-feira, 11, no Campo de Marte (SP).
As conferências episcopais sempre foram centradas na pessoa humana, sua dignidade e seus direitos à vida, centro de todas as discussões, inclusive políticas e econômicas. Na 5ª Conferência, de acordo informações divulgadas pelos organizadores, a presença do papa não tem caráter político, mas sim, pastoral, evangelizador.
Mas o pontífice também decidiu cumprir uma programação em São Paulo, onde aterrissa na tarde desta quarta-feira , e onde, fundamentalmente, cumpre sua agenda: encontro com os jovens no Pacaembu, e no dia 11 de maio, no Campo de Marte, preside a celebração eucarística que vai canonizar o beato Antônio de Sant’Anna Galvão, o primeiro santo brasileiro. Para a celebração é esperada a participação de 1 milhão ou mais de pessoas. No final de sua visita ao Brasil, Bento XVI vai à Aparecida para a abertura da Celam, principal razão de sua viagem.
CONFERÊNCIA
Esta é mais longa viagem do papa Bento XVI desde que assumiu o comando da Igreja católica, em abril de 2005.
Joseph Ratzinger se reúne no Santuário Nacional com cerca de 300 bispos e outros representantes da Igreja, vindos de todos os países americanos e alguns convidados da Europa, Ásia e África para fazer um diagnóstico das situações vividas pelos povos da América Latina e do Caribe e, evidentemente, da situação da Igreja.
Foi o próprio papa Bento XVI quem escolheu o tema da 5ª Conferência: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6), que será o fio condutor dos trabalhos e propostas. Durante a Conferência serão debatidos os novos desafios postos à missão evangelizadora da Igreja. Do encontro em Aparecida devem sair diretrizes para a ação da Igreja nos próximos anos no continente americano.
PESQUISA
Mesmo sendo considerada a maior nação católica do mundo, o Brasil hoje é bem diferente do visitado pela primeira vez pelo polonês Karol Wojtyla, em 1980. Não que o brasileiro seja menos católico, mas aumentaram as divergências da população com a cúpula da Igreja em relação a temas controversos, como o uso da camisinha, aborto e união civil entre homossexuais.
Segundo pesquisa encomendada por Carta Capital e TV Bandeirantes, 86% dos entrevistados defendem o uso da camisinha e, ao contrário das últimas manifestações do papa sobre o aborto, a maioria (51%) não o condena.
Na pesquisa, 65% se declararam católicos e 22% evangélicos. Outros 10% disseram não seguir nenhuma religião. O resultado confirma a tendência de perda de fiéis captada por medições do IBGE. Segundo a última verificação oficial do instituto, em 2000, 73% dos brasileiros se diziam católicos. Em 1980, eram 89%.
Pela pesquisa a Igreja também perdeu a força de recrutar novos padres. No início da década de 80, havia 13.888 seminaristas. No ano passado, esse número caiu praticamente pela metade, 7.889.
De acordo com o levantamento, o catolicismo também é outro. A Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base, que tinham um papel de destaque, perderam espaço para a Renovação Carismática – movimento com características conservadoras que surgiu após o Concílio Vaticano II (1962-1965) e abrigou muitos dos chamados padres cantores, como Antonio Maria e Marcelo Rossi, que conseguem reunir, em média, 20 mil seguidores a cada showmissa.
Segundo levantamento feito pelo Ceris - Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais, em 2004, o país tem 67,2% de católicos, 13,9% de evangélicos pentecostais (como Assembléia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus e Evangelho Quadrangular) e 4,1% de evangélicos históricos (Adventista do 7º Dia, Luterana e Batista). Entre os católicos que mudaram de religião nos últimos anos, o principal destino (58,9%) foi alguma das igrejas evangélicas pentecostais.
Já em outra pesquisa, divulgada na quarta-feira, 2 de maio, pela Fundação Getúlio Vargas a partir de dados do IBGE, a queda de mais de 20 pontos porcentuais no número de católicos de 1940 a 2000 foi interrompida, ainda que o período pesquisado seja curto demais para apontar qualquer tendência. De 2000 para 2003, mostra o levantamento, a população declaradamente católica passou de 73,89% para 73,79%.
RESULTADOS
Dias antes de encerrar ser mandato à frente à CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o cardeal Dom Geraldo Majella disse em entrevista a BBC Brasil que o programa de educação sexual do governo federal induz à promiscuidade, ao promover a distribuição de preservativos. Na entrevista, Dom Geraldo também criticou a iniciativa do ministro da Saúde, José Ramos Temporão, de promover um debate sobre o aborto, e disse que se houver um plebiscito para legalizar a prática, a Igreja fará uma grande campanha para incentivar os fiéis a votarem contra.
Certamente a visita de Bento XVI não trará solução imediata para essas questões. O que espera é que a 5ª Conferência Geral sirva para jogar luz sobre esses temas e abra caminho para uma solução onde prevaleça o bom-senso e, principalmente, a vida.