Neste mês de junho, o Cinema Comentado inicia a mostra Contracultura: O Barato no Cinema. O objetivo é apresentar filmes que tratam das drogas e dos viciados de forma abrangente: não apenas revelando as bad trips, mas também incorporando o humor e o sarcasmo às discussões. A programação se estrutura nos filmes Drugstore Cowboy, do americano Gus Van Sant, O Barato de Grace, do britânico Nigel Cole, Trainspotting, do escocês Danny Boyle, Vamos Nessa!, do americano Doug Liman.
Os filmes sobre viciados geralmente escolhem um entre dois caminhos: o da glamourização ou da degradação acompanhada de mensagem anti-drogas. Raro é ver uma obra que – alheia às lições de moral, à degradação humana ou ao brilho junkie pura e simplesmente – extrai do tema a possibilidade de um trabalho dramaticamente coeso, como é o caso de Drugstore Cowboy (1989).
DRUGSTORE COWBOY
Segundo longa de Gus Van Sant, começa com a narração off de Bob Hughes (Matt Dillon, no que talvez tenha sido seu melhor papel), que está sendo transportado numa ambulância. É o personagem principal se apresentando e iniciando a explicação de como chegou até ali: o salto para trás que sua narração propõe transporta o filme para um dia em que ele e seu bando roubam uma farmácia de forma eficientemente teatral. Àquela altura, o supersticioso Bob – líder daquilo que é uma espécie de família do barulho – já está calejado: tem um histórico de prisões e é bastante entendido acerca da farmacodinâmica das drogas que rouba, consome e vende.
ENREDO
Em sua trajetória tortuosa, Bob vive esbarrando nas autoridades – e embora sempre acabe dando um jeito de fugir delas, chega um momento em que decide que é hora de parar. Bob não muda de vida por ter sido invadido por culpa e má consciência: ele simplesmente acredita que sua sorte acabou, além de estar cansado de viver fugindo da polícia..
O surgimento de William S. Burroughs na pele de um velho padre viciado confere ao filme um ingrediente de luxo: o escritor não só interpreta muito bem o seu papel como personifica a presença da beat-generation como referência narrativa e estética para Van Sant. Outra referência estética importante é o surrealismo, presente principalmente nas cenas das alucinações de Bob.
O filme representa mais do que um estudo de personagem e uma obra que deixa o conteúdo se entranhar na sua composição visual sem exageros. É reconhecidamente um belo filme sobre um tema difícil.
O projeto Cinema Comentado acontece todos os sábados, às 18h30, Sala Geraldo Freire, ao lado da câmara municipal. A entrada é de graça.