Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Com o tema A arte popular de Lauro Nascimento, de 01 a 15 de junho, no hall do CCH, a Unimontes apresenta exposição do artista plástico montes-clarense Lauro Nascimento.
Em suas pinturas e desenhos Lauro registra o apelo do povo
e sua realidade cotidiana, sem muita preocupação
em seguir os cânones acadêmicos (foto: Wilson Medeiros)
Em 1962 ele cursava Direito na UnB (Universidade de Brasília), mas não se sentia satisfeito. Resolveu consultar uma psicóloga, que o aconselhou a fazer alguns testes vocacionais. Um dos testes consistia na tarefa de desenhar uma árvore. O desenho esboçado por Lauro fez com que a psicóloga o incentivasse a trocar a futura carreira jurídica por outra que lhe proporcionasse desenvolver os dons artísticos. Optou então por Arquitetura que oferecia nos primeiros anos, disciplinas preparatórias de artes.
Assim nascia o artista plástico Lauro Nascimento, que logo no início se deixou seduzir pelo novo ofício.
PRIMEIROS VÔOS
Com interesse aguçado pelas aulas sobre gravura em metal e em madeira, resolveu dedicar-se à xilogravura, elaborando o álbum O homem de Famaleal, que versava acerca do folclore de Montes Claros, inspirado em uma história narrada por Hermes de Paula. O álbum foi distribuído em vários países, com edição esgotada.
EM BUSCA DO SONHO
Quando o curso de Arquitetura começou a direcionar para o campo da simetria e do cálculo, o então aluno-artista se desinteressou, migrando para o curso de Pedagogia, mas sempre com as artes plásticas em vista. Em 1967, acabou se licenciando em Artes e a partir daí dedicou-se com mais intensidade à arte-educação - nessa época, mesmo sem ainda ter-se formado, Lauro já lecionava no centro integrado de ensino médio da UnB. Como professor, além da UnB, trabalhou na universidade federal da Paraíba e na Funarte - Fundação nacional de artes-, até se aposentar.
IDENTIFICAÇÃO
Lauro Nascimento nasceu em Montes Claros e foi criado numa casa próxima ao mercado, que ele chama de coração da cidade, pois na época não havia supermercados e praticamente toda a vida da cidade se movimentava ali – onde hoje se encontra o shopping popular. Sua arte faz uma representação desse universo.
- Era interessante observar as pessoas cantando e tocando violão, aquelas figuras toscas, e essas coisas nos faziam entender melhor o modo de vida do povo; daí minha arte se convergir para uma necessidade de representar os anseios populares. A academia só me ajudou a exercitar algumas técnicas, explica Lauro cujo currículo consta uma rápida passagem pelo teatro, onde exerceu as funções de ator, diretor e dramaturgo.
MANIFESTAÇÕES POPULARES NA ARTE
Em suas pinturas e desenhos Lauro registra o apelo do povo e sua realidade cotidiana, sem muita preocupação em seguir os cânones acadêmicos, apesar de seu interesse pela arte ter sido despertado na academia.
- Não comecei pintando, mas fazendo gravuras em madeira e isto tem muito a ver com as coisas da região norte-mineira, com a literatura de cordel praticada no Nordeste, com as figuras de mamulengos. São esses mesmos elementos que trabalho na pintura, explica Lauro, que em sua arte abusa das cores, com traços vivos, tonalidades fortes e alegres, traduzindo os elementos que compõem as grandes manifestações populares como bumba-meu-boi, festas de agosto e escolas de samba.
Lauro diz, ainda, que os participantes dessas festas são, em sua maioria, de origem humilde, que se vestem e se enfeitam de brilho e vigor, o que as torna uma arte de riqueza infinita.
ESTILO
Apesar de não se sentir à vontade para classificar sua produção, Lauro Nascimento apresenta uma forte influência da arte naïf, tendência que surgiu no século XIX com o pintor francês Henri Rousseau e que teria fornecido elementos para o surrealismo. Segundo ele, o naïf é uma arte despojada e, ao mesmo tempo, cheia de força, retratando aspectos primitivos, elementos presente em seu trabalho.
SINGULAR
Lauro acredita que a arte pode ser influenciada por escolas e técnicas, mas cada artista cria seu próprio universo, que é projetado através de sua obra.
- A arte, por ser uma forma de conhecimento intuitivo do mundo, jamais pode ser ensinada; o que podemos fazer é criar as condições para que a potencialidade e a criatividade humanas venham à tona.