Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Com um público de quase 500 pessoas por dia, 22 espetáculos e participação de 15 grupos, terminou ontem, 31, a 5ª Mostra de Teatro em Montes Claros, que começou no dia 10 de julho.
Outro grande sucesso da Mostra foi o espetáculo Vida sem preconceito – sentimento humano, apresentado pelo grupo de teatro do Graapa (foto: divulgação)
Segundo a coordenadora da Mostra e presidente da AARTET – Associação dos artistas e técnicos em diversão de Montes Claros, Terezinha Narciso a programação foi um sucesso.
- O público compareceu de forma surpreendente, os grupos apresentaram espetáculos mais elaborados, com melhor acabamento e mais profissionalismo. Na edição desse ano a Mostra superou nossas expectativas - comemora Terezinha, que diz que o círculo de oficinas realizado pela Fundação Clóvis Salgado do Palácio das Artes, alguns dias antes da Mostra contribuiu para o sucesso dos grupos.
O ator e diretor do grupo Bodoque de Pau Pereira, Ton Dié, que apresentou o espetáculo Escorial ou rei, seu bobo..., diz que o objetivo do grupo foi alcançado.
- Fazemos um trabalho profissional e diferenciado, mas acho louvável a participação dos grupos amadores na Mostra, pois contribuem para a formação de platéia - Analisa Ton que, apesar de não concordar com preço dos ingressos (R$ 1,99), diz entender a proposta da associação.
POPULARIZAÇÃO
A diretora do grupo Olho de Gato e professora de Teatro da Unimontes e do conservatório estadual de Música Lorenzo Fernandez, Mirian Walderez Oliva de Abreu diz que a participação do Olho de Gato foi muito enriquecedora.
- A Mostra representa uma forma de popularização do teatro que, em Montes Claros, é uma modalidade da arte que ainda está sendo alavancada. Também é uma oportunidade de revelar novos talentos. As oficinas foram muito enriquecedoras e acrescentou muito ao trabalho dos grupos e dos artistas, individualmente, principalmente nas questões da ética e da importância do teatro para a vida - diz a diretora do Olho de Gato que durante a Mostra apresentou os espetáculos Saltimbancos e Romão e Julião.
PRÊMIOS
Mirian Walderez diz que logo depois de apresentar os espetáculos na Mostra, o grupo Olho de Gato participou do VII Face – Festival de arte cênica de Conselheiro Lafayete, ao lado de grupos de todo o país, onde recebeu 6 indicações, conquistando o prêmio de melhor cenografia, figurino, sonoplastia e trilha sonora de espetáculo em espaço alternativo.
- Antes de sair de Montes Claros já nos sentíamos vitoriosos, pois pela primeira vez, recebemos apoio - da Funorte e da secretaria de Cultura – e graças a ele foi possível fazer a viagem. Foi a primeira vez que o grupo participou de um festival competitivo, a banca tinha critérios rigorosos e as 6 indicação já teriam sido uma grande vitória, mas conquistar os três prêmios foi para nós um estímulo para continuar nosso trabalho. – comemora Mirian que diz que as outras indicações foram para o prêmio de melhor atriz (Denise Amaral), melhor ator (Davidson Xavier) e melhor espetáculo em espaço alternativo.
NOVAS PROPOSTAS
A presidente da AARTET, Terezinha Narciso diz que depois da intensa programação a proposta da associação é continuar as discussões e exercícios iniciados na Mostra.
- Durante as oficinas e no seminário sobre produção cultural realizados no mês de junho, desenvolvemos exercícios técnicos como interpretação, expressão corporal e cênica, além de estudos e pesquisas sobre a profissionalização dos atores. Nossa meta é continuar essas atividades, aprofundando nas discussões através de reuniões que serão realizadas semanalmente – diz Terezinha, acrescentando que a partir do próximo ano, a Mostra será realizada no mês de janeiro e, em julho, acontecerá um festival com banca e premiação em diversas categorias.
AVALIAÇÃO
Apesar da boa avaliação da Mostra, Mirian Walderez diz que ainda falta muito para que evento se consolide.
- Primeiro, é preciso que a programação se estenda para outros espaços, não se limitando ao centro cultural, pois os 250 lugares disponíveis não suprem a demanda de público. No dia da apresentação de Saltimbacos, por exemplo, tivemos que fazer uma sessão extra porque tinham dezenas de crianças na fila que queriam assistir ao espetáculo. O musical tem a participação de muitas crianças e três sessões em uma só noite foi desgastante para o grupo. Se tivessem outros espaços o público poderia se dividir melhor e os grupos poderiam se alternar. Esse ano melhorou, mas é preciso mudar os critérios. É um ótimo espaço de pesquisa, mas o segmento tem que se organizar - avalia Mirian que diz que em Montes Claros faltam políticas públicas que favoreçam todas as linguagens da arte, de forma que os artistas possam se profissionalizar e apresentar o resultado de seu trabalho o ano inteiro e, no caso do teatro, não se limitar à Mostra, ou apresentações esporádicas financiadas pelo próprio grupo, sem retorno financeiro.
LEI MUNICIPAL
Mirian diz que é preciso fortalecer a associação e a classe se unir para que o teatro ganhe força e representatividade.
- Não vivemos só de comida. Precisamos alimentar nosso espírito com emoção. Para a arte sobreviver é preciso de apoio. O acesso às leis estadual e federal de incentivo à Cultura é muito difícil e no início do ano a secretaria municipal de Cultura realizou uma série de reuniões para instituir um conselho municipal de Artes, mas ninguém falou mais nada, não sabemos em que pé as coisas ficaram. Um conselho municipal nos ajudaria a conseguir recursos para continuar nosso trabalho. Precisamos do apoio da câmara de vereadores para retomar as negociações. Se não tivermos apoio jamais vamos conseguir conquistar nosso espaço – conclui.