TIN-TIN – Alaine Cristine Mota entrou para o universo das cervejas artesanais em 2019 e abriu a própria choperia (divulgação)
Os rumos do mercado de cerveja artesanal em Minas mudaram completamente nos últimos dois anos. O setor vinha crescendo em torno de 15% anualmente, entre 2015 e 2019, segundo estimativas do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (SindBebidas-MG).
Mas, já no início de 2020, o caso Backer – em janeiro, cervejas fabricadas pela empresa mineira intoxicaram 29 pessoas, causando dez mortes – e a pandemia da Covid-19 nocautearam o segmento.
De acordo com o sindicato, atualmente, as vendas da grande maioria das 220 cervejarias artesanais do Estado amargam queda entre 30% e 40%. Com esse cenário, a recuperação para os níveis pré-pandemia só deve vir mesmo em 2023.
“Nós vínhamos de um crescimento extraordinário, mas o início de 2020 foi de muito estrago para o setor”, diz Marco Falcone, vice-presidente do SindBebidas-MG e presidente da Federação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Febracerva).
“Nós tivemos o caso da Backer, que foi extremamente grave, logo depois as chuvas intensas, que atrapalharam a logística de abastecimento e produção, e a pandemia, que fechou completamente bares e restaurantes”, cita.
À época, bares e restaurantes eram os principais canais de vendas das cervejas artesanais. O SindBebidas-MG estima que as demandas destes locais caíram pela metade em função dos fechamentos e que 30% das cervejarias em Minas fecharam as portas por falta de caixa. Em relação aos empregos, a estimativa é a de que as cervejarias demitiram, em média, cinco funcionários em equipes de até 20 pessoas.
DEMISSÕES
Para evitar a falência, Normando Siqueira, proprietário da cervejaria Uaimii, com fábrica em Itabirito e maior parte dos consumidores em Belo Horizonte, dispensou dois funcionários e paralisou completamente a produção de 14 mil litros mensais de chope.
“Foi nossa estratégia de mercado. Paramos tudo e fomos para casa e só voltamos no primeiro semestre de 2021, com muitos empréstimos para pagar”, diz. A volta, no entanto, ainda não vingou.
“Nossas vendas são 80% em bares e restaurantes e as pessoas ainda não voltaram completamente a sair de casa como antes por temor pela nova variante da Covid-19. Tivemos um péssimo janeiro”, relata.
Segundo o empresário, as vendas em delivery e supermercados somam apenas 20% da clientela. “Para entrar no mercado de delivery, que já estava super cheio, seria necessário investir num cenário de insegurança. A estratégia foi não fazer mais dívidas”.
NO OLHO DO FURACÃO
Em Montes Claros, a Mut entrou em operação em plena pandemia, com a abertura da fábrica e de um bar em agosto de 2020. A proposta era oferecer um produto genuinamente montes-clarense, com qualidade no sabor e total segurança alimentar.
No entanto, além de a região ter uma cultura cervejeira recente, diz Cácio Xavier, um dos sócios do empreendimento, o impacto do caso Backer e da pandemia são considerados muito fortes. “Diria até cruéis”, afirma.
No entanto, ele acredita que a desconfiança após o episódio Backer está superado. “Acredito até que acabou virando uma oportunidade para jogar luzes sobre o processo produtivo”.
Já com relação à pandemia, Cácio diz que o impacto é terrível. “Não temos a segurança para investir, para planejar um futuro próximo. Claro, não perdemos a esperança e seguimos trabalhando”. O empresário está confiante de que o mercado está próximo de um momento melhor.
“Observamos que os clientes mais exigentes, que não abrem mão de uma cerveja de qualidade, estão se adaptando. Entendem que merecem beber melhor. É um cenário de oportunidades para o setor”, avalia.
Alaine Cristine Magalhães Mota começou no mundo das cervejas artesanais em 2019. Aproveitou que a mãe tinha bar em Januária e, com a ajuda do tio, Vicente de Paula Lopes Carneiro, começou a divulgar o trabalho. Na pandemia, apostou no delivery e fidelizou clientes. Há uma semana, abriu a própria choperia.