
O Brasil viu um salto no empreendedorismo em 2024, com 33,4% da população adulta tocando algum negócio — o maior índice em quatro anos, segundo o Monitor Global de Empreendedorismo (GEM 2024), realizado pelo Sebrae e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe). Isso significa cerca de 47 milhões de brasileiros empreendendo, formais ou não. Em Montes Claros, a tendência se confirma. A cidade tem 49.585 empresas ativas, sendo mais da metade MEIs. Nos dois primeiros meses de 2025, 2.516 novos negócios surgiram, enquanto 1.328 fecharam, mantendo um saldo positivo no cenário local.
Para a professora do departamento de Economia da Unimontes, Luciana Cordeiro, o avanço do empreendedorismo na região está diretamente ligado à dificuldade de inserção no mercado de trabalho formal. “No Norte de Minas, essa tendência é ainda mais forte devido à baixa absorção de mão de obra pelo mercado formal. Muitos empreendem por necessidade, buscando garantir sustento e independência financeira. Se há menos oportunidades de emprego formal, as pessoas recorrem ao empreendedorismo para sobreviver”, explica.
Os programas de microcrédito, como o Microcrédito Produtivo Orientado (MPO), são voltados para essa parcela da população, especialmente as mulheres cadastradas no Cadastro Único e beneficiárias do Bolsa Família. “Com acesso facilitado ao crédito, elas conseguem transformar sua capacidade criativa em negócios, seja vendendo bolos, salgados ou produtos artesanais. Esse tipo de política pública começa com a transferência de renda e se complementa com o acesso ao capital, criando um ciclo de desenvolvimento”, acrescenta Luciana.
Contudo, especialistas apontam que ainda há poucos incentivos governamentais para a consolidação de pequenos negócios. Segundo um estudo do Sebrae-MG, somente 42% dos novos empreendedores no estado permanecem no mercado após cinco anos de atividade.
A formalização continua sendo um desafio, especialmente em regiões menos industrializadas. “Os dados do IBGE não conseguem captar com precisão a realidade do Norte de Minas, mas, de modo geral, quanto mais pobre a região e menos desenvolvido o setor industrial, maior é a presença de trabalhadores autônomos. A renda precária faz com que muitos optem por atividades informais para complementar seus ganhos”, afirma Luciana.
O Brasil também se destaca pelo alto número de potenciais empreendedores, aqueles que ainda não empreendem, mas pretendem abrir um negócio nos próximos três anos. Esse grupo representa quase 50% da população adulta (entre 18 e 64 anos), totalizando 47 milhões de indivíduos. O país só perde para a Índia nesse quesito, onde 163 milhões de pessoas desejam empreender.
O desejo de empreender não se reflete somente nos números, mas também na realidade de quem busca uma alternativa ao mercado de trabalho formal. É o caso de Alberto Teixeira, formado em Engenharia de Produção há três anos, mas que encontra dificuldades em se estabelecer na área. “Não está fácil trabalhar na minha formação, então, estou pensando em abrir uma loja de consertos de celular e notebook. Quem sabe assim eu consiga garantir meu sustento”, diz com esperança.
*Com informações da Agência Sebrae