Orçamento pressionado

Inflação sobe em Montes Claros com pressão nos alimentos

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 10/09/2024 às 19:00.
A doméstica Eliene do Carmo Silva desabafou: “Com R$100 não se compra quase nada, só uma sacolinha. Não dá para nada.” (LARISSA DURÃES)

A doméstica Eliene do Carmo Silva desabafou: “Com R$100 não se compra quase nada, só uma sacolinha. Não dá para nada.” (LARISSA DURÃES)

A inflação em Montes Claros, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Unimontes, apresentou alta de 0,27% em agosto, levemente abaixo dos 0,33% registrados em julho. O acumulado no ano já chega a 4,75%, enquanto nos últimos 12 meses a inflação alcançou 6,62%. O grupo Alimentação, com grande impacto no orçamento familiar, teve aumento de 0,29%, pressionando o custo de vida, apesar da redução de 3,49% nos itens da Ração Essencial Mínima. A cesta básica registra alta de 4,24% no ano e 5,69% em 12 meses.

Conforme o estudo, dos sete grupos que compõem o IPC, dois apresentaram variação negativa: vestuário e educação e despesas pessoais, o que ajudou a reduzir o índice de inflação em agosto. A economista da Unimontes, Vânia Vilas Boas, atribui essa queda a fatores sazonais, como o aumento das temperaturas e a mudança de estação. “Diversos estabelecimentos promoveram liquidações para escoar os estoques de inverno, principalmente em itens como vestuário, calçados e produtos de cama, mesa e banho, o que contribuiu para a queda nos preços”, explicou.

O grupo alimentação, que apresentou uma alta de 0,29%, foi influenciado por quedas em produtos industrializados, como azeitonas e batata-palha, e alimentos in natura, como cebola e batata, que antes vinham pressionando os preços, como explicou a economista. Frutas como melão, manga, maracujá e abacaxi também registraram quedas, além de ovos e feijão, itens da chamada “elaboração primária”. A cesta básica, influenciada pela redução no preço do tomate, batata e banana-caturra, apresentou uma variação negativa de 3,49% no mês.

Apesar da queda em alguns preços, a economista alerta para os impactos da estiagem prolongada e das queimadas nas regiões produtoras. Segundo ela, esses eventos climáticos devem comprometer o abastecimento de alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras, com repercussões já esperadas para setembro. “Estamos enfrentando uma seca extrema, e as queimadas do final de agosto podem agravar ainda mais a situação, influenciando a elevação dos preços de alimentos que estavam em ligeira queda”, afirmou.

Outro ponto destacado por Vânia é o impacto das queimadas nas pastagens, afetando diretamente a produção de leite. “Estamos entrando no período de entressafra do leite, que normalmente já eleva os preços desses produtos. Com a perda das pastagens, o custo de produção aumenta, agravando os prejuízos tanto para as lavouras quanto para as pastagens, impactando diretamente o preço do leite”, explicou.

Vânia destacou que, apesar dos desafios, os preços da carne suína e de frango devem permanecer acessíveis devido à normalização da produção no sul do país, responsável por mais de 70% do fornecimento. “No entanto, produtos como feijão e açúcar, que estavam estáveis, podem aumentar devido à seca prolongada.” Ela também alertou para os efeitos da estiagem em polos produtores de frutas, como Jaíba. “O que pode elevar os preços de manga, banana e limão em Montes Claros nos próximos meses”, conclui. 
 
PREÇOS SEGUEM ALTOS
Fernanda de Oliveira, engenheira de alimentos, relatou que, apesar das compras recentes, não percebeu uma queda significativa nos preços em agosto em comparação a junho. Para ela, se houve alguma redução, foi de poucos centavos, o que não representa uma diferença relevante. Fernanda afirmou que os preços continuam altos para os moradores de Montes Claros, considerando que a renda média da população não é elevada. “Com certeza está salgado”, comentou. “E vai ficar mais caro, porque não está chovendo e nossa região aqui é seca. Tem que ter chuva para ter plantação”, frisa.

Para a doméstica Eliene do Carmo Silva, ao sair do supermercado, compartilhou sua frustração com os preços elevados dos produtos. “Está tudo alto, caro demais. A gente sai com R$ 100 e não compra quase nada, só uma sacolinha. Não dá para nada”, desabafou. Questionada sobre quais setores do mercado tiveram os maiores aumentos, ela respondeu que praticamente tudo está caro. “Frutas, verduras, carne, leite, pão, detergente… Está tudo caro, não tem nada barato. Só o leite já está R$ 4,78”, completou.

Sobre como escolher o que comprar, Eliene explica. “Saio pesquisando, mas está difícil. Esses produtos de limpeza, quase não uso, é mais arroz, feijão e carne, quando dá. Estamos sobrevivendo com a ajuda de Deus”, lamenta.

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