Contrastes financeiros

Inflação altera hábitos de consumo e divide opiniões sobre responsabilidades

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 22/04/2025 às 19:00.
A economista Paula Cares, da Unimontes, observa que, embora haja percepção de aumento, os índices mostram queda no custo dos alimentos. Já Maria Cristina Alves Barbosa, funcionária pública, nota os efeitos da inflação em seu dia a dia (Larissa Durães)
A economista Paula Cares, da Unimontes, observa que, embora haja percepção de aumento, os índices mostram queda no custo dos alimentos. Já Maria Cristina Alves Barbosa, funcionária pública, nota os efeitos da inflação em seu dia a dia (Larissa Durães)

Segundo uma pesquisa do Datafolha, 58% dos brasileiros reduziram a compra de alimentos devido à inflação — índice que chega a 67% entre os mais pobres. A alta de preços também levou 80% da população a mudar hábitos de consumo: 61% passaram a sair menos para comer fora, e muitos trocaram marcas por versões mais baratas. Um quarto dos entrevistados afirma ter menos comida do que o necessário em casa. A pesquisa ouviu 3.054 pessoas em 172 municípios, com margem de erro de dois pontos percentuais.

A inflação acumulada nos últimos 12 meses é de 5,48%, com destaque para o aumento no preço de itens como tomate (22,55%), ovos (13,13%) e café moído (8,14%). Especialistas ouvidos na pesquisa apontam fatores como clima, demanda internacional e problemas de produção como as principais causas da alta.

Para a funcionária pública de Montes Claros, Maria Cristina Alves Barbosa, os impactos da inflação são sentidos no cotidiano. Vivendo com mais duas pessoas, ela relata mudanças significativas na rotina da família. “Antes da pandemia, a gente comprava mais frutas, verduras, carne. A qualidade de vida era melhor. Hoje tudo aumentou, principalmente a carne.”

Ela conta que precisou cortar gastos. “Deixamos de fazer muitas coisas. Cortamos o lazer e substituímos a carne vermelha por opções mais baratas, como frango, ovo e peixe. Mudamos o tipo de produto, escolhemos marcas mais baratas e deixamos de sair, de ir ao bar, de comprar roupas.”

Sobre as causas da inflação, Maria Cristina acredita que a responsabilidade é compartilhada. “Não é culpa total do governo, mas ele tem uma parcela. Faltam incentivos, investimentos em saúde, educação e infraestrutura. Mas a culpa maior é do ser humano. A gente não respeita o meio ambiente e depois procura um culpado”, avalia. “E se chove demais em um lugar e no outro não chove nada, isso afeta a produção. A safra quebra e o produtor vende mais caro”, completa.
 
CONTRASTES ECONÔMICOS
A economista Paula Cares, chefe do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), pondera que, apesar da sensação de alta, os indicadores apontam recuo nos preços dos alimentos. “Existe uma percepção de que os preços estão subindo, mas isso é reforçado pela pressão das notícias e pelas previsões alarmistas do mercado financeiro. Eles erraram a maioria das projeções, mas acabam influenciando a opinião pública”, afirma.

Cares lembra que os dados oficiais evidenciam crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) — 3,4%, totalizando R$ 11,7 trilhões, aumento do emprego formal — 16,5% em 2024, e alta da renda da população mais pobre — 10,7% acima da inflação. “Apesar disso, a narrativa de crise continua sendo alimentada por analistas que não se baseiam nos fundamentos econômicos”, critica.

Ela também destaca que a comunicação falha do governo agrava o problema. “Este governo ainda é analógico, não sabe comunicar pelas redes sociais. Não consegue explicar o que está fazendo para conter os efeitos econômicos. E, quando comunica, comunica errado”, diz. Para a economista, a oposição se comunica de forma mais eficaz, influenciando a opinião pública.

Cares reforça a importância da participação consciente da população. “Cabe também à população entender que o governo precisa de governabilidade. E foi a própria população que elegeu os senadores e deputados que dificultam isso. Na hora de votar, é preciso levar isso em conta”.

Sobre o comportamento do consumidor, ela sugere mais atenção aos fatores externos que influenciam os preços. “Se o café que você costuma comprar está caro, entenda que há fatores internacionais envolvidos. É possível pressionar, por exemplo, o agronegócio para que parte da produção seja destinada ao mercado interno. Mas, de novo, isso exige governabilidade — com Senado e Câmara trabalhando juntos, com o mesmo objetivo”, conclui.

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