economia

Energia mais cara reacende debate sobre horário de verão

Médica adverte: horário social pode intensificar distúrbios de sono e questões de saúde mental

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 01/10/2024 às 19:00.
Médica Alexandra Santos Lopes explica que cientistas criticam o horário de verão por desregular a sincronização do organismo (LARISSA DURÃES)

Médica Alexandra Santos Lopes explica que cientistas criticam o horário de verão por desregular a sincronização do organismo (LARISSA DURÃES)

A partir desta terça-feira (1º), a conta de energia elétrica ficará mais cara com o acionamento da bandeira vermelha patamar 2, a mais alta do sistema tarifário da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), elevando o custo de 100 kWh consumidos de R$ 4,463 para R$ 7,877. Com a crise hídrica e o aumento dos preços de energia, o governo estuda o retorno do horário de verão, extinto em 2019, para evitar racionamentos. No entanto, cientistas de instituições como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Universidade de São Paulo (USP) se manifestaram contrários, alertando que os prejuízos à saúde podem superar os benefícios econômicos esperados.

Alexandra Santos Lopes, médica, explicou que os cientistas são contrários ao horário de verão porque ele desregula a sincronização do organismo, forçando uma readaptação ao novo horário social — “O ciclo circadiano regula o sono através da produção de melatonina, e quando o horário de verão é introduzido, ocorre uma mudança no padrão de sono, o que pode desregular o organismo, especialmente em pacientes que usam medicamentos para dormir”.

Para a médica, a adaptação ao horário de verão pode ser desafiadora e causar problemas de saúde. “Entre os efeitos negativos, estão distúrbios do sono, aumento de eventos cardiovasculares, transtornos mentais e mais acidentes de trânsito”. Ela destaca que o organismo precisa de tempo para se ajustar, o que pode agravar comorbidades como ansiedade, embora não se possa atribuir esses problemas exclusivamente à mudança no horário.

“Estamos habituados ao horário normal e o horário de verão altera esse padrão, afetando a qualidade do sono e da vida. Mesmo sendo uma mudança de apenas três meses, interfere no ritmo diário das pessoas, fazendo com que os dias pareçam mais curtos e as tarefas se acumulem, o que pode impactar a saúde”, alerta a médica.

Quem não gosta nada da ideia da volta do horário de verão é a aposentada Efigênia de Brito Silva. “Essa mudança me causa adoecimento, além de provocar sintomas como ansiedade e dificuldades para dormir. Para mim, a adaptação é difícil. Além de afetar a rotina familiar, especialmente a alimentação. Por isso, eu e minha família somos contrários à volta do horário de verão”, diz categórica.  

DEMANDAS ORÇAMENTÁRIAS
O economista Haroldo Rodrigues explicou que o horário de verão foi implementado no passado para economizar energia, ajustando os horários de maior demanda e aproveitando a luz natural — “Estudos recentes indicam que não há uma economia significativa de energia com o horário de verão, afirmando que, apesar de algumas defesas contrárias, a visão predominante é de que a medida não oferece os benefícios esperados”. 

Ele conta que o principal objetivo do horário de verão era deslocar o horário de pico de consumo, aproveitando melhor a luz natural. “Mas os hábitos da população mudaram e, hoje, a medida não tem o mesmo efeito. Hoje, a pessoa só adia o uso do chuveiro ou do ar-condicionado, e o consumo acaba sendo o mesmo.”

Outro ponto destacado por Haroldo é que, nas décadas de 1990 e 2000, o brasileiro era mais sensível aos preços de energia, e uma economia de 100 reais fazia diferença no orçamento familiar. “Hoje, embora esse valor ainda seja significativo para muitas famílias, ele não representa uma mudança drástica no comportamento de consumo da maioria”, acredita.

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