Desde a última sexta-feira (25), trabalhadores com carteira assinada podem trocar dívidas caras, como as do cartão de crédito e do Crédito Direto ao Consumidor (CDC), por empréstimos com juros mais baixos. Isso é possível graças ao programa Crédito do Trabalhador, que usa o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e os 100% da multa rescisória como garantia. A medida busca reduzir o endividamento das famílias e já está disponível em 70 bancos, embora ainda não possa ser acessada pela Carteira de Trabalho Digital.
O programa já movimentou R$ 8,2 bilhões, beneficiando quase 1,5 milhão de trabalhadores, com um valor médio de R$ 5.491,66 por contrato. A expectativa do governo é que parte dos R$ 120 bilhões em dívidas atuais migre para o novo modelo, proporcionando alívio financeiro, especialmente para quem enfrenta juros elevados de 7% a 8% no CDC.
A troca deve ser realizada até 21 de julho e envolve a contratação de um novo empréstimo para quitar o anterior, com a possibilidade de crédito adicional caso haja margem consignável. Trabalhadores ainda poderão optar pela portabilidade para outras instituições, o que deve ampliar a competitividade entre bancos. A gestão de todo o processo será feita pela Dataprev, com monitoramento do Ministério do Trabalho.
Embora a medida contemple apenas CDCs e consignados, quem tem dívidas de cartão de crédito ou cheque especial poderá contratar novos créditos para quitá-las, desde que renegocie antes, caso esteja negativado.
Para o engenheiro de produção Frederico de Souza, ao ouvir falar sobre a troca de juros altos por consignados com taxas menores, despertou o seu interesse. “Essas dívidas têm consumido boa parte do meu salário. Todo mês, uma fatia considerável vai só para pagar parcelas, e isso compromete o que eu poderia investir em outras coisas, como minha pós-graduação ou até mesmo uma reserva de emergência. Parece que estou sempre correndo atrás do prejuízo”.
Ele considera que teria mais tranquilidade financeira se conseguisse reduzir o valor das parcelas que paga atualmente. “Se eu conseguisse reduzir o valor das parcelas, já daria um alívio enorme. Só de pensar em respirar um pouco no orçamento, já me sinto mais tranquilo”.
Mas o que mais o deixa aliviado é poder renegociar com bancos. “Porque renegociar com banco é sempre um processo desgastante. É muita burocracia, as informações nem sempre são claras e, muitas vezes, o que é prometido na propaganda não acontece na prática. Além disso, fico receoso de cair em uma armadilha e acabar pagando mais do que antes. Contudo, Souza se diz otimista. “Acredito que no final vai dar certo”, conclui mais aliviado.
PODER DE NEGOCIAÇÃO
Para o economista Diogo Albuquerque, a iniciativa pode oferecer condições mais vantajosas, mas o trabalhador deve estar atento às demais opções disponíveis no mercado. “É importante comparar com outras possibilidades de crédito disponibilizadas”, alerta.
“É, na verdade, um risco. Nossa economia está muito aquecida, com o desemprego relativamente baixo. Mas, se a população entender a redução do custo do crédito como uma sinalização para se endividar ainda mais, isso pode resultar em uma bolha inflacionária e possível crise”, afirma o economista.
Ele ressalta ainda que o uso do FGTS como garantia pode se tornar um problema em caso de demissão. “O trabalhador pode ficar sem uma reserva financeira, aumentando sua vulnerabilidade.”
A ampliação da portabilidade de crédito também é vista como um fator relevante nesse contexto. Para o especialista, com a possibilidade de transferir dívidas para quem oferecer juros menores, os consumidores ganham poder de negociação, o que pode levar à redução geral das taxas de juros no mercado.” No entanto, ele pondera que essa dinâmica pode trazer riscos. “A redução dos juros pode também resultar em uma queda no spread bancário e ameaçar o sistema financeiro do país. Não acredito que o programa, isoladamente, tenha esse impacto, mas ele contribui para a fragilidade econômica.”
Para que programas como o Crédito do Trabalhador tenham efeitos positivos duradouros no combate à inadimplência, Albuquerque defende uma abordagem centrada na informação. “Liberdade e educação financeira. A única função do governo deveria ser informar a população. Qualquer intervenção pode causar efeitos adversos”, argumenta. Segundo ele, o caminho mais eficaz é o investimento em programas de orientação sobre finanças pessoais e uso consciente do crédito.
*Com informações da Agência Brasil