
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação de 0,11% em agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A redução foi puxada principalmente pelos setores de energia elétrica, alimentos e combustíveis, e já começa a ser percebida no dia a dia dos moradores de Montes Claros. No grupo Habitação, a conta de luz caiu 0,90% após redução média de 4,21% nas tarifas, reflexo do Bônus de Itaipu aplicado nas faturas do mês passado.
O morador José Carlos Almeida, de 47 anos, conta que percebeu a diferença na conta de luz no último mês. “Aqui em casa a conta vinha sempre acima de R$ 200, mas em agosto caiu quase R$ 20. Parece pouco, mas para quem tem família grande já ajuda bastante. Se a feira também continuar com preços mais em conta, dá para sentir um alívio no bolso”, disse.
A alimentação também apresentou alívio no orçamento das famílias, segundo o IBGE, com recuo nos preços de produtos básicos. O tomate ficou até 13% mais barato, a batata caiu quase 9% e a cebola recuou cerca de 8%.
No transporte, os combustíveis também registraram queda, como mostra a pesquisa, gasolina (-0,94%), etanol (-0,82%) e gás veicular (-1,27%). Segundo o empresário do ramo de combustíveis, Gustavo Xavier, Montes Claros mantém preços de combustíveis inferiores às médias estaduais e nacionais. “Já há um bom tempo temos essa vantagem, e o consumidor pode ficar feliz com isso. Quanto mais barato o combustível, mais a gente vende”, disse.
Apesar do recuo nos combustíveis, nem todos sentiram alívio no transporte. A estagiária Joyce Hellen Sena Macedo lembrou que a tarifa do transporte coletivo permanece em R$ 4,60 desde fevereiro, valor acima dos R$ 4,25 cobrados em 2024.
Em âmbito local, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) acompanha a tendência nacional de queda. De janeiro a agosto de 2025, o acumulado está em 4,14%, contra 4,75% no mesmo período do ano passado. Ainda assim, o índice já ultrapassa o teto da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Para a economista Vânia Vilas Bôas, a deflação pode representar aumento no poder de compra, mas os efeitos ainda são limitados. “Embora apresente queda, a preocupação é que nos oito primeiros meses já ultrapassamos o teto da meta. E, como os preços estão caindo mais lentamente do que subiram, o alívio ainda não chega expressivamente às famílias”, avaliou.
A especialista alerta que o cenário exige cautela, especialmente diante de fatores externos como o tarifaço. “Se a deflação vier acompanhada de recessão, podemos ter queda na renda da população e redução nas vendas do comércio local”, afirmou.
Como polo agropecuário e de serviços, Montes Claros pode sentir impactos da deflação sobre os preços das commodities e dos alimentos, reduzindo as margens de lucro dos produtores. “E a estiagem do período de entressafra entre agosto e outubro aumenta o risco de prejuízos nas colheitas e influência nos preços dos alimentos”, conclui a economista.