Levantamento do Sebrae Minas revela uma tendência de crescimento entre os microempreendedores individuais (MEIs) no estado. Conforme o estudo realizado em março deste ano, 87% dos entrevistados pretendem transformar seus negócios em micro ou pequenas empresas. A pesquisa também aponta que, para 74% dos MEIs, a atividade é a principal ou única fonte de renda.
A formalização do negócio surge, sobretudo, da busca por autonomia (25%) e do desejo de empreender (24%). Entre os atrativos estão a possibilidade de emissão de nota fiscal (37%) e o acesso a crédito (35%), embora 42% relatem dificuldades em conseguir financiamento. Somente 52% consideram que seus negócios geram lucro suficiente para cobrir as despesas pessoais, mas 64% afirmam buscar capacitação com frequência, principalmente por meio de vídeos e tutoriais.
Em Montes Claros, dados da Sala Mineira do Empreendedor apontam que, em 2025, a cidade contabiliza 49.585 empresas ativas. Desse total, 28.114 são MEIs e 21.471 estão distribuídas entre microempresas (ME), empresas de pequeno porte (EPP) e outras categorias. Para o economista Aroldo Rodrigues, a vocação empreendedora da cidade vem de longa data, ainda que, por muito tempo, tenha ocorrido na informalidade. “A atividade econômica na cidade sempre existiu de forma muito informal, com exemplos como pintores ou vendedores de salgados atuando sem registro. Essas pessoas começaram a ser estimuladas à formalização e, hoje, contam com o apoio de diversas instituições para isso”, explicou.
Segundo ele, a reforma trabalhista contribuiu para esse avanço ao flexibilizar as regras de contratação, permitindo, por exemplo, que empresas contratassem prestadores de serviço como pessoas jurídicas. Para Rodrigues, há também uma mudança cultural em curso, com mais pessoas buscando independência financeira. “Mesmo quem tem emprego formal procura atividades extras para complementar a renda, vendo no MEI uma opção segura e estruturada. As pessoas estão mesmo empreendendo por escolha”.
Apesar da tendência de crescimento, há desafios importantes para quem deseja evoluir além do MEI. Um dos principais, segundo o economista, é a necessidade de mudança de mentalidade. “O primeiro passo é entender que é preciso escalar o serviço. O MEI é limitado a uma estrutura muito pequena. Para crescer, o empreendedor precisa formatar o negócio de forma que ele não dependa somente de sua própria mão de obra.”
O apoio de instituições como o Sebrae tem sido fundamental nesse processo, ao auxiliar os empreendedores a enxergarem suas atividades como negócios estruturados, que exigem contabilidade, vendas e espaço adequado. A resistência à mudança, muitas vezes motivada pelo receio da carga tributária, ainda é comum. “Tem gente que não quer crescer porque acha que vai pagar mais imposto. Mas essa mentalidade não faz sentido, porque no Simples Nacional os percentuais são baixos e proporcionais ao faturamento.”
Rodrigues enfatiza que os ganhos proporcionais ao crescimento compensam a burocracia. “Se o empreendedor tiver uma equipe, mesmo que pequena, consegue manter o negócio funcionando mesmo se precisar se ausentar. Já quem trabalha sozinho fica mais vulnerável.”
O economista reforça a importância de conhecer o mercado, organizar as finanças, separar as contas pessoais das da empresa, desenvolver liderança e gestão e buscar apoio em serviços gratuitos.
INVESTIMENTOS
O empresário italiano Domenico Landi é um exemplo de quem vem colhendo os frutos da formalização e do crescimento planejado. Dono de uma padaria especializada em produtos italianos, ele destaca o potencial do mercado local. “Montes Claros está crescendo muito, está chegando muito investimento também de fora. Achamos uma praça muito vantajosa o mercado da cidade”, afirma.
No entanto, ele lembra que empreender em um novo país exige esforço redobrado. “Os desafios, quando você também vem de fora, são muito grandes. Para fazer amizades, abrir conta em banco, abrir portas. Também com os fornecedores. Quando ninguém te conhece, fica muito difícil conquistar confiança”.
Com o crescimento, ele deixou de ser MEI e passou a atuar como microempresa de pequeno porte, no modelo LTDA. “Já passamos do nível do micro. Vi vantagem, sim, principalmente para abrir outras portas, ganhar mais confiança dos fornecedores. Quando você vira microempresa, as pessoas confiam mais. É mais fácil conseguir boas ofertas para trabalhar e continuar crescendo”, afirma.