Michelle Tondineli
Repórter
O cantador de Alto Belo, Téo Azevedo, já está na produção de mais um CD, que novamente será gravado em São Paulo. É o nono cordel em homenagem aos 80 anos de música caipira no Brasil.
Teofilo de Azevedo Filho conta que sua carreira teve inicio na infância, quando tinha oito anos de idade, logo após o falecimento de seu pai, Teófilo Isidoro de Azevedo.
(foto: XU MEDEIROS)
Téo Azevedo: de Alto Belo para o mundo e do
mundo para Alto Belo...
- Minha mãe ficou sozinha com sete filhos, e nós acabamos nos mudando para Montes Claros. Herdei o dom do meu pai e, por isso, eu engraxava sapatos na praça do antigo mercadão (hoje Praça Dr. Carlos), com um jeito de engraxar diferente; costumava chamar os fregueses cantando e batendo nas escovas com um som - relembra.
Ele ainda fala que costumava chamar muito a atenção das pessoas. Desta forma, conheceu um camelô pernambucano que se chamava Antônio Salvino e que vendia remédios caseiros nas feiras.
- Ele me viu cantando e conversou comigo, querendo saber se eu não queria chamar os clientes para ele cantando calango. Como eu ainda era criança, ele foi na minha casa conversar com minha mãe. E começou a me pagar uma certa quantia por dia – diz.
Téo ainda conta que, aos 14 anos, separou-se de Salvino, passando a cantar sozinho nas praças de Belo Horizonte, enquanto aguardava para ser um soldado do exército brasileiro. Além disso, teve uma pequena experiência como boxeador, ganhando vários prêmios.
- Como eu não tinha nada a ver com o boxe, passei a me dedicar somente à música. Atingi a maioridade e servi ao exército brasileiro. Gravei vários discos, participei de várias bandas, e acabei indo para São Paulo - explica.
Em seus 40 anos de experiência como produtor, Téo já teve vários intérpretes de suas obras, como Luís Gonzaga, Sérgio Reis, Clemilda, Tião Carreiro, Zé Ramalho, Banda Cacau com Leite, Tonico e Tinoco, Zé Coco do Riachão, Caju e Castanha, Milionário e José Rico, Pimentinha, Rodrigo Azevedo e outros.
Também é autor de livros como Literatura popular do Norte de Minas, Cultura popular do Norte de Minas, A folia de Reis do Norte de Minas, Repente e folclore, Dicionário Catrumano, Versos de Peão de rodeio e outros.
NOVO PROJETO JÁ TEM APOIO DA SECRETARIA DE CULTURA DE SÃO PAULO
O ano de 2009 Téo explica que já começou realizando diversos shows pelo país, palestras em faculdades sobre cultura popular, explicando sobre pequi, literatura de cordel, em cursos como jornalismo, letras, sociologia, marketing e propaganda.
Téo revela que o seu projeto foi aprovado pela secretaria de estado do SP foi aprovado e passou por grande avaliação.
- Neste ano produzi um CD para a secretaria de Cultura do estado de São Paulo, sobre os 100 anos do Capitão Furtado, que é considerado o segundo maior caipirovoco do Brasil, e é sobrinho de Cornélio Pires - conta.
De acordo com Téo, Cornélio Pires foi o primeiro homem no Brasil a gravar música caipira em 1929, ele era um empreendedor e de uma vez gravou 72 discos de rotação, com 52 duplas na época.
- Um dos motivos que me levou a produzir este disco sobre ele é que sou um dos produtores que mais produziu raiz e está vivo ainda, e segundo porque eu tinha realizado algumas canções com o Capitão Furtado, justamente há 30 anos atrás. Assim, o disco é muito importante, pois tem grandes participações como Nenzita Barroco, fala.
Téo ainda conta que já gravou em sua vida, Sérgio Reis, Lorenzo e Dorival, Mocó do Paraíso, e que vai voltar gravando Amir Sater e mais a dupla Lei e Laura, em homenagem aos 80 anos da música caipira que esta fazendo este ano.
- E depois que este disco for lançado em setembro e outubro, ele vai ser lançado em rede comercial. Os primeiros mil exemplares são só para a mídia como um mostruário. Além disso, ate esse ano lancei 9 modelos de cordel, e estou com mais um para lançar que é a vida de Juscelino, com mais de 300 historias. Toda a vida dele, inclusive algumas coisas que não são contadas na historia, que eu pesquisei na região de diamantina, revela.
Segundo Téo, o cordel é um registro da história, o compositor tem que fazer os versos baseados na verdade.
- Tem hora que inventamos um pouquinho a mais ou a menos, mas só para aperfeiçoar nos versos e dar uma cara de cordel mesmo. O que eu crio é baseado no folclore, baseado na lenda, completa.
Ele conta que escreveu um cordel chamado o Homem que casou com a Mula. A história é um acontecimento na roça, e o homem tinha problema de cabeça, por isso nunca arrumava namorada.
- Ai um dia o homem estava andando na beira do rio, e do outro lado da cerca, tinha uma mula rinchou para ele, e foi ai que veio o pensamento de que a mula estava sorrindo. Ai ele começou cativando a mula e acabou se apaixonando por ela, querendo se casar com ela na igreja católica e o padre disse que esse acontecimento não seria possível. Passado um tempo ele encontrou um padre da igreja brasileira, o padre realizou o casamento no mato e teve uma égua e um cavalo como testemunha, depois ele foi viver com a mula, comenta sorrindo.
COMO SER AO MESMO TEMPO PRODUTOR, MÚSICO E COMPOSITOR
De acordo com Teó ele possui três lados musicais, o lado de produtor, de compositor e de cantador. O lado de produtor é aquele que gera todo o sustento da família.
- O produtor é contratado pela gravadora, para ele produzir qualquer som, Black, forró, MPB, rock, e a partir daquele momento, você é obrigado acompanhar todo o momento da música, definir que estilo de disco, e qual maestro e os músicos que vão tocar é obrigação, frisa.
Ele ainda revela que o cantor tem a obrigação de aprender o repertorio definido, e existe um professor de português para dar uma olhada na literatura e na fala.
- Se tiver problema o produtor deve continuar ate o fim. Eu sou um dos que mais produziu no país, diz.
Azevedo ainda completa que em toda a sua carreira como cantador ele menos realiza shows em Montes Claros, apresenta mais pelo país afora.
- Um último show foi em Jequitinhonha em campainha de Saulo Laranjeira, e agora vou tocar em Campo Formoso. E para representar meus shows, existe duas apresentações. Uma é na base da viola e outro no Forró Pé de Serra. Não sou um popular, mas sempre tenho alguma coisa, comenta.
Segundo Téo o seu lado de cantador, é representado através das suas palestras e shows realizados. Canta músicas de sua autoria, dificilmente declama outros autores.
- Já musiquei Castro Alves, na faculdade do São Francisco em SP, musiquei Luis de Paula e Cândido Canela, inclusive uma música dele, venceu o festival da Record em 78. Tenho mais de duas mil músicas gravadas mais simples, e de músicas mais importantes, devo ter produzido mais de 100 discos no norte de minas, argumenta.
E o terceiro e último lado de Téo, é o de compositor. Ele explica que quando sente a vontade de compor ele senta e escreve. Sem nenhuma demora ou sem preguiça.
- Eu vivo só de música a mais de 40 anos, aprendi a lidar com o povo, e sempre tive força de vontade. Por mais que viver de cultura popular no Brasil é difícil, para a pessoa navegar e sobreviver igual a mim tem que gostar, adorar e amar, porque achar que vai ficar rico, é ilusão. Eu componho, canto, faço tradução, e faço isso porque gosto, tiro meu pequeno sustento. É nós na fita, estamos ai na luta, declara.
Para mais informações sobre o Téo Azevedo basta ligar no (38) 3252–3049 ou (38) 8418–9169.