No próximo mês de agosto, os tambores voltam a ecoar, anunciando um novo tempo sagrado
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Durante cinco dias, de 15 a 19 de agosto, Montes Claros viveu momentos marcantes na sua história, com a realização das Festas de Agosto, que acontecem na cidade há mais de 160 anos.
Os ternos de catopês, marujos e caboclinhos, de vestes renovadas e novos integrantes – é surpreendente o número de crianças que participam dos festejos –, atraíram a atenção do público que acompanhou atento aos cortejos dos devotos que cantaram e dançaram pelas ruas do centro da cidade.
Segundo o coordenador da festa e presidente da Associação dos ternos de catopês, marujos e caboclinhos de Montes Claros, mestre João Pimenta dos Santos – o Mestre Zanza -, as Festas de Agosto em Montes Claros são diferentes de todas as cidades que já visitou.
- Em Montes Claros a festa reúne pessoas de todas as classes sociais, e todos querem ser festeiros. Tem setenta anos que participo da festa e na agenda tem nome de pessoas que querem ser os patronos para os próximos quarenta anos, no mínimo – ressalta ao catopê.
(foto: Wilson Medeiros)
Mesmo tendo passado por uma angioplastia preventiva dias antes do início da festa, Mestre Zanza conduziu os cortejos durante os cinco dias de festa e disse que está preparado para continuar seu trabalho até quando Deus lhe permitir.
- Essa promessa foi feita pelos meus antepassados e, enquanto Deus me der vida e saúde, vou cumprir – completa Mestre Zanza, que no dia 16 de agosto comemorou 74 anos de idade.
29º FESTIVAL
Paralelamente à programação religiosa, o 29º Festival Folclórico de Montes Claros reuniu um grande público em torno da Praça da Matriz, que assistiu a shows musicais, apresentação de grupos folclóricos, além de apreciar comidas, bebidas e artesanato em vários estilos, vendidos nas barraquinhas montadas no centro histórico, tendo como centro a Igreja da Matriz de Nossa Senhora e São José.
Em parceria com o conservatório estadual de Música Lorenzo Fernandez, o festival também promoveu oficinas de musicalização, com participação dos grupos Tambolelê, Suíte para os Orixás e Berimbrown, de Belo Horizonte.
O Encontro de Educação e Cultura Popular reuniu dezenas de educadores e agentes culturais em dois dias de palestras, que tiveram como tema Reinvenção solidária – pluralismo e diálogo entre culturas – promovendo um amplo debate sobre as possibilidades de se criar uma rede de cultura envolvendo as cidades norte-mineiras.
O secretário municipal de Cultura, João Carlos de Oliveira Rodrigues diz que o Festival Folclórico contribui para que as Festas de Agosto tenham um alcance ainda maior.
- Não somos nós que fazemos as Festas de Agosto, elas existem há anos, mas o festival tem sua importância. Muita gente pode até confundir, criticar, achar que o festival abafe ou sobreponha as festividades religiosas, mas, na verdade, acredito que elas estão cada vez mais fortalecidas por causa do Festival. Inclusive, a partir do próximo ano, passará a se chamar 30º Festival da Cultura Popular do Norte de Minas - ou 1º - porque não faz mais sentido pensarmos o festival como de Montes Claros, já que conta com a participação de toda a região – diz o secretário.
Entre as atrações do Festival, estiveram Tambolelê e Maurício Tizumba, Tianastácia, Tino Gomes, Suíte para os Orixás, Cláudio Mineiro, Marcelo Godoy, Juquita Queiroz, Pedro Moraes, Herberth Lincoln, Babilak Bah, Bruno e Fabiana, Gabriel Guedes, Mamour Ba, malacaxeta, Orquestra de Rabecas do Sertão, Eduardinho da Sanfona, Berimbrown, que se apresentaram no palco principal, além de dezenas de grupos folclóricos, que se apresentaram em um palco especial montado no centro da Praça da Matriz.
RECURSOS
Mesmo não contando com os recursos financeiros esperados, o secretário João Rodrigues diz que a festa desse ano foi estruturada para receber o público, que aumenta a cada ano.
- Como o Ministro Walfrido dos Mares Guia se transferiu para outro ministério (Relações Institucionais), não tivemos a parceria com o ministério do Turismo nesse ano. Mas, ao sair, o ministro nos deu a garantia de que a parceria viria através de um patrocínio da Petrobras, só teríamos que aprovar o projeto na Lei Rouanet para que a empresa pudesse fazer a renúncia fiscal e nos amparar. Com isso, pensamos um desenho magnífico para as festas. Mas a coisa foi andando e quando vimos que o benefício não sairia, pensamos em um plano B. Andei chutando algumas portas na prefeitura, para que abrissem um orçamento que disseram que eu não tinha. Na verdade, na festa dos 150 anos, a prefeitura me emprestou algum recurso, que depois eu paguei, porque muitas das atrações foram através de convênio, de patrocínio. Só que eles emprestaram e quando o recurso foi pago, caiu no caixa único da prefeitura. Então tive que forçar um pouco para garantir um mínimo.Também fui atrás de projetos incentivados, que só teriam custo de contrapartida, e conseguimos – completa.
ENCERRAMENTO
Além dos ternos de congado de Montes Claros, a festa contou com vários grupos de outras cidades mineiras, que participaram do Encontro de Ternos de Congado de Minas Gerais, que acontece na cidade desde 1991. Após a procissão de encerramento, que aconteceu na tarde do domingo, 19, os grupos se reuniram na Igrejinha do Rosário, onde assistiram à missa celebrada pelo padre João, coroaram reis, rainhas e imperadores e escolheram os mordomos da próxima festa. Os mastros em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Divino Espírito Santo foram descerrados e os devotos reiteram a promessa de voltar no ano seguinte para cumprir nova missão.