Réquiem para Hélio Guedes - por Eugênio Magno

Jornal O Norte
07/07/2008 às 10:22.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:37

Eugênio Magno


Comunicólogo

Quando a amiga Lícia me disse com a voz embargada que ligou para dar uma notícia ruim, algo me dizia que era sobre Patão. Logo imaginei que o pior teria acontecido. Mas teimando em não acreditar ainda perguntei lacônico: O que foi? Ao que ela me respondeu: Nosso amigo se foi. Eu disse: O Pato!? E ela confirmou: Sim, essa noite. Morreu dormindo. Emudecemos os dois.

Enquanto durou o silêncio lembrei-me que há poucos dias a mesma Lícia me comunicou a morte de outro amigo querido, Celso Leal, vítima do mesmo mal, o famigerado câncer. Em seguida comentamos que nesse 3 de julho, Montes Claros comemorava seu aniversário de 151 anos, e que a partir de agora, toda vez que formos comemorar o aniversário de Moc nos lembraremos também deste seu filho que de tantas formas homenageou a cidade. Provavelmente na hora do bolo e dos parabéns para a bisavó centenária, uma das velas não precisou ser soprada, pois já estava apagada aqui na terra. Mas no céu brilhava uma nova estrela iluminando a noite do sertão.

Hélio, filho de seu Godofredo e dona Júlia, irmão de Tê e Beto, tio de Gabriel e primo de Luiz (para citar aqueles  que cujos nomes me lembrei), ou simplesmente Pato ou Patão, como era tratado pelos seus convivas, honrou seu sobrenome. Foi um Guedes de boa estirpe e alegrou a todos nós que tivemos a satisfação de desfrutar de sua amizade. Patão era multimídia e de sua lavra brotou música, propaganda, design, marcas, camisetas, muitos quadros e uma prosa das mais animadas. Espero que em seus guardados sejam encontrados registros escritos das histórias que ele – sempre inspirado – narrava em incontáveis rodas de bate-papo.

Tenho certeza que na hora de sua passagem teve festa no céu e muita música, com direito a choro de pai.

Sentirei saudades suas, meu caro. E, apesar do lamento que ecoa em meus tímpanos como o aboio triste de um velho boiadeiro tangendo o gado no lusco-fusco do anoitecer, guardarei em meu peito apenas as lembranças de seu alumbramento, de sua obstinada luta contra a doença e sua voraz fome de viver. Além dos sons, em sua memória ficam muitas telas, em aquarelas de uma Montes Claros que não existe mais, exceto uma recordação distante... Reminiscências, nos corações dos seus filhos mais insanos e menos afeitos ao pragmatismo desenvolvimentista; saudosos de jaqueiras e buritizeiros, do footing da rua Doutor Santos, dos Brucutus e das horas dançantes na boate da Praça de Esportes.

P.S.: Patão, não pude estar aí para o seu funeral, mas vou mandar rezar uma missa pra você aqui em BH. Descanse em paz meu amigo.

* É montes-clarense de nascimento e de coração, amigo de Patão

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