Samuel Fagundes
Repórter
Em 14 de março é comemorado no Brasil o Dia Nacional da Poesia. A data foi escolhida para homenagear o escritor baiano Castro Alves, que foi um poeta romancista, autor de obras como Navio Negreiro e Espumas Flutuantes, e que nasceu nesta mesma data.
Em Montes Claros desde 2004 também há o Dia Municipal da Poesia, que geralmente marca a abertura do Psiu Poético, no dia 04 de outubro.
IMPORTÂNCIA
Para Dário Teixeira Cotrim, poeta, membro e diretor executivo da Academia Montesclarense de Letras e diretor da biblioteca publica municipal, a data é muito importante porque é uma forma de preservar e de se lembrar da arte da poesia, que já era usada inclusive como meio de comunicação.
(foto: SAMUEL FAGUNDES)
Dário Teixeira Cotrim; poeta, membro e diretor executivo da Academia Montesclarense de Letras e diretor da biblioteca publica municipal.
- Na verdade, antes mesmo da escrita, do sinal gráfico, já existia a poesia como forma de comunicação. Antigamente, quando você iria enviar um recado para alguém, você mandava esse recado em forma de poesia, que a pessoa decorava e chegava ao destino e dava o recado. Se fosse mandar esse mesmo recado em forma de prosa, a mensagem chegava deturpada, porque a pessoa acabava esquecendo partes do recado. Através dos tempos, muitos dos grandes livros foram escritos em forma de poesia, porque era mais fácil de ler e decorar. Com o tempo, a poesia passou a ser utilizada em forma de protesto, na época da revolução de 1964, as músicas e os poemas eram utilizados para esse fim. A poesia também é feita para se fazer uma declaração de amor, e hoje é uma forma de tudo isso e também de aprendizado, principalmente na língua portuguesa – diz Dário.
POESIA NO ENSINO
Dário ressalta que as escolas deveriam fazer, não só aqui em Montes Claros, como em qualquer lugar, uma maior valorização do poeta da terra. Ele afirma que ao levar um poeta a uma escola, só pelo fato dos alunos conhecerem esse poeta e seu trabalho, eles se sentem mais estimulados a ler e fazer poesia. Sendo então essa a melhor forma de estimular os alunos a lerem poesias.
Atualmente na secretaria municipal de Cultura, há um projeto com o nome Palavras e ideias, que será realizado no próximo dia 24 de março no Caic do Renascença. O objetivo é levar os escritores e poetas e fazer com que eles participem de reuniões em escolas, com estudantes e com a população em geral.
HISTÓRIA
Falando sobre o contexto histórico cultural de Montes Claros, Dário lembra que a cidade tem tradição em ter grandes poetas e grandes intérpretes, e justamente por isso a poesia em todas as suas vertentes vem se desenvolvendo cada vez mais.
- Montes Claros é a cidade da arte e da cultura. A poesia esta presente de todas as formas e tipos, desde as mais clássicas até as poesias livres. Se buscarmos um pouco no passado, pegarmos poemas de João Vale Mauricio, por exemplo, é fácil perceber a beleza das poesias dele; no cordel temos as poesias de Candido Canela, que também são muito bonitas. E dando sequência nisso chegamos a José Prudêncio de Macedo, Valdir de Pinho Veloso, Antonio Felix, Amelina Chaves, Vanderlino Arruda e por ai a fora. Então é muito perceptível que a poesia tanto clássica, como comum ou cordelista, se desenvolveu muito em Montes Claros – afirma Dário Cotrim.
ESCRITOR
Dario Teixeira Cotrim é natural de Guanambi, Bahia. Veio para Montes Claros em 1968. O escritor e poeta tem 16 livros publicados e entrou para a Academia Montesclarense de Letras em 1994. É também o fundador da Academia de Letras de Guanambi e atualmente escreve no jornal O NORTE.
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POÉTICA
Manoel Bandeira
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
- Não quero saber do lirismo que não é libertação.